17ª Semana do Jornalismo promove palestras, oficinas e mesas de debate

02/10/2018 13:05

A 17a Semana do Jornalismo, organizada por estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi realizada entre os dias 24 e 29 setembro. O evento reuniu oficinas, palestras e mesas de debate e contou com jornalistas convidados de todo o país, que abordaram, entre outros temas, os desafios do jornalismo diário, a cobertura de segurança pública no Rio de Janeiro e o jornalismo internacional.

A estudante Maria Eduarda da Silva, uma das organizadoras da Semana, define o evento como um período de aprendizado e de trocas de experiências, e percebe sua importância por possibilitar que os alunos vejam exemplos de como podem atuar no mercado. “Os jornalistas que vêm trazem histórias de suas trajetórias, informações sobre o piso salarial, sobre como está o mercado, e essas são coisas importantes”, diz.

Mesa de debates “Desafios do Jornalismo Diário”

A primeira mesa da Semana, realizada no dia 24 de setembro, no auditório da Reitoria I, teve como tema os desafios do jornalismo diário e contou com a presença de dois jornalistas egressos da UFSC: Emerson Gasperin, colunista do Diário Catarinense, e Mayara Vieira, repórter da rede NSC TV.

Mayara Vieira iniciou a palestra definindo o jornalismo diário como a combinação do factual com o conteúdo especial. “É mais difícil você inovar no factual, porque já está na internet, já foi dado na rádio” disse, explicando que o conteúdo especial pode ser a maneira do repórter se destacar, por permitir uma produção maior e melhor. Mas ela confessa que a adrenalina de cobrir o factual, que demanda rapidez na apuração dos fatos, é o que mais gosta. “Essa adrenalina me deixa satisfeita”, destaca.

Ainda sobre os desafios da área, a repórter comenta que no início da carreira sentiu a ausência de conversar com profissionais mais experientes na redação. Ela se perguntava para quem poderia pedir auxílio em alguma matéria, destacando a importância das trocas entre os jornalistas, que permitem um olhar diferente sobre o assunto. Além disso, fala sobre o processo de construção da notícia existente na TV, que pode acabar engessando o repórter, caso ele se acomode. “No começo, eu achava estranho isso, porque para mim o repórter é tudo”, enfatiza. A jornalista acredita que o repórter deve estar envolvido em todo o processo de produção da matéria, e, acima de tudo, não pode se acomodar quando algo não dá certo na pauta, sendo necessário sempre ter uma alternativa. Nesse aspecto, Emerson Gasperin concorda com ela. “Editor não gosta de repórter que aparece com problema, editor gosta de repórter que resolve o problema”, enfatizou.

Emerson Gasperin é personalidade frequente nas semanas do curso de Jornalismo. Essa é a quarta vez que participa, porém, é a primeira em que fala sobre jornalismo diário. “É uma experiência relativamente nova para mim”, diz, explicando que passou a trabalhar com jornalismo diário quando entrou no Diário Catarinense, há três anos. Antes disso, Emerson Gasperin atuou como repórter de cultura do jornal o Estado de S.Paulo, além de ter chefiado a revista BIS, pela qual conquistou o prêmio Abril de Jornalismo em 2006, na categoria Perfil. O jornalista conta que atuou em várias funções, como diagramar revista de cavalo e cartão de visitas, entretanto, na área jornalística, revela algumas técnicas que o guiam e as dificuldades que percebe.

“Eu sempre pensei as matérias quase como filmes”, revela, destacando a importância do repertório do jornalista ao escrever reportagens mais profundas. Porém, assim como Mayara Vieira, ele entende que esse tipo de inovação muitas vez não cabe ao jornalismo factual. Por esse motivo, fazendo uso de um termo da economia, o jornalista classifica o jornalismo diário como sendo a commoditie, pois seria como um grão que não passou por processos de beneficiamento.  

O repórter conta, ainda, que nunca se deu bem com números, e que costumava brincar que havia escolhido o jornalismo por isso. Foi somente quando assumiu a posição de editor-chefe em São Paulo que percebeu – “a duras penas”, como colocou – que o jornalismo te permite ir somente até um certo ponto da carreira. “Daquele ponto em diante, vai ser exigido de você um saber além do jornalístico”, diz.

Outra questão levantada pelo jornalista relaciona-se com o ambiente digital, que vem substituindo a cultura do impresso. Segundo ele, chegará o momento em que jornalistas e editores terão que pensar sobre como equilibrar a relevância dos assuntos e da audiência. “No mundo ideal, tudo que fosse relevante teria audiência, no mundo de verdade, não é assim”, comenta. Emerson Gasperin enfatiza que o impresso tinha como organizar a leitura, peneirar. Com a internet, todos os tipos de conteúdo se tornam acessíveis, e sem, necessariamente, apresentarem algum tipo de ordem.

Cárlida Emerim, professora do Departamento de Jornalismo da UFSC e coordenadora do programa de Pós-Graduação de Jornalismo da UFSC, mediou a mesa de debates e sintetizou em uma palavra as falas dos palestrantes: persistência. “Seja jornalista por desejo, e aí as oportunidades vão aparecer”, resume.

 

Palestra “Violência no Rio: a Segurança Pública no Jornal Extra”

A palestra “Violência no Rio: a Segurança Pública no Jornal Extra” com o jornalista Rafael Soares ocorreu na quinta-feira, dia 27 de setembro, no Bloco D do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). A apresentação integrou a programação da 17ª Semana de Jornalismo da UFSC e abordou a cobertura jornalística de Segurança Pública na cidade com maior crescimento da violência no país. Também discutiu os desafios e o cotidiano de um repórter de veículo impresso no Rio de Janeiro.

O repórter Rafael Soares, formado em jornalismo pela Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ), abriu a apresentação ressaltando a preocupação do Jornal Extra com o público-alvo e o valor social do conteúdo do Jornal para aquela região. Da seleção e abordagem das pautas, até a diagramação e formato do jornal. O Extra é referência na cobertura de Segurança Pública no Rio de Janeiro, voltado para as classes C, D e E.

Como repórter diário para veículos do Grupo Globo, com ênfase na área de Segurança Pública, Rafael comentou sobre algumas ferramentas que utiliza no seu cotidiano para a criação e apuração das pautas. A Lei de Acesso, que garante aos cidadãos o acesso à informação pública produzida ou retida pelo Governo Federal e a criação de conteúdo jornalístico com base nos estudos dos dados disponíveis, o Jornalismo de Dados, foram os principais citados.

A cobertura de pautas classificadas por ele como ‘inesquecíveis’, como o caso de Amarildo (torturado e morto por policiais da capital carioca) ou de Cláudia (arrastada por uma viatura depois de ter sido baleada pelos policiais que conduziam), ambos no Rio, foram destacados para ilustrar o teor do Jornal e os desafios em torno da produção de matérias de Segurança Pública.

Esse tipo de cobertura só foi possível, afirma Rafael, pela relação próxima do jornalista com o público-alvo, em maior parte, moradores das regiões periféricas do Rio. Segundo ele, estar em contato direto com o público nas ruas da cidade auxilia na compreensão das pautas, filtrando o que é mais relevante para o leitor, além de humanizar a narrativa das matérias. “Por outro lado, a relação com os policiais e os responsáveis pela segurança pública da região é tensa, considerando que eles aparecem como alvo na maior parte das matérias do Extra”.

Rafael Soares finalizou a palestra colocando que, apesar do relacionamento tenso (e às vezes ameaçador) com a polícia e a cobertura de pautas trágicas, ele se sente realizado por, hoje em dia, exercer a função de repórter que sempre sonhou, dados os desafios atuais da área.

“Jornalismo Internacional” encerra a semana

A palestra de encerramento da semana ocorreu na noite de sexta-feira, dia 28 de setembro. Com o tema “Jornalismo internacional”, a palestrante que finalizou o evento foi Nayara Batschke, jornalista formada pela UFSC e que atua na agência internacional de notícias EFE, da Espanha. Nayara trabalha no escritório de São Paulo e escreve notícias em espanhol sobre acontecimentos políticos, econômicos e culturais do Brasil. Também cobriu eventos internacionais de cinema, como o Festival de Berlim e o Prêmio Goya, conhecido como o Oscar espanhol.

Ela iniciou a apresentação relatando sua trajetória profissional até chegar à EFE, onde trabalha desde fevereiro deste ano. Em dezembro de 2015, Nayara se inscreveu para uma bolsa de mestrado da Fundação Carolina, na Espanha. A oportunidade também lhe renderia um estágio na agência.”Me inscrevi, mesmo estando há 8 anos sem falar espanhol. Então me preparei e realizei uma entrevista via Skype. Três meses depois eu estava indo para Madrid, para um mestrado em uma língua que eu não dominava. Nesse tempo, fiz um estágio de 6 meses na EFE. Depois fui efetivada”.

A EFE é a 4° maior agência internacional de notícias do mundo, sendo a primeira em espanhol. Atualmente emprega mais de três mil profissionais e está presente em mais 120 países, também é a maior fonte de informação da América Latina. Além disso, Nayara revela peculiaridades das agências de notícia: “Em agências, não há espaço para jornalismo opinativo ou investigativo, nem de problematização. A única função é informar, apresentando dados. É preciso tomar uma distância muito grande ao escrever um texto sobre política, o que é algo um pouco difícil”. Um dos trabalhos de Nayara com destaque foi a cobertura do incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ocorrido no dia 2 de setembro. Seu texto foi destaque na página do El País da Espanha.

Foto: Lívia Tokasiki

Nas graduações de Jornalismo no Brasil, o jornalismo internacional é poucas vezes visto nos currículos, dificultando um pouco o futuro dos estudantes interessados pela área. Para Nayara, a razão pode estar associada ao mercado nacional. “A cobertura internacional nos meios brasileiros é geralmente realizada através de agências de fora, muito por conta de fatores econômicos. Raramente algum jornal local irá disponibilizar uma equipe para cobrir determinado evento em outro país”, lembra a palestrante.

Por fim, a jornalista destaca as duas principais diferenças entre as agências de notícias e os jornais: “O primeiro ponto é a questão do tempo. Em agências nós temos no máximo 24 horas para produzir um material. Nossas coberturas não precisam ser complexas, apenas precisam apurar dados. A segunda questão é o estilo jornalístico. Agências precisam ser totalmente ou quase totalmente neutras. Não podem ter posicionamentos editoriais. Quem vai comprar nosso material são os jornais, que podem ser de esquerda ou direita, portanto não podemos nos posicionar de forma alguma. Nosso texto não pode dar indícios ao leitor da nossa posição política.”

Alan Cavalieri dos Anjos (17 anos), calouro do curso, foi um dos espectadores presentes na palestra e revela o que achou da apresentação: “Foi uma das melhores para mim, pois tenho interesse em jornalismo internacional. Ela deu dicas inspiradoras ao público, mostrando caminhos para quem quer ser correspondente, como o fator de dominar outras línguas e a oportunidades de bolsas de intercâmbio e treinamento. Também encorajou os estudantes a nunca desistirem de seus sonhos”.

Pedro Correa (19 anos), estudante da 3° fase e um dos organizadores da 17Semana do Jornalismo, destaca a importância do evento como um todo. “As palestras e as mesas foram bem movimentadas, mostrando que os acadêmicos do curso estavam interessados. Nós ficamos felizes ao trazer grandes nomes do jornalismo local e nacional, contribuindo para a nossa formação. Acho importante esse contato próximo, enquanto aluno, para ter a consciência do mercado de trabalho e saber como é a vida lá fora. Eles têm a experiência, e a gente tem a curiosidade e a ansiedade de saber como é. Isso pra mim é sensacional.”

 

Alan Christian, Erick Souza e Maria Clara Flores / Estagiários de Jornalismo na Agecom / UFSC

*Fotos: Henrique Almeida / Agecom / UFSC

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