Estudo da UFSC desvenda mecanismo que faz células de defesa agravarem a Covid-19
Um estudo com a participação de cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina recentemente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das revistas mais relevantes e citadas no mundo, desvendou um mecanismo molecular que faz células de defesa do corpo humano agirem no agravamento da Covid-19. A pesquisa tem como primeiro autor o pesquisador Rodrigo de Oliveira Formiga, egresso do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da UFSC, e contou com a co-autoria dos professores Fernando Spiller, do Departamento de Farmacologia, e Edroaldo Lummertz da Rocha, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia.
A publicação faz parte de um desdobramento da tese defendida por Formiga na UFSC, que estudou uma abordagem terapêutica para regular a resposta de neutrófilos na sepse e Covid-19. Os neutrófilos são as células de defesa do organismo humano que agem para conter as infecções, mas que, no caso da Covid-19, também prejudicam os tecidos celulares e podem levar à falência dos órgãos.
No artigo, os autores explicam o papel da proteína PCNA nesse processo de agravamento da Covid-19. A PCNA é uma proteína central para resposta inflamatória desregulada na doença em seu estágio agravado.
Os autores identificaram grandes quantidades dessa proteína no citoplasma dos neutrófilos de pacientes com Covid-19 grave e crítica. O citoplasma é um fluído das células onde essa proteína interage com outros fatores, levando à produção de espécies reativas de oxigênio e liberação de componentes do DNA da célula. É isso que contribui para a lesão dos tecidos do paciente infectado.
É como se o exército convocado para defender o organismo da infecção começasse a trabalhar também contra ele. O pulmão, que já está associado à gravidade da Covid-19 pela natureza respiratória da infecção, também é um dos primeiros órgãos a ter lesão na “sepse”, uma condição que leva à falência dos órgãos causada principalmente por essa desordem no comportamento dos neutrófilos.
“É o nosso próprio organismo que tenta montar uma resposta contra aquele agente agressor. Só que essa resposta é muito exagerada, ela é exacerbada e aí acaba tendo um efeito colateral que é a lesão das nossas próprias células. E quem contribui para essa lesão tecidual é principalmente o neutrófilo”, explica o professor Spiller.
Para realizar a pesquisa, os cientistas estudaram amostras celulares de pacientes humanos e também utilizaram modelos experimentais para entender o mecanismo da proteína nos processos de agravamento da Covid-19 e testar uma solução terapêutica.
As amostras de neutrófilos e de sangue de indivíduos saudáveis compuseram grupos de controle para a comparação com pacientes com diferentes níveis de gravidade da Covid-19. Para descrever a ação da PCNA, os cientistas utilizaram técnicas moleculares de alta precisão, com células em laboratório. Depois, a equipe ainda testou se o bloqueio da PCNA era uma estratégia viável para o tratamento da doença.
Terapia promissora

Covid-19 pode se agravar em função da atuação das células de defesa e levar o paciente à sepse (Foto: Arquivo Agência Brasil)
Para tentar bloquear os processos de hiperatividade das células de defesa na Covid-19 grave, os cientistas utilizaram uma molécula sintética – a T2AA, cuja função seria agir diretamente na proteína presente em grande quantidade nos neutrófilos, anulando sua ação. Os resultados foram positivos, já que houve redução na atuação extrema desses agentes no organismo.
Também foram feitos testes em camundongos infectados com um vírus similar ao da Covid-19, tratados com essa mesma molécula. O tratamento melhorou a condição clínica dos animais e reduziu a inflamação pulmonar, fortalecendo a tese de que inibir a proteína PCNA abundante nos neutrófilos é um caminho para futuros tratamentos.
“Quando sai um estudo como esse, que é de ciência básica, você está oferecendo para a comunidade científica um novo alvo terapêutico”, sintetiza Spiller, que destaca também o protagonismo do principal autor do estudo, a partir do desdobramento da sua tese. Hoje, o ex-orientando atua na Université Paris Cité e conduz trabalhos que iniciaram na UFSC e continuam, com parcerias internacionais.
Amanda Miranda |amanda.souza.miranda@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC


























