Estudantes da UFSC embarcam para Piauí integrando o Projeto Rondon

15/07/2019 11:57

Mais de três mil quilômetros separavam os oito estudantes da UFSC selecionados pelo Projeto Rondon da cidade onde irão atuar. Isso até a tarde da última quinta-feira, 11 de julho, quando os jovens, acompanhados de duas professoras, embarcaram rumo a Paquetá — um entre os dez municípios do Piauí onde serão desenvolvidas atividades da Operação João de Barro, pelo Projeto Rondon.

Coordenador do Projeto Rondon, Alcides Milton da Silva. Foto: Henrique Almeida / Agecom / UFSC

O coordenador do Projeto Rondon na UFSC, Alcides Milton da Silva, professor do Departamento de Saúde Pública (SPB), foi até o hall da Reitoria para se despedir dos estudantes e desejar-lhes boa viagem. “Vocês irão desenvolver seus trabalhos, levar conhecimento e ajuda, mas também aprender muito. Quem pensa que vai só para ensinar está enganado” falou aos acadêmicos. Alcides, que trabalha no projeto desde 2008, também já participou como rondonista ( como são chamados os professores e estudantes universitários que participam do projeto) em duas operações. A primeira em 2008, na Operação Grão-Pará, no município de Joaquim Pires, também no Piauí, e a segunda em 2010, durante a Operação Centro-Nordeste, em Ichú, na Bahia. Segundo ele, o Projeto Rondon é mais que uma iniciativa educacional e social: “É uma poderosa ferramenta de transformação social, na medida em que conscientiza jovens que terão nas mãos o destino deste país e serão protagonistas na busca de uma sociedade mais justa”. Alcides lembrou que no dia 11 de julho, a data da partida, também é comemorado o Dia do Rondonista, em referência à primeira operação enviada do Rio de Janeiro a Rondônia, em 1967, composta por 30 estudantes e dois professores, batizada de Operação Zero.

A vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann falou da própria experiência como estudante no Projeto Rondon. Foto: Henrique Almeida / Agecom / UFSC

Além do coordenador, também estavam presentes a vice-reitora, Alacoque Lorenzini Erdmann; o pró-Reitor de Extensão, Rogério Cid Bastos; alguns pais dos estudantes e as duas professoras que acompanharão toda a viagem. “Esse é o projeto de extensão mais bem-sucedido dentro das universidades brasileiras”, afirmou Bastos, que também parabenizou os estudantes e tranquilizou os pais quanto à segurança dos filhos. A vice-reitora contou que também foi rondonista, quando em 1970 participou do Projeto durante um mês, mas pela Universidade Federal de Santa Maria, onde estudava na época. “Desejo a vocês boa viagem, que representem bem nossa Universidade e façam um trabalho prazeroso, no sentido de conhecer a comunidade e atender às expectativas das pessoas de lá”, desejou Alacoque.

A Operação João de Barro, que será realizada entre 12 e 28 de julho, também terá atividades em outros nove municípios do Piauí: Arraial, Barra D’ Alcântara, Dom Expedito Lopes, Francinópolis, Francisco Ayres, Inhuma, Novo Oriente do Piauí, São José do Piauí e Várzea Grande. O Centro Regional da operação será em Teresina, capital do Piauí, localizada a 327 quilômetros de Paquetá. Os municípios foram escolhidos de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região, priorizando os que tivessem o índice mais baixo. Paquetá, de aproximadamente 4 mil habitantes, está em 211º na lista de 224 municípios do Piauí.

 

Os estudantes

Alice de Maman Nied  (Engenharia de Alimentos): Alice está na 9ª fase do curso, já conhecia o Projeto Rondon a partir da experiência de alguns amigos, e decidiu inscrever seu projeto. A estudante vai fazer uma oficina sobre segurança alimentar falando das políticas públicas na área para os gestores do município, e outra oficina para a comunidade em geral sobre alimentação saudável. Além disso, também participará de uma oficina de confecção de óculos de realidade virtual com papelão, e outra direcionada aos professores, sobre metodologia de ensino e aprendizagem.

 

Bárbara Rahn (Farmácia): A estudante da 9ª fase já queria participar do Projeto Rondon desde que entrou na UFSC. “Eu sempre quis conhecer realidades diferentes, o Brasil é muito grande e eu acho que será uma experiência muito enriquecedora”, conta Bárbara, que pretende fortalecer principalmente a área da saúde na região onde atuará. Ela vai desenvolver oficinas relacionadas à vacinação, buscando aumentar a cobertura vacinal da população, além de integrar as equipes de saúde com as de vigilância epidemiológicas da cidade, a fim de tornar a saúde preventiva mais efetiva.

 

Bianca Tribéss (Psicologia): Estudante da 7ª fase, Bianca conta que já conhecia o Projeto antes mesmo de entrar na universidade. Em 2015 participou do II Congresso Nacional do Projeto Rondon, que aconteceu na UFSC, para se informar melhor sobre o projeto e foi onde conheceu outros estudantes que já tinham participado. “Sair um pouco da universidade e conhecer outros órgãos e instituições vai ser bem importante, vamos tentar articular o que já existe lá com os projetos que estamos levando e que podemos construir juntos”, espera Bianca. Ela vai desenvolver oficinas sobre a Lei Antimanicomial e sobre os primeiros auxílios psicológicos de atenção que devem ser prestados em casos de crise.

Felipe Mateus Ubema Giancomi (Medicina): A prima de Felipe e outros de seus amigos já participaram do Projeto, o que fez o estudante da 9ª fase de Medicina sonhar em fazer parte de alguma operação logo que entrou na universidade. Ele acredita que é uma chance de levar os conhecimentos que desenvolveu para uma região completamente diferente, o que também trará a oportunidade de um intercâmbio cultural dentro do próprio país. Felipe desenvolverá projetos na área de saúde e cultura, com oficinas de orientação sobre  doenças sexualmente transmissíveis, e pretende criar espaços para estimular a cultura da região.

João Pedro de Toni de Almeida (Engenharia Mecânica): O estudante da 7ª fase de Engenharia Mecânica conheceu o Projeto Rondon ouvindo as experiências de dois amigos que participaram de operações em 2017 e 2018. Ele conta que sempre teve vontade de trabalhar em projetos sociais, e gosta muito da proposta do Rondon, que não é desenvolver ações pontuais e sim duradouras, que passem a integrar a comunidade mesmo depois que os estudantes voltarem pra casa. João está muito curioso sobre o que encontrará no Piauí, por se tratar de um contexto social completamente diferente do seu.

Maria Eduarda Coelho (Medicina Veterinária): Estudante da 10ª fase de Medicina Veterinária do campus de Curitibanos, ela acredita que será a chance de passar conhecimentos adquiridos na universidade para pessoas que não tiveram a mesma oportunidade. “Nossa instituição é federal, então é com a ajuda de todo mundo que estamos aqui dentro estudando. Poder retribuir isso de alguma forma é minha principal motivação”, contou. Ela pretende ajudar na criação de um plano municipal dos direitos das crianças, visando um trabalho conjunto com pais e professores para assegurar direitos básicos da infância: o de estudar, permanecer na escola, brincar e fortalecer a luta contra o trabalho infantil e a exploração sexual.

Victor Milis Wandelli (Odontologia): Estudante da 8ª fase, Victor se inscreveu no Projeto pensando em dar um retorno para a sociedade, a partir da perspectiva de que sua formação profissional está sendo custeada através dos impostos de toda a população. Ele acredita que será a oportunidade de ter uma vivência mais prática e interdisciplinar, onde poderá aplicar os conhecimentos técnicos que aprendeu durante a graduação. Victor ministrará uma oficina sobre bullying, abordando a descrição e histórico do tema, e discutirá com profissionais da educação da cidade como e de que formas a prática está presente no cotidiano das escolas. A ideia é entender o problema — que lá é chamado de “mangá” — e traçar  um plano de ação com estratégias de enfrentamento para cada escola.

Viviane Pereira Machado (Eng. Sanitária e Ambiental): Estudante do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da 8ª fase, Viviane está inscrevendo um projeto pela segunda vez no Projeto, e desta vez foi contemplada. A partir dos relatos de uma amiga que já participou, a estudante decidiu que buscaria participar do Projeto antes de terminar sua graduação na UFSC. “É um trabalho voluntário que te tira da zona de conforto. Teremos a possibilidade de conhecer e entender a cultura local, não temos a pretensão de levar uma suposta ‘cultura sulista’, mas sim trocar experiências e fortalecer o desenvolvimento social da região”. A estudante vê as oficinas que serão realizadas em Paquetá como um espaço de troca, onde os estudantes terão contato e entenderão os problemas daquela população. Uma das oficinas será sobre handebol e educação, abordando as práticas esportivas no contexto educacional, além de cine debates e conversas sobre segurança e hábitos alimentares.

 

Projeto Rondon na UFSC 

Esta é a 29ª participação de uma equipe da UFSC no Projeto Rondon, que colabora  desde 2005, quando houve a retomada do projeto. Segundo a vice-reitora, entre a década de 70 e 1988, a UFSC tinha uma sede em Santarém, no Estado do Pará, onde residiam professores da Universidade e eram acolhidos os estudantes que iam participar das operações, com a duração de permanência de um mês. O Projeto coordenado pelo Ministério da Defesa estabelece que suas regiões prioritárias de atuação são aquelas com maiores índices de pobreza e exclusão social, bem como áreas isoladas do território nacional e que necessitem de maior aporte de bens e serviços. Por essa razão, a Diretriz Estratégica do Projeto Rondon prioriza as regiões Norte e Nordeste do país. Ao todo, já participaram cerca de 20.090 rondonistas em 155 operações. A previsão dessa vez é que 440 rondonistas participem do Projeto, distribuídos nas operações Vale do Acre, no Acre, e João de Barro, no Piauí.

Estudantes antes do embarque no aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis. Foto: Divulgação

Além dos oito estudantes, também integrarão a Operação duas professoras da UFSC. Renata Goulart Castro, professora do Departamento de Odontologia, já participa do Projeto desde 2014 e esta é sua quinta missão supervisionando a equipe. O trabalho é realizado em várias etapas e começa bem antes do embarque. “Tentamos preparar os estudantes para pensar junto com as comunidades estratégias de enfrentamento de problemas que estão lá”, conta, falando que também há diversos problemas em Santa Catarina, mas, muitas vezes, a rotina e familiaridade com a cultura não permitem percebê-los. Já a professora Ana Maria Hecke Alves, também do Departamento de Odontologia da UFSC, está indo pela primeira vez, apesar de já ter ampla experiência em projetos de extensão. “Durante todo esse percurso de preparação os estudantes pesquisaram muito, já focados em demandas que a comunidade que atenderão no Piauí traz”, diz e conclui que essa é uma oportunidade de aprendizagem única.

Os estudantes da UFSC que desejarem participar das próximas edições do Projeto devem ficar atentos aos processos seletivos disponibilizados no site da Pró-Reitoria de Extensão.

 

O Projeto Rondon

O Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa, visa integração social e envolve a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população. É realizado em parceria com diversos ministérios e tem o apoio das Forças Armadas, que proporcionam o suporte logístico e a segurança necessários às operações.

Os rondonistas realizam atividades concentradas nas áreas de Comunicação; Cultura; Direitos Humanos e Justiça; Educação; Meio Ambiente; Agropecuária; Saúde; Tecnologia e Trabalho. As Instituições de Ensino Superior participantes devem propor ações com caráter de extensão, que contribuam para o desenvolvimento sustentável das comunidades e o fortalecimento da cidadania do estudante, pensando no bem-estar social e na qualidade de vida das comunidades carentes, usando para isso, as habilidades e as técnicas adquiridas pelos estudantes durante a formação universitária.

Os oito estudantes da UFSC foram selecionados de acordo com os critérios do edital 087/2018, que previa a elaboração de um trabalho contextualizando o território onde será desenvolvida a operação, juntamente com duas propostas de ações. As equipes trabalham no município durante duas semanas, após treinamentos de cerca de dois dias na capital do Estado onde irão atuar.

Mais informações sobre as operações podem ser encontradas no site oficial do Projeto Rondon.

 

Karina Ferreira / Estagiária de jornalismo / Agecom / UFSC

Imagens: Henrique Almeida / Agecom / UFSC

 

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