UFSC inicia recuperação ambiental com plantio de mudas e melhoria da qualidade das águas

30/05/2025 10:39

Reitor Irineu Manoel de Souza participa de mutirão para o plantio de mais de 100 mudas nativas nesta Semana do Meio Ambiente UFSC. A ação faz parte do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas do Campus Trindade (PRAD-TRI). (Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC)

Após um processo que durou mais de 12 anos, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) dá início à fase de execução de seu Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas do Campus Trindade (PRAD-TRI), em Florianópolis. A execução do PRAD-TRI marca um avanço significativo no cumprimento de uma sentença judicial que determina a recuperação da qualidade da água dos córregos e da revegetação e cercamento das Áreas de Preservação Permanente (APP) no campus, além da correção e monitoramento das ligações da rede de esgoto, e a promoção de atividades de educação ambiental. 

“É uma reparação histórica de uma dívida da UFSC com a sociedade, então, é muito importante estar aqui”, disse o reitor Irineu Manoel de Souza enquanto participava de um mutirão de plantio de árvores nativas no campus, atividade prevista no PRAD e que integrou a Semana do Meio Ambiente UFSC. O mutirão reuniu cerca de 30 pessoas – estudantes, servidores, trabalhadores terceirizados e pessoas da comunidade – na manhã desta quinta-feira, 29 de maio, em uma área próxima ao Alojamento Indígena. Houve, ao longo do dia, o plantio de cerca de 100 mudas e a área ainda receberá outras 130 árvores, e cercamento do local de preservação. Ao todo, estima-se que 2600 novas árvores serão plantadas no âmbito do PRAD-TRI, para reflorestamento e compensação ambiental.

A coordenadora de Gestão Ambiental da UFSC, Anna Cecilia (Ciça) Petrassi, destaca que, para além de realizar a recuperação ambiental, o PRAD-TRI é uma iniciativa multifacetada, que visa à melhoria da qualidade de vida no campus. “Estamos muito felizes por ter recebido o apoio para a execução do PRAD ocorrer durante esta gestão na UFSC”, elogia. 

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Pai e filha, Luiz Alberto e Daniela, participam do mutirão de plantio. (Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC)

Para o prefeito Universitário, Matheus Lima Alcantara, a execução do PRAD é “um longo processo que se findará com um campus mais sustentável”. “Significa não só a melhoria da qualidade da água, mas também a mitigação de diversos impactos ambientais provenientes da urbanização intensa dentro e fora do campus”, disse.

Luiz Alberto Nickel e sua filha, a professora do Departamento de Saúde Pública, Daniela Nickel, participaram da atividade, coordenada como parte de um minicurso oferecido pela Sala Verde e Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA). “Eu sou morador da Trindade, gosto de meter a mão na terra, fui criado por agricultores”, disse Luiz. Sua filha o convidou para participar do mutirão, e contou que percebeu que já há um movimento de regeneração das áreas próximas aos cursos d’água na região do Centro de Ciências da Saúde (CCS), onde ela trabalha.

De fato, o PRAD-TRI está em execução desde o final de 2024, com diversas atividades acontecendo pelo campus. Além do plantio de mudas, a retirada de árvores exóticas e invasoras já vem acontecendo. Ao longo dos últimos anos, graças à parceria com o programa Se Liga na Rede, da Prefeitura Municipal e Casan, as ligações de redes de esgoto do campus foram testadas em mais de 90%, com as irregularidades identificadas e em processo de correção. E no âmbito da educação ambiental, diversas atividades promovidas pela UFSC, inclusive como as da Semana do Meio Ambiente, vêm sendo realizadas. 

Ciça Petrassi lembra que são ações de reparação que podem levar algum tempo para terem seu impacto percebido. “Sabemos que para sentir o resultado deste plantio, precisaremos esperar 10 anos para que estas mudas cresçam. A questão do saneamento também, sabemos que a água que passa pelos córregos que cortam a UFSC não está poluída apenas pelo impacto da Universidade. Porém, com as ações que estamos executando, teremos correções e depois um monitoramento dessa qualidade da água. E com as ações de educação ambiental, estamos promovendo conscientização e a mudança de atitudes em relação ao meio ambiente. Portanto, são todas essas ações que, somadas, ao longo do tempo, frutificarão no futuro, e irão gerar diversas melhorias para as próximas gerações”, salienta a gestora de Gestão Ambiental.

De acordo com o PRAD-TRI, apenas 11,34% das Áreas de Preservação Permanente (APP) do campus Trindade está atualmente ocupada por obras civis e de mobilidade consideradas inadequadas, ou seja, passíveis de compensação. Esta projeção corresponde a 3,70% da área total do Campus (33.787,59 m²). Clique na Imagem para ampliar. (Foto: Reprodução/PRAD-TRI UFSC)

O biólogo da CGA, Allisson Jhonatan Gomes Castro, detalha que o campus universitário é um caminho natural de diversos cursos d’água. “Temos nascentes aqui, há córregos que cortam o campus e estão canalizados, outros estão em sua forma natural. Além disso, recebemos águas das chuvas dos morros do entorno, e todo esse volume de água atravessa o campus e chega até o mangue no Itacorubi. Temos, ainda, um solo diverso, em alguns lugares é bem rochoso, o que impede a infiltração da água. Então, para além de melhorar a qualidade da água, precisamos pensar nesse escoamento, nesse curso natural”, conta o especialista. 

Allisson também explica que graças à urbanização já consolidada em diversos ambientes do campus, as áreas de plantio precisaram ser planejadas com estratégias que pudessem assegurar a maior chance de sobrevivência das mudas. Por exemplo, em locais onde há solo de melhor qualidade e onde já existe boa arborização, se aplica o plantio direto, isolado ou aleatório, com as mudas mais espaçadas. Já nos locais de solo mais compactado, onde hoje há vias de tráfego ou estacionamentos, o plantio precisa ser em núcleos, ou em ilhas, com 13 mudas que mutuamente se protegem e se ajudam a desenvolver. Em outros locais se está aplicando a regeneração natural, ou seja, em vez de plantar novas mudas, se está focando em ajudar o crescimento da vegetação nativa, removendo as espécies exóticas invasoras que competem com as plantas nativas e a proteção da área.

De acordo com o PRAD-TRI, a maioria, 58,2% das árvores no campus são nativas. Dentre as exóticas, o foco de remoção está naquelas que são, além de exóticas, também invasoras, ou seja, crescem e se reproduzem com velocidade. Entre as espécies exóticas invasoras sendo retiradas da UFSC estão pinheiros, casuarinas, e outras árvores de grande porte e que não fazem parte da nossa flora nativa, como os eucaliptos, que podem afetar a fauna, inclusive. Até mesmo algumas espécies de árvores frutíferas são consideradas exóticas e invasoras, como as goiabeiras e amoreiras. Em seu lugar, teremos as árvores que naturalmente ocorrem na Mata Atlântica, como as aroeiras e as paineiras, frutíferas como os araçás-vermelhos e a pitangueira, e de grande porte, como a olandi e a guabiroba, que também é frutífera. Essas duas últimas, inclusive, foram plantadas pelo reitor Irineu na última quinta-feira, dia 29. 

>> Conheça o inventário das árvores do campus da Trindade

Esse plantio é realizado principalmente pelas equipes da Coordenadoria de Manutenção das Áreas Verdes, do Departamento de Manutenção Externa da Prefeitura Universitária (DME/PU). Quem chefia essas equipes é Edson Alves Pereira, que ressalta que, o processo de plantio envolve etapas como preparar a área, cavar os buracos, adicionar composto e nutrientes, plantar a muda, com o uso de tutores como as estacas de bambu, e criar no local um “coroamento” ao redor da muda com material orgânico, para manter a umidade. 

Edson Alves Pereira, que coordena a Manutenção de Áreas Verdes na UFSC, explica que a UFSC usará a madeira das árvores exóticas e invasoras que foram retiradas do local para a proteção das novas mudas, entre outras finalidades. (Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC)

Há também um processo de acompanhamento das mudas, com um período de irrigação, controle de pragas e espécies invasoras, readubagem, substituição de mudas que não vingaram. Segundo o biólogo Allisson, esse processo ocorre por pelo menos três anos após o plantio das mudas, e para isso, pelo menos cinco trabalhadores da equipe de Edson ficam sempre envolvidos nas atividades do PRAD-TRI. 

Equipes da Prefeitura Universitária sinalizam e irão colocar cercamento na área que acaba de receber o plantio de mais de 200 mudas nativas. O monitoramento dessas árvores será constante, ao logo de três anos. (Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC)

Esse cuidado emociona o coordenador Edson quando fala de sua própria história e da trajetória de sua família com a UFSC. “Eu me criei aqui, meu avô trabalhava como vigilante no RU, minha mãe também trabalhou no Restaurante. Duas tias se aposentaram aqui. Eu trabalhei aqui desde muito novo, como terceirizado, depois passei no concurso, já faz mais de 30 anos. Esse campus é a minha casa, e é um prazer cuidar dele. Eu sinto que estou no lugar certo na minha vida, estou feliz em poder trazer a UFSC mais próxima ao que era, com tanta natureza”, relata.

A Prefeitura Universitária (PU) está envolvida em diversas outras etapas da execução do PRAD. Segundo o prefeito Matheus, além dos trabalhadores de áreas verdes, equipes executivas do Departamento de Manutenção Predial e Infraestrutura (DMPI) e do Departamento de Fiscalização de Obras (DFO) seguirão envolvidos, além do Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia (DPAE), que seguem envolvidos nos projetos.

“A curto prazo, o PRAD tem impacto significativo em especial na reorganização espacial de diversas áreas, com o cercamento e proteção das APPs, com a retirada dos lavadores de carros em sete pontos e com a demolição de algumas edificações críticas. Estes serão os impactos mais visíveis num primeiro momento”, detalha o prefeito.

Ele enumera as próximas ações, como as visitas às edificações do campus, com o objetivo de regularizar as instalações hidrossanitárias. “Serão realizados serviços de construção de caixas de esgoto, demolição e aterramento de fossas irregulares, construção de novas ligações de esgoto e também realizadas visitas pela equipe do programa Se Liga Na Rede”, detalha. 

Histórico

A sentença judicial pela reparação foi emitida em 2014, originada a partir de uma Ação Civil Pública, movida em 2007 contra a UFSC devido à canalização e o aterramento de um curso d’água existente no campus da Trindade. Na época, essa intervenção tinha o objetivo de urbanizar a área para a construção de blocos de ensino. Após a sentença, diversos estudos e audiências de conciliação ocorreram, até que o Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina aprovasse o plano, em outubro de 2024.

Equipes de diversos setores técnicos da UFSC estão envolvidos nas atividades de execução do PRAD-TRI. (Foto: Gustavo Diehl/ Agecom/UFSC)

O PRAD-TRI foi desenvolvido por um Grupo de Trabalho multidisciplinar que envolveu setores técnicos da Universidade como a Coordenadoria de Planejamento do Espaço Físico (Coplan), que integra o Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia (DPAE), a Prefeitura Universitária (PU) e a Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA). Após a aprovação do plano, em 2024, um novo Grupo de Trabalho foi constituído pela Prefeitura Universitária para a efetivação e implantação das medidas. O grupo é responsável pela coordenação e monitoramento das ações, planejamento das estratégias executivas e assessoramento técnico institucional.

Segundo a decisão judicial, a UFSC tem 30 meses para colocar em prática o planejamento. De acordo com Carolina Canella Peña, coordenadora de Planejamento do Espaço Físico da UFSC, a elaboração do PRAD precisou ser objetiva e austera, para que fosse realmente possível. “Foi um desafio encontrar uma solução que fosse realmente viável para a Universidade, com as limitações orçamentárias, de pessoal, e do próprio espaço físico. Foi preciso trabalhar junto ao Ministério Público Federal e junto ao IMA para chegar a esse projeto. A partir dele ainda temos ajustes internos a fazer, questões que ainda serão dialogadas e construídas com a comunidade”, salienta. 

A coordenadora lembra que o período de pouco menos de três anos para a execução do PRAD é curto, e depende do engajamento de toda a UFSC. “Realmente é necessário sensibilizar toda a comunidade universitária, que essa é uma intervenção que traz resultados positivos. Planejamos algo realmente exequível, que não seja algo rígido. Ainda temos detalhamentos a serem feitos, definições de modo de execução. 

O prefeito Matheus complementa que muitas das ações dependem de licitação, como as demolições, que entrarão em projetos de obras a serem executadas via licitação. Também é necessário realizar contratações para a execução das regularizações de esgoto e do monitoramento da qualidade da água. Esses processos são geridos pela PU e pela CGA e ocorrem concomitantemente a outras atividades nos quatro eixos do PRAD.

Para que tudo aconteça dentro do planejado, é importante que haja engajamento comunitário, um esforço conjunto para melhorar o ambiente do campus. “Quando a gente fala em construir, realmente, construir área verde também é um tipo de construção. Traz benefícios não só para os canais, que terão a qualidade da água recuperada, mas sim para o uso do campus. Para a gente passar em áreas verdes, que é tão agradável. Ver o campus com mais animais, mais fauna. Então, a gente realmente pensa que o campus pode ser esse grande esforço coletivo de trazer um ambiente melhor para o nosso próprio convívio”, reforça a engenheira da Coplan, Carolina Peña.

Conheça as principais ações e eixos do PRAD-TRI

Eixo 1 – Recuperação das Margens e Compensação Ambiental

proteção das APPs, plantios de mudas, demolição de edificações irregulares e retirada dos lavadores de carros irregulares, em áreas de APP

Eixo 2 – Qualidade da água

monitoramento e testagem da qualidade da água nos córregos durante o processo

Eixo 3 – Esgotamento Sanitário

regularização de ligações irregulares de esgoto, finalização de intervenções na infraestrutura do campus e outras adequações

Eixo 4 – Educação Ambiental

definição de ações, criação de materiais educativos e execução das atividades de oficinas, formação e visitas guiadas

Saiba mais

Sala Verde UFSC: plano de recuperação de áreas verdes degradadas em Florianópolis (PRAD-TRI)
DPAE UFSC: Recuperação de Áreas Degradadas

 

Mayra Cajueiro Warren | mayra.cajueiro@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC

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