Nodari fala sobre a necessidade da diversidade nutricional exemplificando com uma refeição que consumiu em uma casa na Colômbia.
O 2º Simpósio Internacional de História Ambiental e Migrações promovido pelo Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) por meio do Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental (LABIHMA) aconteceu na UFSC de 17 a 19 de setembro. A mesa-redonda Velhos temas e novos debates? foi realizada na terça-feira, 18 de setembro enfocando quatro assuntos diferentes e interligados.
O professor Rubens Nodari, do CCA/UFSC, falou sobre Agrobiodiversidade e vida urbana, de como a comida tem se tornado produto comercial e não um alimento e, dos impactos sobre a sociedade. Lamentou a perda de recursos genéticos, um primeiro impacto citado, em função da expansão da fronteira agrícola. Sobre este fato, relatou que o botânico e geneticista russo Nikolai Ivanovich Vavilov (1887-1943), há 100 anos, já havia se dado conta do processo. A Caverna Global de Sementes Svalbard (Svalbard Global Seed Vault), na ilha norueguesa de Spitsbergen, no arquipélago de Svalbard – local que se propõe a ser um abrigo de conservação de sementes do mundo todo, é um projeto que nasceu da preocupação com a diminuição desses recursos genéticos.
Em contraponto há uma proposta de conservação na propriedade (in situ), da qual Vilmar Menegatti, do município de Ipê/RS, é agricultor exemplar. No Brasil, a expansão da fronteira agrícola continua rumo à Amazônia.
O segundo grande impacto é consequência do monocultivo – contrariando a natureza, onde um número variado de espécies produz mais biomassa que um canteiro com uma só, conforme já havia observado Charles Darwin (1809-1882) no livro A Origem das Espécies (1859). A mistura de variedades reduz dramaticamente as doenças. Mas os governos teimam em apoiar a monocultura, diz Nodari.
Um terceiro impacto é o uso intensivo de produtos químicos: fertilizantes, agrotóxicos, transgênicos, quebrando a harmonia com o meio ambiente. Os Estados Unidos são o país com mais uso de agrotóxicos e, 41% da população tem potencial de desenvolver algum tipo de câncer. O Brasil, na última década, praticamente duplicou o uso de agrotóxicos. Uma pesquisa realizada pela UFMT, no Mato Grosso, com 62 mães que amamentavam, detectou resíduos de agrotóxicos no leite de todas elas.
O quarto impacto é o desbalanceamento nutricional e a simplificação da dieta. O arroz, por exemplo, dependendo da variedade pode ter 10 vezes mais ou menos ferro. Em geral, o empobrecimento nutricional da planta está ligado ao aumento do rendimento, é o chamado efeito diluição.
Nodari recomendou o livro de Michael Pollan Em defesa da comida – um manifesto a favor da “alimentação de verdade”, já que atualmente muitas doenças crônicas estão ligadas à alimentação.
O quinto impacto seria o controle das sementes por poucas empresas. O que era patrimônio dos povos se tornou patrimônio patenteado de poucas empresas.
Atualmente 10 empresas dominam 73% das sementes certificadas. Então a questão das patentes de mercado e o monopólio das sementes são atualmente o principal problema da agricultura, disse Nodari citando Vandana Shiva, filósofa e ativista indiana, que falou na Rio +20 sobre o controle da natureza por meio das patentes. Vandana conclamou as pessoas da conferência a lutarem pela quebra das patentes. Disse que a luta deve se dar local, regional, nacional e internacionalmente.
O pesquisador citou também o recente fracasso dos Estados Unidos, que apesar de 80% do seu milho ser transgênico, passaram pelo maior revés na produção em consequência de uma forte seca, que comprometeu cerca de 100 milhões de toneladas do cereal. O Brasil é atualmente o segundo país em área plantada de transgênicos.
As propostas para reverter a situação seriam: consumo relacionado com a produção local; aumentar a diversidade das espécies; pesquisa participativa – trabalhar direto com os agricultores; autonomia de energia, sementes e cadeia produtiva tendo como foco a compreensão das relações dos agroecossistemas; o manejo da paisagem e o apoio a agricultura familiar que atualmente ocupa 24% da área de agricultura e produz 36% dos alimentos, se mostrando muito mais eficiente que o agronegócio.
Informações: Rubens Nodari : ( 48)3721-5330
Alita Diana/ Jornalista da Agecom/ UFSC
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Fotos: Wagner Behr/ Agecom/ UFSC