Lado bom e ruim do trote na universidade: integração e práticas abusivas andam juntas

17/03/2017 11:45

Tinta pelo corpo, roupas sujas, plaquinhas de papelão com apelidos, são cenas que ilustram o ritual de entrada dos calouros na Universidade. Semestre após semestre, veteranos preparam a cerimônia que é uma iniciação à vida social na graduação. A prática pode ter várias atividades, que variam de curso para curso, como brincadeiras, gincanas, e arrecadação de alimentos. Muitos alunos consideram o trote um passo muito importante, pois promove a integração entre os colegas novos e os mais antigos, mas ainda existem muitas ressalvas em relação à sua realização, principalmente a episódios violentos como agressões, humilhações públicas, consumo de álcool, abuso sexual, entre outros.

Trote do Curso de Jornalismo. Foto: Giovanna Olivo

Trote do Curso de Jornalismo. Foto: Giovanna Olivo/Agecom/UFSC

Os trotes são proibidos nos estabelecimentos de ensino públicos e privados catarinenses pela Lei Estadual nº 15.431, de 2010. Pela lei, são considerados trotes, condutas e práticas que ofendam, constranjam e exponham de forma vexatória os alunos. Também são proibidas doações de bens e arrecadações de dinheiro nas sinaleiras. Porém, isso não impede que os estudantes continuem realizando essas ações abusivas dentro e fora da universidade. Com o objetivo de impedir os abusos durante o trote, organizações internas de alguns cursos adotam políticas de não-opressão e fazem uma espécie de fiscalização, para evitar práticas violentas. É o caso do Centro Acadêmico Livre de Jornalismo Adelmo Genro Filho (Calj) que oferece orientações aos veteranos – responsáveis  pela organização das atividades: “O Centro Acadêmico de Jornalismo se posiciona a favor de um trote sem opressão e, para que isso aconteça, a orientação aos veteranos é de que as ações de integração sejam pensadas de forma que nenhum calouro sofra gordofobia, lgbtfobia, racismo, machismo ou qualquer forma de preconceito”, explica Marina Zanin Negrão, estudante e integrante do grupo de gestão do Calj.

Os organizadores são orientados a pensar em atividades que não discriminem ou causem qualquer tipo de desconforto entre os calouros. Para garantir que essas ações não sejam realizadas, alguns membros do CA ficam encarregados de entrar em contato com os calouros por meio de redes sociais, antes mesmo da matrícula presencial, para alertar sobre condutas abusivas. Além dessa preparação, o CA promove dinâmicas de integração entre os calouros e alunos antigos do curso, como palestras sobre o mercado de trabalho e apresentações artísticas.

O curso de Psicologia busca uma recepção unificada aos calouros, promovendo palestras, conversas, e dando orientações. A coordenadora Raquel Barros diz que busca estar sempre em contato com o Centro Acadêmico de Psicologia Livre (Capsil) e ajudar o novo aluno a se ambientar no espaço da UFSC, e principalmente colocá-lo em contato com a coordenação e os veteranos. “Às vezes o trote expõe as pessoas a situações humilhantes, desagradáveis e entrar num local diferente, muitas vezes hostil por si só, pode repercutir psicologicamente no alunos. Pode haver pessoas que levem como brincadeira, mas têm pessoas que podem atrasar ainda mais a sua adaptação na Universidade”, completou.
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