Pesquisadores alertam para consequências ambientais e econômicas da mineração marinha
A redução de oferta e encarecimento dos fertilizantes, como consequência da desindustrialização, fechamento das plantas de produção nacionais e da guerra entre Rússia e Ucrânia, têm comprometido a agricultura brasileira e mundial, podendo ser catastrófica para a alimentação global. Entretanto, pressionado para reduzir a dependência do Brasil, setores do governo e empresas apresentaram como sugestão a mineração marinha em grande escala, tendo como alvo extensos recifes de rodolitos da plataforma continental brasileira para uso como matéria-prima na produção de fertilizantes.
A eventual exploração destes ambientes é altamente preocupante, podendo ter consequências igualmente negativas e muito sérias a médio prazo, para o Brasil e para o planeta. A mineração desses habitats terá um grande impacto ecológico direto sobre toda a biodiversidade associada, bem como desdobramentos econômicos negativos para setores como o da pesca. Por outro lado, o uso de rodolitos para calagem da vasta extensão de solos ácidos do Brasil pode contribuir significativamente para as emissões de CO2 para a atmosfera.
O tema foi objeto de correspondência publicada na última edição da Revista Nature, liderada por pesquisadores da USP e da UFSC que, desde a década de 1980, estudam esse ambiente combinando trabalho de campo com o uso de mergulho autônomo com outras técnicas de laboratório, envolvendo análises que permitem determinar o destino do carbono. Dentro do grupo signatário da carta estão pesquisadores estrangeiros e com expertise nos processos biogeoquímicos relacionados ao balanço de dióxido de carbono, aos fluxos de carbono e armazenamento de carbonato associados aos bancos de rodolitos, como alternativas à mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Os Bancos de Rodolitos brasileiros têm sido evocados como patrimônios da humanidade, por prestarem benefícios ecossistêmicos fundamentais para a estabilidade biogeoquímica do Atlântico. Estes destacam-se como ecossistema marinho diferenciado que ocorre sobre a extensa plataforma continental brasileira, se distribuindo por cerca de 230 mil km2 do nosso litoral. Seus bioconstrutores são algas vermelhas calcificadas, conhecidas como algas calcárias, ou seja, capazes de depositar carbonatos na sua parede celular, tornando-se rígidas. O crescimento desses organismos, de apenas milímetros por ano, forma lentamente estruturas de topografia complexa e diversa, que parecem individualmente pequenos corais rosados. Boa parte da vida destes bancos extensos depende de uma delgada e vulnerável camada pigmentada, com micrômetros de espessura, que faz a fotossíntese e viabiliza o processo de calcificação. Estas pequenas preciosidades, “pedras” rosadas que formam verdadeiros oásis em meio às planícies arenosas submersas, são chamadas de rodolitos.
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