Pesquisa coleta dados sobre quantidade de peixes nos recifes brasileiros
Peixes de ambientes recifais são importantes fontes de recursos alimentares e atrativos turísticos para populações costeiras. Entender como a quantidade de peixes nesses ambientes é distribuída entre diferentes lugares é, portanto, uma questão ecológica e social importante. Cientistas brasileiros acabam de dar um pequeno passo na busca pelo conhecimento de onde peixes se concentram e onde eles são mais escassos nos recifes rasos brasileiros.
A iniciativa é parte da Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Sisbiota-Mar) e acaba de ser publicada na revista científica Journal of Fish Biology, em artigo assinado por Renato Morais, Carlos Ferreira e Sérgio Floeter. Nos últimos 13 anos, pesquisadores da Rede compilaram um grande volume de dados de contagens subaquáticas de peixes, com mais de 4 mil amostras distribuídas em 137 sítios e 20 localidades incluindo costa e ilhas oceânicas brasileiras. Isso incluiu recifes desde os trópicos do Maranhão, até as águas frias de Santa Catarina.
Com esses dados, os autores foram capazes de estimar quanta biomassa – isto é, o peso disponível de peixes – existe nos diferentes recifes. Os pesquisadores viram que ilhas oceânicas, em geral, tendem a ter maior biomassa do que recifes costeiros. Locais com maior biomassa ocorreram também na costa, especialmente associados a áreas inacessíveis ou protegidas.
As ilhas de Trindade (ES) e São Pedro e São Paulo (PE), o isolado Parcel de Manuel Luís (MA) e o Arquipélago dos Alcatrazes (SP) foram exemplos de locais com alta biomassa. Outros padrões interessantes foram observados quando os pesquisadores separaram os peixes em grupos funcionais, peixes que se alimentam de recursos similares e que tem tamanho semelhante.
Enquanto alguns grupos (grandes predadores ou grandes herbÍvoros, como bodiões-papagaios) seguiram uma tendência similar à da biomassa como um todo, outros diferiram consideravelmente. Por exemplo, peixes onívoros (que se alimentam de animais ou algas dependendo da disponibilidade no ambiente), se concentraram nas ilhas oceânicas e recifes subtropicais, sendo raros nos tróficos. Pequenos herbívoros (como as donzelinhas), por outro lado, foram abundantes em localidades tropicais bastante rasas (menos de 6 metros de profundidade).
Em conjunto, os resultados do trabalho sugeriram que a quantidade de peixes nos recifes brasileiros provavelmente depende de fatores como temperatura da água, profundidade e isolamento (ou proteção) de impactos humanos.
O estudo, porém, está longe de responder o quanto de peixe existe nas águas rasas. “Para cada questão que resolvemos, cinco ou dez mais aparecem”, diz Renato Morais, líder do estudo que foi desenvolvido para sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho foi supervisionado pelos co-autores, Sérgio Floeter, também da UFSC, e Carlos E. L. Ferreira, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O financiamento para o estudo veio do CNPq, Fapesc e Faperj.
“Ainda precisamos abordar muitas outras questões, como, por exemplo, quais são as causas exatas dessas variações na biomassa de peixes”, afirma Floeter. “O trabalho ainda está em andamento e estamos reunindo dados de longo prazo para entender como a biomassa dos peixes varia ao longo dos anos”, completa Carlos Ferreira, que também líder do Programa de Monitoramento de longa duração das comunidades recifais das ilhas oceânicas brasileiras, PELD-ILOC, que também é financiado pelo CNPq. “Esperamos contribuir com informações que contribuam para o gerenciamento adequado de recursos marinhos brasileiros”, finaliza Morais.
Mais informações no artigo ou com o Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha, pelo telefone (48) 3721-5521.
Com informações do Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha.