Simpósio discute pressões de bancadas religiosas contra campanhas sobre Aids

12/03/2012 12:36

“Desafios para o controle da epidemia” foi o tema em debate nesta segunda-feira pela manhã

Num momento em que a propagação da Aids ganha novos contornos, atingindo camadas mais jovens e a terceira idade, a pressão das bancadas religiosas no Congresso Nacional contra campanhas governamentais de prevenção foi repudiada por todos os palestrantes da primeira etapa da programação do 2º Simpósio Nacional sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, que está sendo realizado no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, em Florianópolis. O debate sobre essa questão ganhou força a partir das intervenções da plateia, formada por profissionais envolvidos com o tratamento de portadores do vírus, vindos de diferentes estados do país, agentes de saúde, voluntários e estudantes. Na manhã desta segunda-feira, dia 12, o simpósio discutiu o tema “Desafios para o controle da epidemia”.

Polêmico, o assunto ganhou peso depois que o Ministério da Saúde tirou do Youtube um vídeo que promovia o uso de preservativos durante o carnaval, mostrando um casal homossexual trocando carícias. Outro episódio recente foi o veto da presidente Dilma Rousseff ao kit-gay, que seria distribuído nas escolas pelo Ministério da Educação. Também neste caso, segundo denúncias de ativistas homossexuais, a presidente teria tomado a decisão por pressão da bancada evangélica no Congresso Nacional.

Para o pesquisador Lúcio José Botelho, ex-reitor da UFSC e professor do Departamento de Saúde Pública da instituição, “é inadmissível discutir a doença do ponto de vista da religiosidade”. Ele qualificou a pressão dos evangélicos como “fundamentalismo anticientífico” e disse que a sociedade deve cobrar do Executivo uma postura a favor da conscientização, porque “é preciso ter uma visão mais aberta do tema”. Em sua fala, Botelho também fez um mea culpa dizendo que as universidades têm a tradição de “resolver mais os problemas da elite do que da sociedade em geral” e que os grupos de estudos sobre questões importantes como a Aids não dialogam entre si, gerando mais competição do que resultados práticos.

O deputado federal Chico D’Ângelo, presidente da Frente Parlamentar de DST/Aids, falou das atribuições do grupo que coordena na Câmara e ressaltou que, embora o Brasil seja referência e vanguarda no enfrentamento do tema, “é necessário dar um salto de qualidade, estimulando as assembleias legislativas estaduais a criarem frentes nos moldes da que existe no Congresso”. Quanto à bancada evangélica, D’Ângelo afirmou que ela representa parte da sociedade e, portanto, tem legitimidade para defender seus interesses, embora ele discorde de suas orientações.

Também tomou parte dos debates a representante do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa/SC), Helena Pires, que falou dos desafios enfrentados pelos movimentos sociais em relação à doença. Ele deu um depoimento sobre a trajetória da entidade que coordena e disse que “é importante cutucar o governo” para obter avanços no combate à disseminação da doença, que hoje vitima um número crescente de adolescentes. Helena também anunciou que no dia 16, sexta-feira, o Gapa reivindicará no Ministério Público que sejam concedidos passes de ônibus para as pessoas que precisam sair de casa para fazer tratamento contra a doença.

A programação da tarde desta segunda-feira prevê a realização de debate sobre o enfrentamento da epidemia de Aids no Brasil, a partir das 14h, também no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, com a presença de Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde, vinculado ao Ministério da Saúde.

Por Paulo Clovis Schmitz / Jornalista da Agecom

Para a imprensa, mais informações com o professor Luiz Alberto Peregrino, fone (48) 3721-8147 /lulaperegrino@cca.ufsc.br / lulaperegrino@yahoo.com.br

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