Professores da UFSC Curitibanos colaboram com investigações sobre mortes de macacos na região
Desde dezembro de 2020, 19 macacos do gênero Alouatta, também conhecidos como bugio-ruivo, foram encontrados mortos na região de Curitibanos. Acionados pela Secretaria de Saúde do município, professores de Medicina Veterinária do Campus de Curitibanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vêm ajudando a investigar as causas dos óbitos. Os primeiros resultados dos testes, referentes a dois animais de Curitibanos e um de Frei Rogério, chegaram nesta quinta-feira, 11 de fevereiro, e confirmam a principal suspeita dos pesquisadores: a febre amarela.
O Alouatta, além de ser o macaco predominante da região, “é extremamente sensível ao vírus. Então, é muito fácil a gente encontrar ele morto, porque quando ele pega febre amarela, normalmente vai a óbito em poucos dias. É muito rápida a morte dele”, comenta a professora de Medicina Veterinária da UFSC Sandra Arenhart, que tem colaborado com as investigações. “Quando morrem vários macacos assim, a gente sempre suspeita de febre amarela. Claro que eventualmente podem ter outras causas, mas quando são vários macacos, como está acontecendo, normalmente é febre amarela. A primeira suspeita que temos é essa”, complementa a docente.
A febre amarela é uma doença infecciosa causada por um vírus do gênero Flavivirus e transmitida por mosquitos em áreas urbanas ou silvestres. Em ambientes de florestas, o vetor da doença são os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, enquanto no meio urbano a transmissão se dá pelo Aedes aegypti – o mesmo da dengue. Entre humanos e macacos a forma de contaminação é a mesma: ela acontece a partir da picada por um mosquito infectado. O período de dezembro a maio é justamente o de maior incidência da doença, e a única forma de evitá-la é a vacinação.
O monitoramento das mortes de macacos é fundamental, porque serve como aviso da circulação do vírus na região. Eles são considerados sentinelas da presença da febre amarela. “Normalmente, esses casos nos animais precedem casos da febre amarela em humanos. Antes de a gente ver febre amarela nas pessoas, vê nesses macacos. Então, a grande importância desses animais é esse alerta que acaba acontecendo, infelizmente, através da morte deles. Quando a gente vê isso, acende o alerta para febre amarela, e vai investigar e alertar as pessoas que vivem na região para a necessidade de se vacinar”, explica Sandra.
Etapas das investigações
O órgão responsável pelo monitoramento em Curitibanos é a Secretaria Municipal de Saúde. Como a equipe local, contudo, não conta com veterinários em seu quadro para a realização das necropsias dos animais, buscou-se a parceria com a Universidade. “A gente colabora com eles sempre que possível. Quando recebem uma notificação de um caso de macaco morto, eles falam com a gente pra ver se podemos ajudar a colher [as amostras]. Nem sempre a gente vai, porque às vezes vem a bióloga, lá de Videira, que é quem coordena essa parte de zoonoses nesta regional de saúde. Mas, como temos vários casos, nem sempre eles conseguem dar conta de tudo”, relata Sandra. Além dela, colabora com o trabalho Adriano Tony Ramos, também professor de Medicina Veterinária no Campus de Curitibanos, e eventualmente alunos de Medicina Veterinária se juntam aos docentes nas investigações.
“A gente avalia esses animais pra ver se tem algum sinal que pareça febre amarela, ou se de repente ele morreu porque foi atropelado, se foi envenenamento… Tudo isso dá para, mais ou menos, ver quando se colhe a amostra e vai na ficha da notificação da ocorrência da morte. Então, a gente colhe as amostras, colhe alguns tecidos onde se sabe que provavelmente, se tiver o vírus da febre amarela ali, ele vai ser encontrado. O principal órgão é o fígado, mas colhemos também amostra do sistema nervoso central, cérebro, pulmão, coração, estômago, baço. Pode colher do intestino também. São vários órgãos que a gente pode colher e ver como está o estado, se tem alguma lesão que possa sugerir que o animal tenha vindo a óbito por causa da febre amarela”, descreve Sandra. Todas as amostras são encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Florianópolis, que confirma se os casos se tratam ou não de febre amarela.
Orientações para a população
Ao avistar um macaco morto, é essencial que se comunique imediatamente à Secretaria Municipal de Saúde. Esses animais não são transmissores da febre amarela, e sim vítimas da doença, como os humanos. Mesmo assim, não se deve tocar nos animais, que podem estar contaminados com essa ou outras enfermidades.
É importante, também, que a população busque os serviços de saúde para se vacinar contra a doença. “A recomendação da vacinação para febre amarela é para todas as pessoas, começando já com os bebês que têm mais de nove meses. Não interessa se a pessoa vive na cidade ou no campo, todas as pessoas devem se vacinar”, afirma Sandra, salientando que a recomendação da vacinação é válida para todo o estado de Santa Catarina.
Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC