“É preciso manter acesa a chama da esperança e do desejo de mudança alimentada pelas leituras de livros, das conversas intensas entre os pares, ou seja, entre os técnicos […] e os demais agentes sociais, sobretudo os professores.” A frase define bem a relação do professor Walter Antonio Bazzo, entrevistado da coluna A voz do autor, com o ensino da ciência. Engenheiro mecânico e doutor em Educação na área de Ciências, é também professor titular do Departamento de Engenharia Mecânica e do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da UFSC. Bazzo é ainda um dos fundadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (Nepet) e o seu atual coordenador.
Pela Editora da UFSC (EdUFSC) lançou Introdução à Engenharia: conceitos, ferramentas e comportamentos, sendo responsável pela publicação de dez livros. Durante a entrevista, Bazzo comentou a importância da educação científica, a preparação de professores para a vida docente e diferentes formas de despertar o interesse de alunos sobre disciplinas complexas da ciência.
Foto: divulgação
1. Em sua carreira o senhor sempre buscou estudar a Engenharia sob a perspectiva da Educação, o que se traduz em sua atuação à frente do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (Nepet). Conte um pouco sobre este trabalho de transmitir conhecimento para estudantes e facilitar a compreensão da ciência no ensino da Engenharia. Quais suas principais motivações?
Importante deixarmos claro que, antes de transmitir conhecimento, o Nepet atua na formação de professores, especialmente daqueles que exercem o magistério e se interessam ou necessitam compreender as relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade. Nesse sentido, este trabalho envolve todos os profissionais da Educação em geral e, especificamente, da área tecnológica. É inegável que, independentemente de sua área de especialidade, os professores precisam se apropriar dos conhecimentos produzidos na área tecnológica e discutir criticamente seus efeitos na sociedade. Por quê? Se nós vivemos em uma aldeia global, onde aproximadamente 1% da população detém, para usufruto próprio, as riquezas (materiais e simbólicas) produzidas por uma parcela significativa de homens e mulheres – e, em algumas regiões deste planeta, em pleno século XXI, e independentemente do esforço hercúleo de alguns, há também crianças trabalhando para que outras pessoas sejam beneficiadas –, alguma coisa está fora de ordem, sim?
Penso que minhas motivações derivam de um projeto utópico para o desenvolvimento humano, ou seja, acredito que os professores têm um poder em suas mãos capaz de mobilizar céus e terras. Mas, para isso, ele precisa, antes de tudo, indignar-se com esta situação, perceber-se na condição de um trabalhador a serviço do processo de formação de seres humanos mais humanos. É preciso, ainda, que o professor – além deste sentimento de repulsa em relação a este cenário de exclusão e desigualdades – deseje sonhar coletivamente um sonho possível, capaz de mantê-lo em pé, esperançoso e vigoroso, em nome das crianças, do presente-futuro e, fundamentalmente, em nome de si mesmo; afinal, qual o sentido da vida? Qual o sentido da vida de cada um de nós?
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