Em vários momentos de sua vida, sentiu o preconceito na pele. Nunca se deixou abater pelo inimigo que estava presente no convívio familiar, no meio acadêmico e no profissional. Quando relembra-se dos fatos ainda se emociona, de alguns até consegue achar graça, não costuma guardar mágoa e no geral, perdoa. É muito sensível às histórias alheias. Todos que a conhecem sabem que chora com facilidade e para ela a explicação é muito simples: “se a gente não se importar, com certeza há algo errado”.
Negra, filha de mãe baiana e pai catarinense, irmã mais velha de quatro irmãos, estudante do ensino público, mãe de gêmeos, participa de escola de samba desde a infância, pertence à religião de matriz africana, enfermeira pediátrica, docente, pesquisadora do CNPq, e atualmente responde pelas politicas de ações afirmativas e diversidades da UFSC.
Fez a graduação e o pós-doutorado na UFSC, mestrado em Farmacologia e doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Deu aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Unicamp, Universidade Metodista de Piracicaba, Universidade São Francisco – Braganca Paulista, Faculdades Integradas Einsten Limeira (Fiel) e Universidade Paulista (Unip).
Foi eleita pela gestão da UFSC para retomar o compromisso social da instituição – o de defesa da diversidade humana – seja de orientação sexual, identidade de gênero, étnico-raciais, pessoas com deficiência e outros. Um novo desafio para ela, Francis Solange Vieira Tourinho, e em maio deste ano tornou-se oficial: estava no comando da primeira Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades (Saad) da UFSC.

Francis, secretária de Ações Afirmativas e Diversidades da UFSC. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC
O reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo afirma que a criação de órgão para tratar desses temas tem origem na constatação de que a UFSC mudou, quanto ao perfil de seus estudantes. “A partir do momento em que passamos a receber jovens de diferentes origens, locais, etnias – algo que sempre ocorreu, mas acentuou-se com as cotas, os 50% destinados à escola pública e o ingresso pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) – foi necessária uma ação institucional mais objetiva sobre esses grupos”. Reforça que as estruturas até então existentes, particularmente a Prae (Pró-Reitoria de Assuntos Educacionais) e a Prograd (Pró-Reitoria de Graduação), davam conta de executar políticas de apoio, mas era fundamental um espaço mais específico, com pessoas ligadas diretamente aos movimentos e com conhecimento de causa. “A equipe da Saad é múltipla, diversa, plural, como são as ações da própria Secretaria. E isso legitima a criação da nova estrutura. Nada mais verdadeiro do que afirmar que aqui na UFSC tem diversidade”, conclui Cancellier.
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