Clássico de teórica canadense ganha nova edição da EdUFSC
Uma teoria da adaptação, de Linda Hutcheon, não chega propriamente a matar o autor, mas coloca em xeque a ideologia do romantismo que valoriza somente a obra do gênio, original e única. O livro da professora da Universidade de Toronto (Canadá), reconhecida e respeitada pesquisadora da cultura contemporânea, ganhou uma segunda edição da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC). A tradução é do ensaísta e doutor em Literatura André Cechinel.
Linda Hutcheon não faz uma análise de exemplos específicos, muito menos investiga alguma mídia em particular. “É o próprio ato de adaptar que me interessa, não importa para qual mídia ou gênero”. O desafio abarca não apenas o cinema, a literatura, o teatro, a televisão, o rádio, a ópera e as várias mídias eletrônicas, mas também os parques temáticos, as representações históricas e os experimentos de realidade virtual. Seu enfoque, portanto, é amplo, geral e irrestrito.
A autora faz uma reflexão sobre a popularidade das adaptações e tenta entender ao mesmo tempo a condenação sistemática a esta prática universal incorporada ao cotidiano. Numa entrevista exclusiva ao tradutor André Cechinel, ela avalia que todas as obras são secundárias, ou seja, “toda arte deriva de outra arte”. Acredita, conforme salienta na apresentação do livro, que “a adaptação é (e sempre foi) central para a imaginação em todas as culturas”.
Uma Teoria da Adaptação busca simplesmente explicar como funciona a adaptação e porque atrai tanto criadores quanto seus respectivos públicos. “As adaptações são aqui examinadas como revisitações deliberadas, anunciadas e extensivas de obras passadas”, esclarece Linda Hutcheon. “As histórias viajam para diferentes culturas e mídias. Em resumo, as histórias tanto se adaptam como são adaptadas”.
O lead clássico do jornalismo serviu de instrumento à pesquisadora: “o que, quem, por que, como, quando e onde” da adaptação. “Responder às questões fundamentais é sempre um bom ponto de partida” para refletir sobre qualquer tema, ainda mais em se tratando do “fenômeno onipresente da adaptação como adaptação”, pondera a autora.
A adaptação não deve ser só vista como uma entidade formal. Para Linda Hutcheon, é também um processo. “Nem o produto nem o processo de adaptação existem num vácuo: eles pertencem a um contexto, um tempo e um lugar, uma sociedade e uma cultura”, ensina.
A adaptação é um processo dialógico contínuo, em síntese. Para situar e facilitar o entendimento da adaptação, a escritora coloca em evidência três modos de engajamento com as histórias: contar, mostrar e interagir. “Porém as paródias também encontram aqui um lugar como adaptações irônicas. Aqui as histórias são reinterpretadas e rearticuladas”, acrescenta .
A autora oferece igualmente um conceito: para facilitar o entendimento dos leitores: ”O que podemos chamar de faculdade adaptativa é a habilidade de repetir sem copiar, de incorporar a diferença na semelhança, de ser de uma só vez o mesmo e o outro”. Alerta, por exemplo, que “assim como não há tradução literal, não pode haver uma adaptação literal”.
Há poucas histórias preciosas que, segundo conta a pesquisadora, não foram “amavelmente arrancadas” de outras. Logo, fica-se sabendo que nas “operações da imaginação humana a adaptação é a norma, não a exceção”. Neste livro, ela teoriza sobre o tipo de passagem transcultural que ocorre quando uma história é adaptada para outras línguas, culturas e mídias.
Na primeira edição da EdUFSC, a autora desafiou os leitores brasileiros a entenderem o contexto da obra espelhada principalmente na experiência norte-americana. Os leitores brasileiros, sobretudo os ancorados na academia, fizeram evidentemente as devidas adaptações, ensejando uma nova edição da EdUFSC. Provaram, em síntese, que não há como fugir da adaptação. Ela é inevitável e está, hoje, presente em todas as artes, como apontam cientificamente os estudos de Linda Hutcheon. O livro da EdUFSC é enriquecido por dois apêndices. A professora Genilda Azerêdo (UFPB) elege o título como um serviço à academia e aos leitores em geral: “são poucas as ressonâncias substanciais em temas de produções acadêmicas e publicações sobre o assunto”, informa.
Já as professoras da UFSC Anelise Reich Corseuil e Rosana Kamita reforçam e tornam cristalinos os conceitos de Linda Hutcheon. “Linda compreende a adaptação como um processo criativo, pois é uma nova abordagem a partir de um referencial anterior”. E mais: “o fato de o texto-fonte possuir valor canônico também pode se refletir no processo de adaptação”, complementam.
Linda Hutcheon revela, em primeira mão na entrevista a André Cechinel, que acaba de abraçar uma nova área de pesquisa: “a instituição da resenha crítica”. Para ela, chegou a hora de estudar a ética, a política e a economia desse fenômeno.
A segunda edição do livro de Linda Hutcheon foi valorizada pela recente reforma gráfica e editorial implementada na EdUFSC, ganhando uma capa atraente e “luminosa”. Qualquer pessoa que já experimentou uma adaptação, pensa a escritora, “possui uma teoria da adaptação, consciente ou não”. Linda Hutcheon, além de teorizar, aborda questões econômicas, legais, pedagógicas, políticas e pessoais relacionadas à temática.
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Moacir Loth/Jornalista da Agecom/UFSC