O professor Durval Muniz de Albuquerque Jr. abriu a aula magna do semestre 2015-2 da UFSC falando de vagalumes, como pontos de luz na escuridão, e observou que a História do Brasil tem muito mais noites de autoritarismo do que momentos iluminados de regime democrático. Para ele, o fascismo se faz presente no cotidiano e se manifesta em momentos como linchamentos e constantes massacres de povos indígenas. Portanto, diz, a democracia no país está sob permanente ameaça, já que, em amplos setores da sociedade brasileira, não é valorizada.

Aula magna com Durval de Albuquerque. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
O tema da aula magna, na noite de segunda-feira no auditório Garapuvu do Centro de Cultura e Eventos, foi “Entre o desconhecimento, a amnésia e a má-fé: ditadura e democracia no Brasil”. Albuquerque Jr. associou a desmemória e a ausência de conhecimento sobre o que se passava nos períodos de ditadura no Brasil à “produção de memória oficial que falseia nosso passado” e à atuação dos grandes grupos de comunicação, que, para ele, não têm comprometimento com a democracia.
A aula foi o encerramento da primeira noite da recepção aos calouros 2015-2 da Universidade. A cerimônia começou com apresentações do Madrigal e da Orquestra da Câmara da UFSC; em seguida, Ana Lice Brancher, da Comissão da Memória e Verdade da UFSC, falou do trabalho da comissão e apresentou em vídeo duas entrevistas – o grupo começou em dezembro último e fez sua primeira reunião neste ano, a fim de coletar documentos e depoimentos para investigar violações aos direitos humanos ocorridas na Universidade durante os anos da ditadura militar iniciada em 1964.
Durante sua apresentação, ela convidou ao palco integrantes do movimento grevista, que se reuniam no saguão superior do Centro de Cultura e Eventos para protestar contra as condições em que se inicia o semestre. Além de desejar boas-vindas aos novos estudantes, eles apresentaram a pauta de reivindicações e convidaram para a programação de greve durante a semana. Também abordaram a permanência estudantil, principalmente alimentação e moradia.

Recepção aos calouros do segundo semestre. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
A recepção aos 3.395 calouros – que se juntam aos 26.862 veteranos – continuou na manhã da terça-feira, iniciando-se novamente com o Madrigal e a Orquestra de Câmara da UFSC, que arrancaram aplausos da plateia.
A reitora Roselane Neckel lembrou o lema da UFSC “conhecimento produzindo cidadania” e propôs uma reflexão: “Numa era de muitas certezas e verdades disseminadas com muita rapidez, há postagens pedindo solidariedade, mas muitas outras estimulam o ódio e o pessimismo. Avaliações da realidade não podem ser feitas pelas aparências, mas pela análise e conhecimento”. Ela citou que, apesar dos problemas orçamentários num momento de excepcionalidade, a meta da administração é ampliar os recursos de permanência estudantil. A reitora também lembrou a importância da universidade pública e gratuita. “O que vocês aprendem aqui dá o poder de acelerar o processo de mudança de nosso país.”
A vice-reitora Lúcia Helena Martins Pacheco incentivou os estudantes a exercitarem o pensamento crítico. “Vocês devem questionar as informações que recebem, inclusive o que estou dizendo aqui, para viver e entender a realidade. Tentem sempre um contraponto.” Ela se referiu a Sartre e a liberdade de escolha. “Para estarem aqui, vocês escolheram um curso e deixaram 102 de fora; cada possibilidade traz consequências. Não se deixem manipular e sejam felizes. Esperamos que daqui a quatro ou cinco anos vocês estejam aqui, neste auditório, recebendo o diploma.”
Antes, também houve espaço para manifestação de movimentos reivindicatórios, iniciada pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores da UFSC (Sintufsc), Celso Martins, que explicou os motivos da greve nacional da categoria, citou os pontos da pauta e reclamou dos cortes orçamentários do governo federal. Ele foi seguido de estudantes e coletivos, que solicitavam mais medidas de permanência estudantil, maior repasse de verbas para as universidades federais e combate mais efetivo ao racismo. Uma docente em greve do Andes UFSC também apresentou as reivindicações da categoria. Duas representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) deram boas-vindas aos calouros, e estimularam maior participação fora da sala de aula.
Para assistir à aula magna: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/134307
Fabio Bianchini/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC
fabio.bianchini@ufsc.br
Caetano Machado/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC
caetano.machado@ufsc.br
Revisão: Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC
claudio.borrelli@ufsc.br
Fotografia: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
henrique.almeida@ufsc.br