Pesquisa estuda dano à saúde por contato com cédulas monetárias com presença de cocaína
Na primeira semana de maio de 2015, circularam, por dia no país, cerca de 540 milhões de notas de dois reais, segundo o Banco Central do Brasil. Essas cédulas podem conter micro-organismos e substâncias como a cocaína e a cafeína. Foi pensando nisso que a pesquisadora Melina Heller, do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desenvolveu um estudo, que deu origem a sua tese, com orientação do professor do Departamento de Química, Gustavo Micke, para descobrir se o contato dessas drogas com o corpo humano causa algum dano à saúde.

As notas de dois reais foram escolhidas para o estudo por serem de grande circulação. Foto: Jair Quint/Agecom/DGC/UFSC
As notas com esse valor foram escolhidas por serem de alta circulação. A quantidade de cocaína encontrada nas cédulas analisadas foi pequena, variando de 6,47 a 2.761,9 microgramas (µg) – um fio de cabelo pesa, em média, 3 µg –, e não ofereceu riscos às pessoas que tiveram contato com as notas. Melina Heller também buscou identificar a presença das substâncias na urina, para descobrir se um exame antidoping de alguém que manuseou as notas poderia atestar positivo. Porém não foram apontados índices significativos.
Participaram da pesquisa 49 pessoas. Destas, quatro eram bancárias, e as demais, estudantes e professores da UFSC. Em 27 das 98 mãos analisadas foi encontrada cocaína acima do limite de detecção de 0,5 µg; 21 análises mostraram resultado abaixo dessa quantidade, e, nas outras 50, o resultado foi negativo para a droga.
O estudo foi realizado em 2014, em duas etapas: a primeira com 46 cédulas recolhidas em Florianópolis – 30 vieram da circulação geral; 16, de caixas eletrônicos. No primeiro grupo, 93% das amostras continham cocaína em quantidades que variaram de 11,5 a 2.761,9 µg. Nas notas dos caixas eletrônicos as quantidades encontradas foram baixas– duas atestaram negativo, duas apresentaram apenas vestígios (abaixo do limite de detecção), e as demais variaram de 9,1 a 264,8 µg – uma vez que são, em geral, cédulas novas, sem muito manuseio.
A segunda fase da pesquisa analisou 55 notas de dois reais que circulavam no Brasil, das quais 15 em Florianópolis, além de cinco notas de um dólar americano, vindas de Baltimore, no estado de Maryland, EUA. A cocaína e a cafeína foram identificadas em 98,3% das 60 cédulas, e a lidocaína (que pode ser adicionada à cocaína) em 70%. A quantidade de cocaína encontrada nas amostras da capital catarinense variou de 6,47 a 1.238,37 µg por nota.
A pesquisadora separou cocaína, cafeína e lidocaína das notas – as duas últimas geralmente são utilizadas para diluir a primeira, visando aumentar o lucro dos traficantes. Para isolar as três substâncias, Melina utilizou métodos diferentes em cada etapa: na primeira, foi usada a Eletroforese Capilar, e, na segunda, a técnica de LC-MS/MS. Em ambas foram utilizados solventes como a água e o metanol, para extrair as substâncias sem danificar nenhuma cédula (confira o processo completo no vídeo abaixo).
No Brasil, segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas de 2012 (Lenad), quase seis milhões de pessoas (4% da população adulta) já experimentaram cocaína ou alguma variação dela, como o oxi e o crack. A região Sul é a menor em proporção de números absolutos de usuários (7%), enquanto a região Sudeste é a maior (46%).
Ana Carolina Prieto e Tamy Dassoler/Estagiárias de Jornalismo/Propesq/DGC/UFSC
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Vídeo produzido por Luan Martendal e Ana Carolina Prieto/Estagiários de Jornalismo/Propesq/DGC/UFSC
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Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC