Café Philo: O elogio francês ao pensamento selvagem

28/06/2012 18:07

Antropólogo Oscar Calavia-Sáez mostra que obra de Lévi-Strauss estabelece os pilares da cultura humana sem incorrer na arrogância humanista sobre a superioridade da espécie 

Lévi-Strauss não vê o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta

Os teóricos franceses são conhecidos por seu grau de abstração e digressão. Mas tendo dedicado um século de vida para estudar a cultura dos povos ditos “primitivos” e escrever um compêndio de 2.500 páginas sobre a mitologia dos indígenas das Américas, Lévi-Strauss rendeu-se à força do pensamento selvagem. Além de revelar ao mundo a eficiência do raciocínio concreto dos indígenas, baseado na observação e inteligência sensorial, procurou absorvê-lo no seu modo de pensar – e de existir. Lévi-Strauss amava os totens, os ideogramas orientais e a arte figurativa, apenas. “Nada que abolisse as formas e a relação com a natureza lhe interessava. Para ele, nenhuma arte faz sentido se não estiver ligada ao mundo sensível”, revelou Oscar Calavia-Sáez, que conduziu a 43º Edição do Café Philo na noite de quarta-feira (27), no auditório da Aliança Francesa.

O mais surpreendente na obra do antropólogo é que tendo estruturado as bases teóricas sobre as quais se ergue o edifício da cultura humana, Lévi-Strauss foi um dos poucos pensadores do seu tempo que não reproduziu o paradigma antropocêntrico. “Ele decididamente não foi um humanista”, disparou Calavia. E se explicou: “O conceito de humanismo se cria às custas de tudo o que não é humano. E o antropocentrismo que gera é responsável por uma longa lista de malfeitos contra as outras espécies e inclusive contra o próprio homem”.  Vários textos de Lévi-Strauss são muito explícitos na crítica ao sentimento de superioridade da espécie humana, lembra Calavia, sobretudo o final do terceiro volume deMitológicos, em que ele enaltece alguns rituais indígenas que visavam proteger a natureza da contaminação vinda do sujeito, enquanto o homem branco só pensa em se proteger ele próprio dos perigos do meio. Num sentido mais profundo, Lévi-Strauss acreditava que as mesmas formas que definem o pensamento humano estão inscritas nas coisas e que o homem não pode reclamar uma transcendência independente dos outros seres vivos e não vivos.
Professor do Departamento de Antropologia da UFSC, e bom conhecedor da obra do pai do estruturalismo, Calavia encerrou a série de debates deste semestre com uma fala eloquente sobre Totemismo e Pensamento Selvagem em Lévi-Strauss.  Autor de Amazônia, China, dos viages de vueltaO nome e o tempo dos Yaminawa: etnologia e história dos Yaminawa do Alto Acre e Deus e o Diabo em terras católicas, ele substituiu o professor e escritor Sérgio Medeiros, que adoeceu e transferiu sua conferência e o lançamento do livro de poesias Totens para o segundo semestre.

Sobre o famoso conservadorismo do antropólogo nas artes, Calavia explicou que sua crítica à arte não figurativa advém de uma postura ecológica (pioneira na sua época) de que o ser humano não deve ir além das condições que a natureza lhe dá

Sobre o famoso conservadorismo do antropólogo nas artes, Calavia explicou que sua crítica à arte não figurativa advém de uma postura em certo sentido ecológica (e pioneira na sua época) de que o ser humano não deve ir além das condições que a natureza lhe dá. “Entendia que o homem precisa respeitar os seus limites para que o resto dos seres no planeta pudesse sobreviver”.  O autor de Tristes Trópicos recusava a obsessão fáustica de que o homem deve quebrar os limites da natureza e considerava que a felicidade estava justamente na dimensão concreta da vida.
A admiração de Lévi-Strauss pelo pensamento e pela arte selvagem está materializada em quatro volumes de Mitológicas, tetrologia de I a IV.Nessa transcrição alucinante de 800 mitos ameríndios que vão do Alasca à Terra do Fogo, ele mostra que todos encontram-se, de algum modo, conectados: um mito é a variante do outro. Não há possibilidade de criação de um relato original, pois todo relato é a transformação de outro, explicou o professor.
Antes disso, em Totemismo, Strauss já desmitificara o antagonismo entre o pensamento ocidental, abstrato ou domesticado, e o selvagem, mostrando que antes de qualquer elaboração teórica apreendemos o mundo pela experiência sensível. O livro desautoriza a utilização do totemismo para demonstrar que há um corte vertical entre as duas culturas. “Nesse ataque ao totemismo, ele o ressuscita, destituindo o que outros pensadores publicaram anteriormente sobre essa separação e mostrando que todas as culturas estão crivadas de totens”. Antes de Lévi-Strauss, o totem tinha sido discutido durante decênios como um enigma, sem que nenhuma teoria conseguisse dar conta da sua complexidade, pois ora o totem tem um caráter individual, ora coletivo; ora os animais representados importam para a alimentação, ora são incomestíveis.
Já antes de Lévi-Strauss os antropólogos perceberam que o totemismo não servia como categoria teórica instrumental para classificar o que quer que seja e preferiram abandoná-lo como categoria teórica, anota Calavia. Todavia, Strauss reabilitou a noção, transferindo-a para um patamar superior ou mais amplo. O que ele disse? “O totemismo foi um falso problema inventado pelos estudiosos para separar o pensamento primitivo do nosso pensamento, uma espécie de curral onde se manteriam separadas formas de pensar que são universais, mas que eram tidas como incompatíveis com a racionalidade”.  Em outras palavras, o totem (o urso, a águia, o búfalo) nos fala apenas do poder ou da utilidade da diversidade das formas no mundo natural para organizar e apoiar o nosso pensamento. Como a espécie humana é muito mais homogênea do que as outras, nos valemos da natureza para ajudar a designar nossa diversidade de ser e nos orientar na selva humana, pois são as diferenças que organizam o pensamento, mostra o professor. Exemplo disso é o totemismo do esporte, onde desfilam leões, gaviões, figueira.
E convencido de que esse “totemismo” é igualmente comum entre africanos, siberianos ou euro-americanos, Lévi-Strauss provocou seus antigos colegas de filosofia, colocando lado a lado o texto de Henri Bérgson, filósofo mais prestigiado da época, e o de um índio Lakota. Considerada uma das atas de nascimento da filosofia indígena, a publicação desses dois textos que descreviam como se desenvolve o ser dizendo praticamente o mesmo, quebrou o pilar da arrogância ocidental. Em O Pensamento Selvagem, Strauss diria que a diferença desse pensamento não domesticado é que “brota como uma flor silvestre”, sem uma disciplina especializada e dedicada a cultivá-lo e mais especificamente sem submeter-se a processos de refinamento pela escrita. A forma como pensamos, portanto, é um produto da domesticação desse pensamento selvagem, com todas as delícias e principalmente dores que o antropólogo francês indianizado demonstrou em sua generosa obra.
O Café Philo é uma promoção do professor Pedro de Souza, do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, em parceria com a Aliança Francesa e apoio da Secretaria de Cultura.

Texto e entrevista: Raquel Wandelli
Jornalista e assessora de Comunicação da Secretaria de Cultura da UFSC
37219459 e 99110524 – raquelwandelli@yahoo.com.br


Quem é Oscar Calavia-Sáez?

Graduado em Geografia e História pela Universidad Complutense de Madrid (1986), fez mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (1991), doutorado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1995) e pós-doutorado pela Centre National de la Recherche Scientifique (2003). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidad Complutense de Madrid e pesquisador associado do Centre National de la Recherche Scientifique e da Societé des Americanistes. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Etnologia Indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: etno-história, com foco nas etnias Pano, Yaminawa e Amazonia-China. Este ano publicou Dos viajes de vuelta pela National Geographic, de Barcelona.

Alguns livros publicados:
SAEZ, O. C. . Os caminhos de Santiago e outros ensaios sobre o paganismo. Rio de Janeiro: Booklink, 2007
SAEZ, O. C. . O nome e o tempo dos Yaminawa. Etnologia e história dos Yaminawa do Alto Acre. 1ª. ed. São Paulo: Editora da Universidade do Estado de São Paulo, 2006. 478 p.
SAEZ, O. C. . Las formas locales de la vida religiosa. Antropología e historia de los santuarios de La Rioja.. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2002. v. 1. 234 p.
SAEZ, O. C. . Deus e o Diabo em terras católicas. Brasil-Espanha. Taubaté: GEIC, 1999. v. 1.
SAEZ, O. C. . Fantasmas falados. 1. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996. 216 p.
Tags: Café PhiloLévi-StraussUFSC

Café Philo: O totemismo além de Lévi-Strauss

21/06/2012 14:20

Na conferência do dia 27, poeta Sérgio Medeiros pensa o totemismo na arte a partir de Lévi-Strauss, que elevou o “pensamento selvagem” ao mesmo patamar do raciocínio  “domesticado” ocidental

Lévi-Strauss não vê o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta

Seria preciso muito mais que uma vida, muito mais que os 101 anos vividos pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss para compreender a sua obra e a matéria viva que a inspira: o espírito selvagem. O encontro entre o pensamento francês e ocidental, caracterizado pela abstração, com o pensamento dito concreto dos povos ameríndios se faz por avanços e recuos, revisões críticas, contradições e encantamentos. Lévi-Strauss viu na imagem do totem a representação mais bem acabada de uma lógica de raciocínio que ele chamou ironicamente de “selvagem” para contrastar com o raciocínio “domesticado” ou abstrato do homem ocidental. Sua grande contribuição foi desautorizar a relação de superioridade e mesmo de antagonismo entre um e outro. “Não se trata de pensamento dos selvagens, mas de pensamento selvagem”, cunhou o etnólogo.

Transitando entre a antropologia e a teoria literária, o poeta, professor e ensaísta Sérgio Medeiros tomou o pensamento totêmico como paradigma filosófico e emblema para sua produção poética. Medeiros comanda o próximo encontro do Café Philo deste semestre, no dia 27 de junho, às 19 horas, no auditório da Aliança Francesa, com uma conversa sobre “Claude Lévi-Strauss e o Totemismo”. A conferência é uma homenagem ao célebre antropólogo com quem trocou conhecimento no Laboratório de Antropologia Social, em Paris, onde realizou pesquisa sobre os heróis  Jê entre 1994 e 1995. Desde então, Medeiros persegue o emblema do totem. Além de motivar suas pesquisas sobre a cosmogonia dos povos indígenas da Amazônia e os estudos de literatura comparada entre a arte de vanguarda e a lógica do pensamento dos povos ameríndios e orientais, a figura totêmica assombra a obra poética de diretor da Editora da UFSC. É o caso de Totens, seu último livro de poemas, publicado pela Iluminuras, que ele lança ao final do 43º encontro do Café Philo, um projeto de extensão do pesquisador Pedro de Souza, professor do curso de Pós-Graduação em Literatura, em parceria com a Aliança Francesa e a Secretaria de Cultura.

O pensamento selvagem se desenvolve a partir de termos concretos e estaria a serviço das sociedades extraocidentais, mas também do discurso da arte universal. Strauss mostrou que esse pensamento não se vale de termos abstratos, como na lógica ocidental, mas dispõe de outras ferramentas específicas para atingir os mesmos fins e, por isso, não pode ser usado para justificar uma inferiorização do homem “primitivo” em relação ao moderno ou “civilizado”. “A linguagem é uma razão humana que tem suas razões, e que o homem não sabe”, disparou o etnólogo na obra O pensamento selvagem (1963). O contato com a lógica do concreto é, portanto, fundamental para que se entendam os procedimentos de outras culturas sem subjugá-los.

Sérgio Medeiros comanda o próximo encontro do Café Philo deste semestre, no dia 27 de junho, às 19 horas, no auditório da Aliança Francesa, com uma conversa sobre “Claude Lévi-Strauss e o Totemismo”

Um passo decisivo para que Lévi-Strauss delineasse em sua obra os procedimentos dessa lógica do concreto foi a rediscussão do conceito de totemismo. Antes dele, a ciência ocidental  acreditava que a arte totêmica pressupunha uma continuidade entre natureza e cultura, enquanto a lógica abstrata sempre parte do princípio de uma descontinuidade. A postulação de uma identidade de parentesco entre o animal, a planta ou a água revelaria um raciocínio ingênuo ou primitivo que as sociedades brancas já teriam superado. “Embora sejamos defensores da ecologia, sabemos que compartilhamos um espaço com animais e plantas, mas não somos idênticos a eles”, diz Medeiros.

Lévi-Strauss mostrou que o totemismo não é afirmação ingênua da identidade entre homem e natureza, mas um sistema de classificação com a mesma operacionalidade de outros em uma perspectiva diferente. O antropólogo sustentou, assim, que o argumento da ingenuidade é inaceitável para essencializar o primitivismo intelectual das populações que não se valem da lógica abstrata. Os índios usam termos concretos que já existem, como nomes de animais, plantas e fenômenos meteorológicos, para classificar grupos humanos, em vez de inventar novos nomes. “E de certa forma nós também fazemos isso quando usamos palavras como carneiro, pinheiro, leão, barata a título de sobrenome”.

Arte promove encontro entre homem e natureza

Empenhado em livrar o totemismo do estigma de mistificação, Lévi-Strauss acabou, contudo, negando seu peso afetivo e ritualístico. Fez isso inclusive tentando estabelecer uma regra estrutural fixa para o seu funcionamento. É nesse ponto que o discípulo lança um olhar crítico para o mestre, repensando a repercussão da teoria totêmica no campo da arte. Para Medeiros, é possível sim, afirmar que na arte se produz uma continuidade entre homem e natureza, sem que se incorra em uma visão de mundo ingênua ou infantil. De que modo? Pela importância que nela assume a infância, entendida como um estado pleno de revelação do mundo onde seres de diferentes naturezas podem se encontrar e se confundir.

Em sua conferência, Medeiros vai exibir postes totêmicos esculpidos por índios que vivem entre Estados Unidos e Canadá, na região da Costa do Pacífico, como mostra de uma arte viva, que sobrevive nas mitologias, nas crenças e na escultura e inspira a arte ocidental. Sua própria obra poética é visceralmente impactada pela associação entre esses postes e o totemismo, um sistema tribal de classificação de nomes de família, em que animais e vegetais do convívio humano são eleitos como símbolos de linhagens de diferentes clãs. O escritor identifica poeticamente os personagens de seus livros por “postes totêmicos”, como neste fragmento de Totens:

a gesticulação copiosa a voz enérgica do artista impressionava e era

de se prever que os ouvintes satisfeitos encheriam de cédulas o chapéu

de palha do maestro

tocando fogoso seu órgão selvagem Henry Flower casou um Carneiro

com uma Leitão casou uma Carvalho com um Pinheiro casou um

Laranjeira com uma Loureiro casou uma Lima com um Rocha casou

uma Pedra com uma Barata

e foi casando árvore com árvore e árvore com bicho e árvore com pedra

Riacho nuvem lagoa etc. sobretudo com pássaros

Enquanto em Sexo vegetal (finalista do Prêmio Brasil-Portugal Telecom e Jabuti de 2010) se inscreve sob o totem de vapor, em Totens imperam a árvore, o tronco e o calor da floresta. O personagem dos poemas é um especialista em música vegetal que tem o sobrenome de flor e o tronco como totem. Em Figurantes (finalista do Prêmio Jabuti 2012), assim como nas demais obras, as cenas que provocam os versos inspirados em hai kais brotam de paisagens híbridas de natureza e cultura, nunca puramente humanas. “Os artistas estão sempre tentando reinventar o totemismo”, diz o autor, que no próximo semestre ministra um curso sobre o assunto na Pós-Graduação em Literatura da UFSC.

Esse olhar para o espírito selvagem que se manifesta na arte devolve ao totem o seu peso simbólico e ritualístico afastado por Lévi-Strauss no esforço teórico de dessacralizar o totemismo. Medeiros vai mostrar como diversos artistas celebrados elegem símbolos naturais, à maneira das sociedades totêmicas, para representar totalidades: o sapo, do poeta japonês Bashô; a romã do romancista e dramaturgo italiano D´Annunzio, além de Borges e o labirinto. A onça reina em Guimarães Rosa, a barata em Kafka, a maçã em Clarice Lispector e o ovo nas esculturas de Brancusi, artista plástico romeno. Brancusi, as esculturas soldadas (Tanktotens) de David Smith e Joyce são as maiores referências do poeta.  “James Joyce inspirou Totens, com sua leitura totêmica de Dublin, numa Irlanda desmatada e vizinha ao Canadá”, conta.

Pinturas, esculturas, poemas, narrativas, obras e totens se entrecruzam no olhar estético de Sérgio Medeiros para a obra de Lévi-Strauss. Nessa leitura, o totemismo pode reconciliar sua validade científica como lógica e inteligência com a atração afetiva e ritualística que exerce sobre a arte. E também pode reconciliar ciência e magia na obra de Strauss, afinal, como ele próprio afirmou, “nenhuma civilização pode se desenvolver se não possui valores aos quais se agarrar profundamente”. (Raquel Wandelli).

Quem é Claude Lévi-Strauss?

Um dos grandes pensadores do século 20, Lévi-Strauss tornou-se conhecido na França, onde seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da antropologia. Filho de um artista e membro de uma família judia francesa intelectual, nasceu em novembro de 1908, em Bruxelas, e morreu em novembro de 2009, em Paris. De início, cursou leis e filosofia, mas descobriu na etnologia sua verdadeira paixão. No Brasil, lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo, de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central. É o registro dessas viagens, publicado no livro “Tristes Trópicos” (1955) que lhe trará a fama. Nessa obra ele conta como sua vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do Brasil.

Exilado nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi professor nesse país nos anos 1950. Na França, continuou sua carreira acadêmica, fazendo parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982.

O estudioso jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. Sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda parte surgiu nas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos de indígenas das Américas do Sul e do Norte. O antropólogo passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se estruturalismo. “Estruturalismo”, diz Lévi-Strauss, “é a procura por harmonias inovadoras”.

Suas pesquisas, iniciadas a partir de premissas linguísticas, deram à ciência contemporânea a teoria de como a mente humana trabalha. O indivíduo passa do estado natural ao cultural enquanto usa a linguagem, aprende a cozinhar, produz objetos etc. Nessa passagem, o homem obedece a leis que ele não criou: elas pertencem a um mecanismo do cérebro. Escreveu, em “O Pensamento Selvagem”, que a língua é uma razão que tem suas razões – e estas são desconhecidas pelo ser humano.

Lévi-Strauss não vê o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta. Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: “Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele – isso é algo que sempre deveríamos ter presente”. (fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/claude-levi-strauss.jhtm)

O conferencista

Tradutor, ensaísta e poeta, Sérgio Rodrigues Medeiros é mestre em Letras e doutor em Letras na área de Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP.  Atual diretor executivo da editora da UFSC, realizou estágio de pós-doutorado na Stanford University em 2001. Voltado para a pesquisa nas áreas de literatura, mitologia, escrita de viagem, poesia, poesia indígena e canto, publicou várias traduções e cinco livros de poesia.

No Brasil, lançou Figurantes e Sexo vegetal, que teve também uma tradução completa publicada pela editora norte-americana Uno Press, e agora Totens, todos pela Iluminuras, de São Paulo. Sua poesia já foi traduzida para o inglês e o espanhol.  Traduziu na íntegra para o português, com revisão técnica de Gordon Brotherston (Stanford University), a cosmogonia maia-quiché Popol Vuh (Iluminuras, 2007), finalista do Prêmio Jabuti em 2008. Membro do Conselho Editorial da Revista de Estudos Mayas, da Universidade do Estado de Ohio. Em 2008, organizou Makunaíma e Jurupari (Perspectiva, 2002), que a Fundação Biblioteca Nacional incluiu em seu acervo.

SERVIÇO:

Café Philo – “Claude Lévi-Strauss e o Totemismo”

Conferencista: Sérgio Medeiros

Data: 27 de junho

Horário: 19 horas

Local: Aliança Francesa, Rua Visconde de Ouro Preto, Centro

Entrada: Aberta ao público e gratuita

Textos e divulgação: Raquel Wandelli

Assessora de Comunicação da Secretaria de Cultura da UFSC

37219459 e 99110524

raquelwandelli@yahoo.com.br

Tags: Café PhiloLévi-StraussUFSC