Curso em Gênero e Diversidade na Escola da UFSC forma 140 especialistas

08/03/2017 15:47

Um espaço e momento de aceitação, diversidade, amor, respeito e alegria. Assim foi a entrega de certificados aos 140 formandos no curso de Especialização em Gênero e Diversidade na Escola (GDE), promovido pelo Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina, na noite de sexta-feira, 3 de março, no auditório Garapuvu, de Centro de Cultura e Eventos.

No discurso dos oradores da turma, Vinicius Perez lembrou o compromisso de luta e transformação para uma sociedade com respeito e amor. “O mundo precisa de intervenção para que não haja pessoas segurando portas para que outros não passem e transmitam valores equivocados”. Na mensagem, ele lembrou também o desejo de que “gaiolas sejam abertas para que as pessoas possam alçar grandes voos, e respeitar o voo dos outros”. Margareth Hernandes, a outra oradora, destacou que a educação existe para tirar vendas dos olhos e ensinar tolerância, respeito e amor.

O reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, pediu licença para incorporar em sua vida e prática profissional o juramento dos formandos, de lutar por uma sociedade que promova respeito e valorize da diversidade étnico-racial, de orientação sexual e identidade de gênero. “Gostaríamos que cada pessoa da UFSC tenha este compromisso, de batalhar por uma sociedade que não discrimine”.

A cerimônia encerrou com a formanda Tania Meyer cantando duas músicas, uma própria, Você pode aprender, e Balada do GDE, paródia da Balada do Louco, de Arnaldo Baptista e Rita Lee, feita por uma das coordenadoras do curso, Olga Regina Zigelli Garcia. Ela trabalha há 20 anos no coral e no teatro do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC, campus Florianópolis) e diz que o curso de especialização a ajudou em descobertas pessoais: “Dei uma renovada, para ver a vida sob outros prismas e ficar mais ligada em questões de gênero e diversidade com mais solidariedade e empatia”. A sua música foi inspirada numa frase de Nelson Mandela: “Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. No IFSC, ela trabalhou com os alunos um esquete teatral baseado no filme A garota dinamarquesa.

“É um novo olhar, não tem como voltar atrás agora”, concorda o também formando Osmar da Maia Junior, professor de matemática em duas escolas estaduais de Joinville. Ele destaca que há muitas mudanças no âmbito escolar e os professores necessitam deste aprimoramento. Numa de suas experiências durante o curso, um aluno disse que “a escola estava cheia de professores gays” porque Osmar chegou com um chaveiro de feltro – feito pela sua esposa. “Em outro momento, talvez nem importasse o comentário”, explica Osmar, mas fazer o curso estimulou a desconstruir o preconceito em aulas de matemática. “Foi um trabalho envolvente, envolvendo figuras geométricas e o fato de um chaveiro não tornava ninguém gay ou não, nem que houvesse um problema em ser”. Outra vivência, que emocionou Osmar, foi um aluno cadeirante, o primeiro em 20 anos de magistério, que ele acompanhou de perto com a ajuda de um segundo professor.

O GDE também abriu espaço para a formação de membros de organizações civis, como Margareth Hernandes, presidente da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil/SC. “É um curso fantástico, abriu horizontes com relação a gênero e sexualidade. Pudemos tomar ciência da situação de quem é colocado à margem da sociedade e aprendemos a multiplicar estes saberes em sala de aula”. Margareth participa agora da organização de um fórum nacional das comissões do gênero na OAB, que será realizado em Florianópolis no dia 30 de março, com a presença de 200 pessoas.

Saiba mais

O objetivo do GDE é oferecer aos profissionais da rede pública de Educação Básica conhecimentos acerca da promoção, do respeito e da valorização da diversidade étnico-racial, de orientação sexual e identidade de gênero, colaborando para o enfrentamento da violência sexista, étnico-racial e homofóbica no âmbito das escolas. O curso fornece elementos para transformar as práticas de ensino, desconstruir preconceitos e romper o ciclo de sua reprodução pela e na escola. Por meio deste curso, os profissionais adquirem instrumentos para analisar e lidar com as atitudes e comportamentos que envolvam as relações de gênero e étnico-raciais, além das questões sobre sexualidade no cotidiano da escola.

O curso foi dividido em seis módulos, com carga horária de 420 horas, entre atividades presenciais em cinco polos (Concórdia, Florianópolis, Itapema, Laguna e Praia Grande) e a distância, de fevereiro de 2015 a dezembro de 2016.

Entretanto, segundo as coordenadoras do GDE, as professoras Olga Regina Zigelli Garcia e Miriam Pillar Grossi, não há perspectiva de oferta de nova edição do curso pelo governo federal, apesar de haver grande procura.

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