Professor da UFSC vai reconstruir história de marfins do Museu Nacional de Belas Artes em pesquisa internacional

30/06/2025 10:02

Peças estudadas têm uma origem oficial que será investigada em pesquisa internacional liderada pela UFSC

O professor Sílvio Marcus de Souza Correa, do departamento de História da UFSC, vai conduzir uma investigação internacional que pretende reconstruir a história de marfins do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA) em um projeto de pesquisa premiado pelo Centro Marc Bloch de Berlim, na Alemanha. Ele busca identificar as origens e o percurso de quatro peças lavradas da coleção africana e compreender se o conjunto foi um presente protocolar de Léopold Senghor, então Presidente do Senegal, durante a sua visita oficial ao Brasil em 1964.

Ele explica que esta hipótese carece de averiguação. Além disso, pairam dúvidas sobre a origem dos marfins, a sua antiguidade e sua procedência. “O objetivo principal é reconstituir o percurso desses marfins desde o seu ‘mundo de produção’ até a sua entrada no ‘mundo museal'”, comenta.

Para isso, uma equipe irá trabalhar ao longo de um ano. As atividades devem se realizar em etapas bimestrais. Na primeira etapa da pesquisa, a equipe deve reunir dados em documentos de arquivos no Brasil e no Senegal. Numa segunda etapa, a análise deste material permitirá um estudo comparativo com outros marfins lavrados em outros acervos museológicos, especialmente na França, Bélgica, Alemanha e Portugal.

Ainda haverá uma terceira etapa, na qual os pesquisadores devem se reunir para apresentar os resultados preliminares sobre os marfins lavrados do Museu. O trabalho será apresentados e também terá um relatório final associado à organização de um seminário com o apoio do Museu Théodore Monod de arte africana, em Dacar, e também da Universidade Gaston Berger de Saint-Louis.

A pesquisa de proveniência de objetos culturais, segundo o professor da UFSC e coordenador do projeto, é a nova tendência na museologia de países como a França e a Alemanha. A equipe de pesquisa que será coordenada pelo historiador brasileiro é formada por pesquisadores da França, da Alemanha e do Senegal. A iniciativa surgiu durante a pesquisa de pós-doutorado do professor, em 2023. “Na altura, eu pesquisava as coleções de arte africana em acervos museológicos do Brasil. Numa visita à reserva técnica do MNBA, encontrei esse conjunto de marfins lavrados”, explica.

História

Detalhes das peças investigadas

Segundo Correa, a base da coleção africana do MNBA vem de uma compra realizada no início da década de 1960 pelo seu então diretor José Roberto Teixeira Leite. “Depois de quase dois anos como adido cultural na embaixada do Brasil em Accra, Gasparino Damata trouxe cerca de uma centena de objetos de arte africanos para vender no país”, comenta. Mas estes quatro marfins investigados foram adquiridos pelo MNBA depois. “A informação que precisa ser comprovada é que os marfins foram um presente do presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, no quadro de sua visita oficial ao Brasil em 1964″.

O professor conta que, no catálogo do MNBA de 1982, consta que os marfins são do Benim. Apesar disso, não há consenso entre especialistas em arte africana quanto ao fato. “Alguns especialistas em arte africana e, especialmente arte em marfim africano, me disseram que, provavelmente, aqueles marfins são da Costa do Loango”, diz.

Outro objetivo é saber se os marfins lavrados foram adquiridos pelo presidente do Senegal ou se já se encontram em outra coleção museológica como, por exemplo, aquela do museu do Instituto Fundamental da África Negra de Dacar (Senegal). “Outra dúvida é sobre a doação ao MNBA. Quem foi o doador? Senghor, o presidente senegalês ou o seu sobrinho, Henry Senghor, que foi embaixador do Senegal no Rio de Janeiro naquela época? “, questiona.

Financiamento e cooperação internacional

O Fundo Franco-Alemão de pesquisa de proveniência de objetos da África subsaariana abriu edital no início deste ano para pesquisadores que trabalham na intersecção de questões ligadas à história da arte, à proveniência dos objetos de coleção e às novas práticas museais.

Além do financiamento do Centro Marc Bloch de Berlim, o projeto tem o apoio da associação franco-senegalesa Rede de Valores Culturais Solidários, do Instituto Nacional de História da Arte de Paris, do Museu de Arte Africana Théodore Monod de Dacar e do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

A equipe internacional de pesquisa conta com profissionais com formação na Escola do Louvre, no Instituto Nacional de História da Arte e na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, na Université Cheikh Anta Diop de Dacar e no Museu de História Natural do Instituto Leibniz de Pesquisa para Evolução e Biodiversidade de Berlim.

Para o professor, trata-se de um projeto de pesquisa em rede internacional que dará visibilidade às coleções africanas em museus do Brasil. Ele destaca ainda a importância do apoio à investigação científica do Centro Marc Bloch de Berlim, instituição de pesquisa franco-alemã para as áreas de humanidades e ciências sociais e das instituições museológicas de quatro países (Brasil, Senegal, França e Alemanha).

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Encontro prepara profissionais para cumprimento do Estatuto de Museus

01/07/2011 10:30

Estão abertas inscrições para capacitação gratuita que reunirá profissionais de todo Estado, de 10 a 13 de julho, em Itajaí. Instituições museológicas precisam se adequar ao Estatuto no prazo de dois anos

Profissionais que atuam em instituições museológicas de Santa Catarina, estudantes ou aspirantes à área de conservação e valorização do patrimônio histórico e cultural terão em julho uma oportunidade de capacitação gratuita. Estão abertas as inscrições para o 33º Encontro Regional do Núcleo de Estudos Museológicos da UFSC (NEMU), que ocorre de 10 a 13 de julho, no município de Itajaí. Promovido pelo NEMU da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC, com apoio da prefeitura de Itajaí, o evento tem como objetivo capacitar os participantes para a conservação, o conhecimento e a divulgação dos acervos dos museus de suas cidades.

Em Santa Catarina, existem cerca de 200 instituições museológicas que têm como principal desafio se adequar ao Estatuto dos Museus, criado por decreto presidencial em janeiro de 2009 e já regulamentado. O estatuto determina que toda instituição dessa natureza deverá ser reconhecida a partir da apresentação de um Plano Museológico assinado por um profissional formado em Museologia. Esse plano deverá definir sua missão, estrutura organizacional e áreas de atuação. Até 2014 só as instituições que tiverem se adequado ao estatuto receberão recursos públicos. E todas deverão ter registrado e catalogado o seu acervo, conforme lembra o coordenador do NEMU.

A preparação das instituições para o cumprimento dessas exigências é justamente o tema da conferência de abertura “Estatuto de Museus – Plano Museológico”, que um representante do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) proferirá no domingo, 10/07, às 19 horas, no Museu Histórico, no Centro de Itajaí.  A abertura terá ainda apresentações culturais preparadas pelo município anfitrião. Durante as sessões de comunicação, as instituições vão apresentar suas experiências na administração dos acervos e mostrar atividades que ajudam a promover a integração dos museus com as comunidades, tornando-os mais presentes no cotidiano das pessoas.

O grande diferencial do encontro são as oficinas de capacitação que oferecem noções de  Gestão e documentação de acervos museológicas; Organização e conservação de acervos fotográficos; Plano Museológico: implantação, gestão e organização de museus; Noções de conservação e restauração de documentos (suporte papel); Arqueologia do oeste catarinense; Museus e educação: ação educativa em museus e Segurança em museus. Ministrados por profissionais da área de renome nacional, esses conhecimentos podem ser aplicadas nos locais de trabalho. Cada participante escolhe uma oficina dentre as sete que estão sendo oferecidas este ano, dando preferência para sua área de atuação ou de interesse.

Realizado duas vezes por ano de forma itinerante em diferentes regiões do Estado, o Encontro do Nemu capacita os profissionais a melhorar a qualidade técnica dos acervos e a mostrar sua importância à população. Eles aprendem a realizar o inventário do seu acervo, a cuidar da sua reserva técnica, restauração e conservação em laboratórios e a promover a exposição ao público. “Quanto mais um profissional de museu conhece e administra o seu acervo, mais tem condições de transformá-lo em uma ponte de ligação e diálogo com a sociedade em torno”, lembra o coordenador.

Na segunda-feira (11/7) pela manhã, o evento inicia com um tour ao Patrimônio histórico edificado de Itajaí, seguida de uma visita técnico-cultural ao Museu Etno-arqueológico. As oficinas começam às 13h30min e a sessão de comunicações, com relato de experiências dos museus de Santa Catarina, às 17 horas, sempre no Curso de Administração da Univali. Na terça, o evento prossegue com oficinas pela manhã e à tarde. No último dia, quarta-feira, estão previstas oficinas pela manhã e sessão de comunicações à tarde. Às 16h30min, os participantes realizam um balanço unificado das oficinas e uma reunião de avaliação e encerramento do evento. As inscrições para o encontro estão abertas até o início do evento pelo site: www.fgml.itajai.sc.gov.br.

Conteúdo das Oficinas

Oficina nº 01 – Gestão e documentação de acervos museológicos.

Museu, Museologia e Museografia; Importância da documentação museográfica. Documentação e pesquisa nos museus; Processamento técnico, preservação e gestão da informação; Construção de bases de dados; Sistemas informatizados disponíveis no Brasil para tratamento de informações; Inventário e catalogação; Construção de redes de informação; Política de documentação: da aquisição ao descarte.

Profa. Dra. Rosana Andrade Dias do Nascimento – Museóloga; Professora da UFSC; Mestre em Educação/UFBA; Doutora em História Social/UFBA; Professora do Curso de Mestrado na Universidade Lusófona – Lisboa/Portugal; Atua na área da Teoria e Documentação Museológica, História da Arte.

Oficina n° 02 – Organização e conservação de acervos fotográficos.

Técnicas de conservação fotográfica – higienização e estabilização; Técnicas de preservação fotográfica – acondicionamento e guarda, materiais, acessórios, embalagens, mobiliário, ambiente (parâmetros de temperatura e umidade relativa).

Denise Magda Corrêa Thomasi – Administradora do Museu da Imagem e do Som – MIS/FCC; Conservadora/Restauradora; Presidente da Associação Catarinense de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais – ACCR; Representante da FCC no Conselho Estadual de Cultura.

Oficina nº 03 – Plano Museológico: implantação, gestão e organização de museus.

Conceitos de museu e museologia; Conceitos de projeto, programa e plano museológico; O plano como trabalho coletivo: importância, vantagens e limites; Metodologia para elaboração e implantação do plano museológico; Identificação da missão institucional: finalidades, valores, metas e funções; Identificação de públicos e parceiros; Critérios para avaliação do plano museológico; O diálogo entre o plano museológico e a Política Nacional de Museus; Legislação e documentos institucionais: ata de fundação, decreto de criação, estatuto e regimento interno; Códigos de ética do Conselho Internacional de Museus e do Conselho Federal de Museologia.

Profa. Dra. Maria das Graças Teixeira. Museóloga; Professora da UFBA; Mestre em Artes Visuais/UFBA; Doutora em História Social/UFBA; Desenvolve pesquisa sobre cultura lúdica no Brasil; Atua na área de Museologia, principalmente nos seguintes temas: memória, educação patrimonial, projetos expográficos de longa e curta duração, preservação e conservação de acervos museológicos.

Oficina nº 04 – Noções de conservação e restauração de documentos (suporte papel).

Embasamento teórico e prático sobre noções de conservação e restauração de acervos; Importância na preservação da memória documental da instituição.

Cada participante deverá levar um livro ou documento para ser trabalhado na oficina.

Jéferson Antonio Martins – Bacharel em Biblioteconomia/UFSC; Especialista em Organização e Administração de Arquivos/UFSC; Conservador e Restaurador desde 1988; Vice-Presidente da Associação Catarinense de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais – ACCR.

Oficina nº 05 – Arqueologia do oeste catarinense.

Noções básicas sobre arqueologia de Santa Catarina e, em especial, sobre o oeste catarinense; Processos de higienização, catalogação, identificação e acondicionamento de acervos arqueológicos. Os participantes devem levar suas dúvidas ou artefatos arqueológicos que necessitem de orientação para enriquecer as atividades práticas.

Profª Dra. Ana Lucia Herberts – Historiadora; Arqueóloga; Doutora em História/PUCRS, com bolsa sanduíche na Université François Rabelais em Tours, França; Gestora da Unidade Florianópolis da Scientia Consultoria Científica; Coordenadora do Programa “Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Paisagístico” da UHE – Foz do Chapecó; Bolsista do CNPq.

Oficina nº 06 – Museus e educação: ação educativa em museus.

A dimensão educativa e o diálogo com outras áreas de ação da instituição: a pesquisa, a comunicação, a preservação, etc.; Discussões a partir de abordagens relacionadas à teoria e à prática da ação educativa em museus; Qual a natureza da experiência museal; Como se dá a relação museu-escola; Por que fazer pesquisa de público.

Profª. Bárbara Mara Pereira Harduim – Professora de Artes; Arte-educadora; Coordenadora do Setor Educativo do Museu de História e Artes do Estado do Rio de Janeiro/FUNARJ; Vinculada à Secretaria de Estado de Cultura; Integrante do Comitê Gestor da Rede de Educadores em Museus e Centros Culturais – REM/RJ.

Oficina nº 07 – Segurança em Museus.

Conceitos de segurança: patrimonial, empresarial e mecânica; Ações preventivas: roubo, furtos, incêndio e vandalismo; Diagnósticos e mapeamento das áreas de risco dos museus; Treinamento e sensibilização dos funcionários; Prevenção e combate a incêndio; Monitoramento eletrônico; Controle de acesso de público às áreas restritas; Segurança nas áreas expositivas e nas reservas técnicas; A documentação como segurança: inventário, catalogação e registro fotográfico; Segurança das pessoas; Laboratório: plano de segurança.

Solange Rocha – Bacharel em História pela Universidade Santa Úrsula/RJ; Especialista em Restauração e Conservação de Bens Culturais/UFRJ; Atuou no Arquivo Nacional, Museu Nacional de Belas Artes e, atualmente, no Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT.

Informações: (48) 3721-6318 / Francisco do Vale Pereira / Coordenador executivo do NEMU/UFSC E-mail:

Fonte: Raquel Wandelli, jornalista SeCArte/UFSC

(37219459, 37218329 e 991105240)

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