Egressos da UFSC Curitibanos destacam-se no cultivo e comercialização de produtos orgânicos
Inaugurado há pouco mais de dez anos, o campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de Curitibanos já atua como um agente catalisador do empreendedorismo local, seja com a formação de profissionais capacitados ou no melhoramento de variedades agrícolas cultivadas na região. A trajetória do casal formado pelos egressos do curso de Agronomia Beatriz Ribeiro Gomes e Jean Alberto Zanghelini ilustra bem essa parceria. Os conhecimentos técnicos que eles adquiriram no curso de graduação são aplicados no cultivo de uvas e morangos orgânicos e também contribuem para a sustentabilidade empresarial de uma cooperativa.
A Universidade teve um papel importante na escolha da atividade a que se dedicariam inicialmente, a viticultura. “Desde que iniciou o projeto, trabalhamos com o professor Leocir José Welter no melhoramento genético das videiras, com ênfase na resistência a doenças”, afirma Beatriz. Recentemente, unindo-se a outros dois produtores associados da Cooperativa de Agricultores Familiares de Curitibanos e Região – Coper Planalto Sul, o casal conseguiu um volume de produção de uvas suficiente para viabilizar a fabricação do primeiro suco de uva orgânico produzido na região e registrado no Ministério da Agricultura. O suco, processado em Videira, é comercializado com a marca da cooperativa e tem parte da produção destinada à merenda escolar.
Jean e Beatriz se conheceram em 2011, no primeiro semestre da graduação na UFSC em Curitibanos. Sempre estudaram juntos e com o correr do tempo passaram de colegas a namorados. Ainda durante os estudos, se interessaram por um projeto de cultivo de uvas que tinha apoio da prefeitura de Curitibanos e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Com o objetivo de diversificar a produção agrícola do município, a prefeitura incentiva novas culturas – entre elas a da videira -, com o fornecimento das mudas. E a Epagri presta assistência técnica.
Eles começaram a cultivar os parreirais em uma propriedade na área rural de Curitibanos que era utilizada para lazer pela família de Beatriz. “A gente sempre trabalhou sem uso de produto químico e adubação, seguindo de certa forma a legislação de produção orgânica. Mas aí resolvemos procurar a certificação orgânica em 2017”, conta Beatriz. O selo de produto orgânico foi obtido em 2018. Após a graduação na UFSC, o casal prosseguiu seus estudos e hoje ambos têm mestrado em Produção Vegetal. Nessa época, conheceram a cultura do morango, que passaram a produzir junto com as uvas.
No início de 2019, ambos tornaram-se associados da Coper Planalto Sul e hoje Beatriz é presidente da empresa. A cooperativa tem sede em Curitibanos e atualmente conta com 47 sócios nos municípios de São José do Cerrito, Ponte Alta do Norte e Frei Rogério. São 25 famílias envolvidas no cultivo e comercialização de produtos orgânicos, principalmente hortaliças, com certificação pela rede Ecovida. A cooperativa é fornecedora do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Merenda Escolar.
A comercialização dos produtos in natura ou minimamente processados também é feita através de feiras livres e de cestas de produtos orgânicos entregues diretamente para os clientes. “Também fazemos venda em conjunto para empresas especializadas em São Paulo”, revela Beatriz. “A gente vem num trabalho de apresentação da cooperativa, desenvolvimento de novos produtos, busca por novos mercados”, afirma a presidente, revelando que a empresa tem experimentado um crescimento significativo desde janeiro de 2019, mesmo diante da pandemia de Covid-19.
A pandemia, ao contrário, parece ter criado uma oportunidade para os produtores de orgânicos. Houve um aumento da procura por alimentos saudáveis como a cesta de hortaliças fornecida pela cooperativa. Beatriz e Jean querem aproveitar o momento para diversificar e para isso adquiriram uma nova propriedade rural. “Nessa nova propriedade a gente está implantando um sistema de produção orgânica, aplicando realmente a técnica, para mostrar que é uma alternativa de sistema produtivo. O conhecimento técnico nos auxilia muito”, revela. Eles pretendem plantar amora, mirtilo, batata-salsa amarela, cebola, abóbora, cabotiá, brócolis ramoso e couve-flor. O objetivo, além de ter diversidade de culturas, é conseguir maior volume de produção visando atingir novos mercados, como São Paulo, sem deixar de vender no mercado local.
Os dois egressos procuram manter uma relação de parceria com a UFSC. “Com o professor Leocir a gente criou uma relação de amizade. Permaneceu essa amizade, mas também muita troca de conhecimento, de vivência”, afirma Beatriz. “Temos outros professores que nos auxiliam com a feira de rua, são nossos parceiros, vão lá, levam os alunos para apresentar trabalhos, nos auxiliam. Tem professores que já levaram turma até a nossa propriedade, para fazer visita. E também já foram à propriedade de outros sócios, para conhecer o sistema orgânico. E além de tudo eles são nossos clientes, especialmente da cesta de produtos orgânicos”, diz a presidente da cooperativa.
O interesse de alguns agricultores da região na produção de orgânicos remonta ao ano de 2002, quando eles conhecerem o projeto de microbacias hidrográficas do governo estadual. Na época, a Epagri promoveu cursos de capacitação dos agricultores e incentivou o cultivo de produtos orgânicos, apresentado como oportunidade de obtenção de renda. Esses produtores de orgânicos se uniram e criaram a Coper Planalto Sul no final de 2012, com a finalidade de comercializar em conjunto a produção dos associados. Em 2015, através do Programa SC Rural, a cooperativa recebeu apoio e financiamento para a construção de uma agroindústria de hortaliças minimamente processadas.
Luís Carlos Ferrari /Agecom/UFSC
