Curso de extensão no CFH aborda temas da Marcha das Margaridas

09/07/2019 15:15

De quatro em quatro anos, mulheres trabalhadoras de todas as partes do Brasil se reúnem em Brasília em defesa de seus direitos, da democracia e da soberania do povo brasileiro. Elas são trabalhadoras do campo, das águas e das florestas e marcham inspiradas pela história e memória de Margarida Maria Alves, liderança camponesa assassinada há 36 anos por defender os direitos das trabalhadoras e trabalhadores rurais. Em 2019, a Marcha das Margaridas espera reunir ao menos 100 mil mulheres entre os dias 13 e 14 de agosto. Pensando nisso, o Núcleo de Estudos sobre Agricultura Familiar (NAF) do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), em parceria com o Instituto de Estudos de Gênero (IEG) e Laboratório da Agricultura Familiar do Centro de Ciências Agrárias (CCA), promoveu um curso de extensão para reunir especialistas, pesquisadores, professores, estudantes e demais interessados no tema. Com o título Desenvolvimento Territorial Sustentável na perspectiva das mulheres do campo, das águas e das florestas, o curso dividido em quatro partes, reuniu cerca de 35 pessoas por encontro, tanto da comunidade universitária como de outras universidades. 

O curso de extensão foi pensado para abordar os temas que fundamentam a Marcha das Margaridas e é o primeiro até então realizado na UFSC. “Tivemos a percepção da falta de espaços de discussão dentro da universidade sobre as questões das mulheres rurais”, conta Karolyna Herrera, pesquisadora do NAF e uma das organizadoras do evento. O curso foi elaborado seguindo os dez eixos políticos da Marcha das Margaridas, que foram transformados em Cadernos de Debate pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), que ajuda na articulação nacional das mulheres que participarão da Marcha. 

Curso encaminha participação na Marcha das Margaridas

Um dos encontros do curso de extensão. Foto: divulgação

Nas três últimas terças-feira de junho e na primeira de julho, os participantes puderam ter contato com temas como violência, liberdade sobre o corpo, questões de saúde e educação. Uma das dificuldades da organização, segundo Karolyna, foi encontrar especialistas sobre esses temas com o recorte de gênero e territorialidade, ou seja, aplicados à vida das mulheres de fora do contexto urbano. O primeiro encontro abordou o histórico e as questões políticas da Marcha das Margaridas, e também a motivação em fazer o próprio curso. No segundo, a autodeterminação dos povos, a soberania alimentar e energética foram discutidas por uma palestrante ligada ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e por uma doutoranda equatoriana do CCA da UFSC. O encontro seguinte teve como tema de discussão a autonomia econômica, trabalho e renda e foi guiado pela coordenadora do NAF, Maria Ignez Paulilo. O último encontro abordou as questões ligadas à educação e foi conduzido por uma professora da educação no campo. A diversidade de temas também atraiu um público de diversas áreas de ensino da UFSC: estudantes, professores e pesquisadores da Sociologia, Serviço Social, Direito, Ciências Agrárias e Aquicultura. 

“A violência no campo tem aumentado: violência contra a mulher, assassinatos de líderes sindicais em conflitos de terras, assim como a prostituição nas áreas de garimpos ilegais.” Por conta dos relatos trazidos por pessoas que convivem e estudam o contexto das mulheres agrárias, a sensação ao final dos quatro encontros foi um misto de motivação e tristeza, relatou Karolyna. Como encaminhamento, os participantes decidiram tentar participar da Marcha das Margaridas presencialmente em Brasília, no próximo mês. “É claro que há uma dificuldade financeira para chegar até lá, principalmente com os cortes de recursos na educação” conta Karolyne, “mas apesar disso tentaremos estar lá marchando com as Margaridas”.

Karina Ferreira/Estagiária de Jornalismo/Agecom/UFSC

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