Professores afastados pela Operação Ouvidos Moucos retornam às atividades

Reitor e vice-reitora receberam, nesta segunda-feira, 15, os três professores que estavam afastados por operação policial. Foto: Ítalo Ferreira/Agecom/UFSC
Na última quinta-feira, 11 de outubro, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) recebeu a notificação da 1ª Vara Federal de Florianópolis dando ciência à Universidade da liberação dos três professores que continuavam afastados – Gilberto Moritz, Rogério Nunes e Márcio Santos. A decisão judicial também liberou Luciano Castro do impedimento de dirigir a Secretaria de Educação a Distância (Sead). A cerimônia de recepção aos professores ocorreu nesta segunda-feira, 15 de outubro, data em que também é comemorado o Dia do Professor.
O reitor Ubaldo Cesar Balthazar, a vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann e os demais membros da Administração Central – pró-reitores, secretários -, além de diretores de centros de ensino, familiares, advogados, amigos e colegas estiveram presentes no Gabinete da Reitoria para dar as boas-vindas aos professores afastados. Assim como nas demais ocasiões de recepção aos professores também afastados Marcos Dalmau e Eduardo Lobo, formou-se um círculo e várias pessoas tomaram a palavra para prestar seu apoio e solidariedade aos colegas.
“Pela terceira vez, nos reunimos. Muito mais que um ato formal de dar ciência à decisão judicial, é um momento simbólico de acolher. Não por acaso, hoje, no dia do professor”, ressaltou Aureo Moraes, chefe de Gabinete da Reitoria.
O reitor Ubaldo falou da dificuldade do momento da recepção, dos sentimentos conflitantes de tristeza e alegria. “Espero que seja o começo do fim de uma história trágica. Este é um momento que me toca, me emociona, quando eu penso no porquê que estamos fazendo isso aqui hoje. Eu também espero do fundo do meu coração que isso nunca mais aconteça. Uma tragédia que eu não conheço nada parecido. Estou aqui por causa da tragédia, eu me repito, mas digo para vocês: eu não deveria estar aqui. Estamos aqui porque faltou bom senso, faltou sensibilidade, faltou conhecimento do que é uma universidade”, exclamou.

Pró-reitor de Graduação, Alexandre Marino, dirige-se aos presentes durante cerimônia no Gabinete da Reitoria. Foto: Ítalo Ferreira/Agecom/UFSC
Gilberto Moritz ressaltou, em sua fala, a sua trajetória de mais de 40 anos dentro da UFSC. Pouco antes da deflagração da Operação Ouvidos Moucos, Moritz se preparava para entregar sua documentação para aposentadoria. “Agradeço muito a gentileza da recepção. Isso, de certa maneira nos ajuda muito a recuperar um pouco do que nós perdemos, que é a alma da Universidade Federal de Santa Catarina”, salientou. Moritz lamentou a prisão, chamando-a de uma “atitude extrema, desnecessária e que revelou-se trágica, porque perdemos um amigo, o professor Cancellier”. “A verdade custa, mas aparece. Eu espero, ao retornar a esta casa, que a gente possa contar com a UFSC para nos redimir de tudo isso que aconteceu. E que possamos superar o que nós passamos, com muita paz no coração. Esta recepção aquece a nossa alma um pouquinho, mas eu tenho certeza que iremos precisar de outros momentos. Estou muito emocionado de estar aqui”, pontuou.
Márcio Santos salientou que a prisão não acabou no dia 15 de setembro. “Não foram 36 horas, não foi uma prisão de um só dia, foi mais de um ano. É hoje que termina a nossa prisão. Isso dá um alento, acordamos do pesadelo, mas não significa que o pesadelo tenha terminado. Sozinhos não vamos conseguir, precisamos muito da Universidade”.
Rogério Nunes destacou o impacto pessoal que cada um teve dentro do último ano. “Um professor voltar a ser professor no Dia do Professor é muito significativo. Tivemos um processo de exílio durante um ano, e eu quero entregar ao professor Ubaldo o que eu fiz nesse último ano. Eu tentei fazer alguma coisa, mesmo em casa. Afinal de contas, o que a gente fez durante esses anos na Universidade e que nos levou a essa situação foi a educação a distância, então eu sei que dá para fazer algumas coisas a distância. Escrevi um capítulo de livro, quatro artigos publicados em periódicos, um artigo aprovado para publicação em 2019, três artigos em eventos, uma participação em banca de qualificação de mestrado – que obviamente foi fora da UFSC -, participei de dois eventos, e li muita coisa, fui avaliador de artigos em vários eventos. Mesmo sem ter condições de sair de casa, eu consegui fazer alguma coisa. Nós continuamos precisando muito da UFSC, há relações que estão insuperavelmente abaladas, e precisamos de apoio”, reforçou.
Luciano Castro disse estar feliz e aliviado com o desfecho. “Não estive afastado de minhas atividades docentes, mas senti na carne, da mesma forma. Difícil o dia que não passei pensando no sofrimento de vocês. Muitos planos foram interrompidos. Obrigado a todos e vamos seguir em frente”, declarou.
Também fizeram uso da palavra: o diretor do Centro Socioeconômico (CSE), Irineu Manoel de Souza; o subchefe do Departamento de Ciências da Administração, Bernardo Meyer; o diretor do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), Licio Hernandes Bezerra e o vice-diretor, Nilton da Silva Branco; o diretor do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), Arnoldo Debatin Neto; o ex-professor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) e advogado Antonio Marini; o pró-reitor de Graduação, Alexandre Marino; e o secretário de Planejamento e Orçamento, Vladimir Arthur Fey.
O professor Gilberto Moritz e o professor Rogério Nunes retornarão ao Departamento de Ciências da Administração e o professor Marcio Santos volta ao trabalho no Departamento de Física. O professor Luciano Castro, do Departamento de Expressão Gráfica, que não foi afastado das atividades docentes nem impedido de entrar no campus universitário, mas foi destituído do cargo de secretário da Sead, agora poderá reassumir a Secretaria, se assim desejar.

Gilberto Moritz e os demais professores assinaram sua ciência ao documento da 1ª Vara Federal de Florianópolis. Foto: Ítalo Ferreira/Agecom/UFSC
Aspas
“Eu espero que eu nunca mais precise participar de uma cerimônia desse tipo na Universidade Federal de Santa Catarina, e desejo o mesmo para todas as outras universidades do país” – Bernardo Meyer
“Quero manifestar um sentimento dúbio de felicidade em tê-los de volta, mas ao mesmo tempo de pressentir que a ameaça que nós sofremos ainda não terminou. Talvez ainda teremos várias batalhas a travar para que a Universidade continue em sua missão de formar e informar. Lamento a extrema injustiça que vocês foram vítimas” – Nilton Branco
“Se eu dissesse que eu imagino o que eles passaram, estaria mentindo. Fica minha solidariedade registrada a vocês por toda essa caminhada difícil que vocês ainda estão passando” – Arnoldo Debatin Neto
“Espero que se tome as providências necessárias para que as pessoas envolvidas nessa calúnia, nessa difamação, nessa injúria, sejam punidas de acordo com a legislação vigente para que pelo menos alguma coisa seja resgatada da dignidade desses professores que foram afastados de maneira tão bruta” – Antonio Marini
“Um ano, um mês, um dia, é muito tempo. Estamos de braços abertos para recebê-los da forma que acharem melhor, com todo o apoio a vocês” – Alexandre Marino
- Luciano Castro e reitor Ubaldo
- Gilberto Moritz e reitor Ubaldo
- Marcio Santos e reitor Ubaldo
- Rogério Nunes e reitor Ubaldo
Mayra Cajueiro Warren / jornalista da Agecom / UFSC
Fotos: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC