Projeto Córdoba: Colégio de Aplicação da UFSC recebe estudantes de escola argentina
Os alunos sentados em uma mesa oval observam com atenção Imanol, de 18 anos, explicar o andamento da sua pesquisa de campo. O professor Tomás Fontan do Colégio de Aplicação (CA) da UFSC intervém por um momento, provocando o aluno sobre o método de entrevista utilizado. O aluno rebate, com a justificativa. Essa mesma dinâmica aconteceu durante parte da tarde do dia 27 de agosto, com outros nove alunos argentinos do Projeto Córdoba. A cada quinze dias, os intercambistas se reúnem na sala do projeto ou no laboratório de Geografia do CA, como aquele dia, para discutir o andamento das pesquisas e do intercâmbio.
O Projeto Córdoba é um acordo de cooperação entre o Colégio de Aplicação da UFSC e a Escuela Superior de Comercio Manuel Belgrano da Universidad Nacional de Córdoba para troca de alunos entre as escolas. Desde a sua criação, em 1992, o Acordo de Cooperação Acadêmico e Cultural Brasil/Argentina contou com mais de 400 estudantes. Durante dois meses, argentinos e brasileiros trocam as rotinas: têm aulas no mesmo colégio e moram temporariamente na casa dos alunos que viajaram para seu país. Aprendem, vivendo, como a cultura além da fronteira funciona. Incluindo até a linha de ônibus. Distribuídos entre os bairros de Florianópolis, alguns alunos precisaram se adaptar à rotina de um, dois ou até três ônibus para chegar ao Colégio, como o caso da Julieta, de 15 anos, moradora temporária da Palhoça. Imanol faz um trajeto ainda maior, incluindo a barca da Costa da Lagoa, toda manhã, para cruzar a Lagoa da Conceição. “É diferente, toda uma nova configuração familiar, de costumes…” comenta, sorrindo com os colegas.
Os alunos são inseridos no colégio como qualquer outro estudante. Divididos entre turmas do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, assistem aulas com todos os outros, sem tradução simultânea. A primeira semana de adaptação foi a mais desafiadora, brinca Micaela, de 17 anos. “Foi complicado acompanhar a língua e a matéria ao mesmo tempo”. Ainda com aulas de português na Escuela Manuel Belgrano, a intercambista levou um tempo para entrar no ritmo. Os outros alunos concordam, alguns em silêncio, outros estendendo a lista de diferenças entre as culturas. “A escola também é menor”, compara Lucia em referência aos mais de aos mais de 2,6 mil alunos da Escuela Manuel Belgrano, em contraste aos quase mil do Colégio de Aplicação. Até a vegetação da cidade causou estranhamento: “Aqui tem muitas árvores. Lá não é assim”, aponta Julieta, com olhar vago, provavelmente visualizando Córdoba.
Para a professora Danuza Meneghello, esse reconhecimento das diferenças é uma das bases do projeto. “O nosso sonho é realmente discutir as diferenças na América Latina e mostrar que elas podem nos aproximar ainda mais”, explica a docente de Geografia. Atualmente coordenadora do Projeto Córdoba, a professora acredita nos estudantes para levar para fora todos os ensinamentos e experiências vivenciadas para além do período do Projeto. “Se for pensar nas pessoas envolvidas com eles (alunos intercambistas), o número de pessoas influenciadas é muito grande”, completa.
A realização de uma pesquisa de campo no país visitado, elaborada pelos próprios estudantes, tem o objetivo de incentivar os alunos a interagir, explorar e conhecer a comunidade ao seu redor. Com as entrevistas e questionários discutidos na orientação com os professores, eles coletam dados sobre a comunidade escolar e aplicam às suas pesquisas. As manifestações musicais são o tema desse ano. A partir daí, cada aluno precisou desenvolver uma análise para investigar durante o intercâmbio. Desde a etapa de elaboração, os alunos precisaram imergir na cultura e história do Brasil, pelo menos um semestre antes da viagem acontecer.
Entre os alunos argentinos, aqui no Aplicação, os objetos de pesquisa são os mais variados: desde representações de gênero no rap, como a pesquisa do Salvador, de 15 anos, ao estudo de como os jovens utilizam a música como agente de socialização entre eles, pesquisa da Lucina e da Carola, de 16 e 17 anos, respectivamente.
O plano de pesquisa é um dos critérios de aprovação no processo seletivo do Projeto Córdoba, mas não o único. Dentro do Colégio de Aplicação, são levados em consideração três parâmetros principais: aprovação no idioma nativo do país de destino, bom índice escolar em todas as disciplinas e resultado favorável no conselho de classe, decidido entre os professores. A participação em algumas atividades promovidas pelo Projeto, como seminários, palestras e oficinas também é levada em consideração. O processo, geralmente, é aberto no início do ano; e a viagem é realizada no segundo semestre. Este ano, foram abertas dez vagas, considerando o número de turmas disponíveis. As dez alunas do Colégio de Aplicação realizando o intercâmbio em Córdoba levaram para lá os seus projetos em andamento, com pesquisas sobre elementos comuns na cultura brasileira e argentina, como músicas de matriz africana.
Para o final do período do intercâmbio, os professores planejam um festival de música no Colégio de Aplicação, com a reunião dos alunos argentinos e das estudantes brasileiras, já de volta a Florianópolis. O retorno das alunas está previsto para o fim deste mês, no dia 29 de setembro. Os dados coletados das pesquisas de toda a turma serão compartilhados com a comunidade escolar ao longo da semana seguinte.
Mais informações na página do Projeto Córdoba.
Erick Souza / Estagiário de Jornalismo / Agecom / UFSC