‘Humanismo e sabedoria’: escritor Raimundo Caruso fala sobre legado de Franklin Cascaes na Biblioteca Central da UFSC

07/08/2025 14:55

Boneco e fotos integrantes da exposição “Franklin Cascaes: vida e arte em tela”, na Biblioteca Central. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Um artista original, humano, sábio e pioneiro na valorização das histórias, crenças e pressentimentos das pessoas simples de Florianópolis: assim o jornalista e escritor Raimundo C. Caruso define o artista plástico, pesquisador e folclorista Franklin Joaquim Cascaes (1908-1983), homenageado na exposição que permanece no hall do auditório da Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina (BU/UFSC) até 26 de setembro.

Caruso estará na abertura oficial da mostra, nesta sexta-feira, 8 de agosto de 2025, às 19h, quando vai falar sobre o legado, a originalidade e a importância ainda atual do trabalho do artista. Ele é autor do livro Franklin Cascaes: vida e arte, e a colonização açoriana, lançado pela Editora da UFSC em 1988. Na obra, Caruso organiza o denso conteúdo obtido em longas entrevistas que fez com o artista em seu “museu”, como Cascaes chamava a sala onde reunia os diversos e inusitados materiais que usava em suas criações e pesquisas.

Atualidade

Mais de 40 anos após sua morte, a obra de Franklin Cascaes segue “bela e atualíssima”, na visão de Raimundo Caruso. “Ainda mais hoje, com a população urbana entregue a um consumismo na maioria das vezes inútil, imitativo, superficial. Modos de vida modernos formulados não pela imaginação e pela real necessidade cotidiana das pessoas, mas pelas mídias, pelos celulares, pelas televisões e pelas repetitivas mensagens dos diversos interesses políticos e econômicos”, analisa. “Desde este ponto de vista, não digo ‘bruxólico’, mas ‘moderno’ e ‘fantasmagórico’, o trabalho de resgate da cultura popular por Franklin Cascaes é expressão do mais profundo humanismo e sabedoria”, ressalta o escritor.

Caruso recorda que as entrevistas para a produção do livro foram realizadas diariamente, ao longo de um mês. Os textos compilados expressam a visão do artista sobre temas como a colonização açoriana, método de trabalho, costumes e cotidiano da cidade e, tema caro a Cascaes, histórias de bruxaria e fantasmas na Ilha de Santa Catarina. A obra reúne também 11 histórias escritas por Franklin Cascaes, com “causos” narrados em tom bem-humorado e linguagem característica, com fortes traços de oralidade. “Desde o ponto de vista da invenção, do sonho e da literatura, essas histórias são arte pura”, analisa Raimundo Caruso.

“Seu Francolino”

Retrato de Franklin Cascaes integrante da exposição “Franklin Cascaes: vida e arte em tela”, na Biblioteca Central da UFSC. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Cascaes coletava material para seus escritos percorrendo sistematicamente as praias e vilas mais distantes de Florianópolis, numa velha Kombi ou mesmo a pé, quando conversava com as pessoas que viviam nesses locais remotos. “Segundo nos disse, ele perguntava ou estimulava a lembrança e o enredo das histórias em que acreditavam e, depois, à noite, as transcrevia detalhadamente à mão, num caderno. Claro, mais tarde muita gente achou engraçado esses relatos, e outros meros jogos instintivos de humor, criação e arte, daí que com o tempo o próprio Cascaes era nomeado, amistosamente, como o ‘bruxo’”, conta o escritor. Isso é relatado pelo próprio artista em um de seus textos publicados no livro organizado por Caruso. Dizia-se nas colônias de pescadores que Cascaes, chamado de “seu Francolino”, era pé quente: bastava ele aparecer nas praias que as redes saíam do mar repletas de peixes.

Caruso ressalta também que Franklin Cascaes foi pioneiro na escuta respeitosa das histórias, crenças e pressentimentos da população que habitava “praias remotas e desconhecidos sertões” da cidade. “Foi então que, além do trabalho cotidiano da cidade, aflorou pela primeira vez a beleza humana, desconhecida, subjetiva do povo do interior da ilha”, considera.

Exposição

Aberta ao público desde 4 de agosto, a exposição Franklin Cascaes: Vida e Arte em Tela permanece no hall do auditório da BU-UFSC até 26 de setembro. Na mostra, as obras de 18 artistas revelam a riqueza da cultura local, lendas e tradições por meio de detalhes encantadores expressos em telas inspiradas na vida e obra de Cascaes. Também pode ser apreciado também um mural com fotos de Franklin Cascaes na UFSC, cedidas pela Agência de Comunicação da UFSC (Agecom/UFSC). A mostra é composta ainda por um quadro de Cascaes, um retrato do artista cedido pela Fundação Franklin Cascaes (FFC) e dois bonecos cedidos pela FCC e Museu do Brinquedo, em tamanho real.

Ana Paula Lückman | ana.paula.luckman@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC

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