Pesquisadores da UFSC revelam segredos da vida marinha no atol das Rocas

30/06/2015 14:17

“Você já imaginou sentir a maré chegando e, junto com ela, o seu maior predador? Saber que em alguns momentos as correntes marinhas serão tão fortes, e o perigo de virar comida tão evidente, que a única coisa que você fará até que a maré volte a baixar é fugir e se esconder?” Assim é como os pesquisadores do Departamento de Ecologia e Zoologia (ECZ) do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descrevem os segredos da vida marinha no atol das Rocas, onde grandes predadores, como tubarões, ainda convivem com peixes menores.

O trabalho idealizado por Guilherme Ortigara Longo, durante sua tese de doutorado em Ecologia, analisou o comportamento dos organismos marinhos do local – o único atol do oceano Atlântico sul – e como os fatores externos, como a maré, o influenciam.

Publicado no periódico on-line PLOS ONE, o estudo reuniu outros 17 pesquisadores, que se envolveram diretamente em sua segunda elaboração. O projeto é parte da Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha, liderada por Sergio Ricardo Floeter, do ECZ/CCB/UFSC. A expedição que gerou o artigo durou 25 dias, em 2012 – depois da primeira visita, os pesquisadores já retornaram ao local pelo menos três vezes.

Cardume em piscina no atol. Foto: Renato Morais Araujo/UFSC

Cardume em piscina no atol. Foto: Renato Morais Araujo/UFSC

 

Segundo Renato Morais Araujo, um dos autores do artigo, o local, distante 230 km da costa nordeste do Brasil, é interessante para estudar a vida marinha devido ao seu distanciamento da costa. “O atol está isolado de muitos impactos da sociedade, o que faz dele um excelente modelo para que sejam estudados vários processos biológicos com uma influência reduzida do ser humano”, explica. “O atol das Rocas é um laboratório natural importantíssimo, que nos permite refletir sobre o efeito que podemos ter sobre os ecossistemas marinhos. Estudos comparativos podem permitir o desenvolvimento de estratégias de conservação mais efetivas, para que outros locais possam trazer a imagem que Rocas nos traz à mente: a de um paraíso protegido.”

Piscina aberta. Foto: Sérgio Ricardo Floeter/UFSC.

Piscina aberta. Foto: Sérgio Ricardo Floeter/UFSC.

Os atóis se formam tipicamente em torno de ilhas vulcânicas, a partir do crescimento de corais – no atol das Rocas, as algas calcárias são as principais responsáveis por essa formação. Ao longo de milhões de anos, algumas dessas ilhas começam a afundar, enquanto os recifes continuam crescendo, formando uma barreira em formato de anel com diversas piscinas naturais. No atol das Rocas, parte dessas piscinas continua se comunicando com o resto do oceano, enquanto outras ficam completamente isoladas do mar aberto, constituindo ambientes calmos (piscinas fechadas).

Quando a maré baixa, os animais dessas piscinas ficam presos até que ela suba novamente. Essas diferenças determinam, por exemplo, quais peixes, algas e corais habitam cada ambiente, e a forma como esses organismos interagem. Os pesquisadores observaram que os peixes-cirurgiões (Acanthurus chirurgus), por exemplo, alimentam-se dez vezes mais ao ficarem presos em piscinas fechadas durante a maré baixa.

 

Tubarão no Atol das Rocas. Foto: Renato Morais Araujo/UFSC

Tubarão no atol. Foto: Renato Morais Araujo/UFSC

Outras formas de vida importantes à pesquisa foram os tubarões, que – revelou o estudo – dificilmente ficam presos em piscinas fechadas durante a maré baixa, mas são comumente encontrados em piscinas abertas. À medida que a maré começa a subir, eles nadam para dentro do atol, ficando, muitas vezes, com apenas parte do corpo envolta em água.

O estudo também indica que a alimentação dos peixes-cirurgiões em piscinas fechadas durante a maré baixa pode influenciar as algas que recobrem o fundo. Esses peixes preferem consumir um tipo específico de alga (Digenea simplex), rica em açúcares e pouco abundante em piscinas fechadas, porém comuns em piscinas abertas, onde os peixes se alimentam menos.

Piscina fechada no atol. Foto: Renato Morais Araujo/UFSC

Piscina fechada no atol. Foto: Renato Morais Araujo/UFSC

 

O estudo

Pesquisadores da Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Sisbiota-Mar) realizaram um esforço conjunto para desvendar alguns dos segredos da vida marinha no atol das Rocas, em um trabalho multidisciplinar, que investigou da composição química das algas à abundância de peixes.

 

Atol das Rocas

Além de toda sua beleza e particularidades, o atol das Rocas é uma das únicas reservas marinhas do Brasil – criada em 1978 – e uma das primeiras do mundo. Atividades extrativistas, como pesca e coleta, são proibidas em reservas biológicas. A partir de 1991, a fiscalização no atol foi fortalecida pelo estabelecimento de uma estação permanente de pesquisa e monitoramento. Desde então a Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas vem se consolidando como uma das mais efetivas áreas de proteção marinha do Brasil, abrigando uma abundante fauna e servindo de berçário para aves, tartarugas e até tubarões.

Mais informações no site Sisbiota-Mar ou pelo e-mail sergio.floeter@ufsc.br.

Revisão: Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC

Fotografia: Renato Morais Araujo/ECZ/CCB/UFSC

 

 

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