Pesquisa da UFSC estuda formas de melhorar qualidade e expectativa de vida de pacientes com câncer de mama

Mulheres com com câncer de mama ainda apresentam muitos efeitos colaterais do tratamento oncológico e risco de recorrência da enfermidade. Foto: Victoria Strukovskaya / Unsplash
O câncer de mama é o tipo de tumor maligno mais diagnosticado e a principal causa de morte por câncer em mulheres de todo o mundo. Apesar de as taxas de sobrevivência após o diagnóstico terem aumentado nos últimos anos, mulheres com esta doença ainda apresentam muitos efeitos colaterais do tratamento oncológico e risco de recidiva (recorrência) da enfermidade. O assunto é tema de estudo para pesquisadoras do Grupo de Estudos em Nutrição e Estresse Oxidativo (Geneo) do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGN/UFSC), que têm investigado formas de melhorar a qualidade e a expectativa de vida de pacientes com câncer de mama.
Uma pesquisa realizada pela mestranda Jaqueline Schroeder, orientada pela professora Patricia Faria Di Pietro, teve como objetivo principal estudar o impacto da adesão às recomendações de alimentação, peso corporal saudável e prática de atividade física sobre biomarcadores específicos relacionados ao estresse oxidativo durante o tratamento do câncer de mama. O estresse oxidativo é um fenômeno que causa danos às células do organismo e, apesar de ser um efeito desejado no tratamento do câncer para causar a morte do tumor maligno, em excesso pode reduzir a tolerância das pacientes ao tratamento.
Jaqueline explica que o estresse oxidativo é um desequilíbrio que ocorre entre a geração de compostos oxidantes – que causa danos às células – e a atuação dos sistemas de defesa antioxidante do organismo. “Fatores como o envelhecimento humano, exposição a poluentes ambientais como fumaça de cigarro, solventes industriais e radiação, e padrões alimentares inadequados marcados pelo elevado consumo de alimentos ultraprocessados (industrializados), açúcar e álcool podem intensificar o estresse oxidativo e assim os danos celulares, expondo o corpo a doenças como acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardiovasculares e câncer”, afirma.

Consumo de vegetais, frutas, grãos integrais, especiarias, ervas e chás auxilia na prevenção de doenças. Foto: Dan Gold / Unsplash
A pesquisadora esclarece que ao se fortalecer o sistema antioxidante do organismo por meio da ingestão de alimentos ricos em compostos antioxidantes, como vitaminas A, C e E e os minerais zinco e selênio, consegue-se reduzir o estresse oxidativo e, assim, melhorar a proteção das nossas células, auxiliando na prevenção de doenças. Alimentos ricos em compostos antioxidantes são vegetais, frutas, grãos integrais (como aveia, linhaça, chia, quinoa, arroz integral) especiarias (como cúrcuma, tomilho, orégano, pimenta, cravo e canela), ervas e chás.
Outro intuito da pesquisa foi verificar a influência do cumprimento destas recomendações sobre a mortalidade, a sobrevivência e a recidiva em mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Como um último objetivo específico da pesquisa, foi proposta a elaboração e divulgação de produtos técnicos, tais como palestras, cartazes informativos, e-books e cartilhas sobre o tema para as mulheres sobreviventes do câncer de mama e público em geral. As recomendações que foram avaliadas e divulgadas fazem parte de um relatório lançado em 2018 pela World Cancer Research Fund e American Institute for Cancer Research (WCRF/AICR), duas organizações de destaque mundial.
As fases da pesquisa
O estudo foi realizado em duas fases distintas. A fase 1 ocorreu entre os anos 2006 e 2011. Durante este período, foram coletadas informações clínicas, sociodemográficas, peso corporal, altura e dados de consumo alimentar de mulheres com câncer de mama antes e depois do tratamento adjuvante (terapia realizada após a cirurgia de retirada do tumor mamário). Este tratamento geralmente envolve quimioterapia, radioterapia e/ou terapia com hormônios.
A fase 2 ocorreu nos anos de 2020 e 2021 e consistiu na coleta de dados sobre mortalidade, recidiva e tempo de sobrevivência das mesmas pacientes. Um escore específico foi calculado para todas as mulheres para verificar como eram seguidas as recomendações da WCRF/AICR por estas pacientes antes e depois do tratamento adjuvante, ou seja, após finalizar a quimioterapia e/ou a radioterapia.
Para associar o escore da WCRF/AICR com os biomarcadores de estresse oxidativo, 78 pacientes foram consideradas. Os resultados indicaram que uma maior adesão às recomendações antes do tratamento oncológico impactou em menores concentrações de oxidação de proteína e lipídeos no sangue. Verificou-se também que as pacientes que tiveram menor adesão às recomendações da WCRF/AICR apresentaram concentrações mais baixas de antioxidante no sangue, reduzindo assim a proteção às células contra a oxidação.
Já na relação entre adesão às recomendações da WCRF/AICR e mortalidade, tempo de sobrevivência e recidiva das mulheres com câncer de mama, foram consideradas 101 pacientes. Demonstrou-se que as mulheres que menos seguiram as orientações tiveram uma menor chance de sobreviver após 10 anos do diagnóstico do câncer de mama, quando comparadas com as pacientes que aderiram mais às recomendações.
Durante a pesquisa, foram realizadas três palestras envolvendo diferentes profissionais da saúde, como educador físico, nutricionista, psicóloga e enfermeira, e elaborados materiais informativos sobre o tema destinados ao público em geral e às participantes da pesquisa. As palestras podem ser visualizadas no canal do Projeto UFSC Hábitos Saudáveis no Youtube e os materiais informativos podem ser acessados através do QR Code disponibilizado na figura ao lado ou pelo no site do Laboratório de Comportamento Alimentar (LACA) da UFSC.
Todos os resultados desta pesquisa são oriundos da dissertação de mestrado da pesquisadora Jaqueline Schroeder. O estudo recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio de concessão de bolsa de estudo de mestrado.
“Entendo que os resultados alcançados trazem novas perspectivas sobre o manejo do estresse oxidativo exacerbado durante o tratamento oncológico do câncer de mama, o que pode melhorar a tolerância das pacientes ao tratamento”, avalia Jaqueline. “Também, as associações encontradas entre o seguimento de recomendações de dieta, peso corporal e atividade física e a maior sobrevivência após o câncer de mama, através de análises de sobrevivência em 10 anos após o diagnóstico do câncer de mama, reforçam a importância de se ter um estilo de vida saudável mesmo após a superação do câncer”, complementa.
Maykon Oliveira / Jornalista da Agecom / UFSC
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