Projeto premiado transforma rejeitos da mineração do carvão em lucro

Na unidade fabril que está sendo montada em Criciúma é possível obter nanopartículas de óxido de ferro de altíssima qualidade e, em paralelo, tratar mais de mil e duzentos metros cúbicos de drenagem ácida de mina por dia
Direcionado ao reconhecimento de projetos que promovam desenvolvimento sustentável, o Green Project Awards premiou um trabalho da UFSC em sua segunda edição no Brasil. O projeto “Aplicações Ambientais de Resíduos da Mineração de Carvão” é o vencedor na categoria Pesquisa e Desenvolvimento.
Os estudos foram realizados em parceria com a Carbonífera Criciúma S.A. (CCSA), sob coordenação dos professores Regina de Fátima Peralta Muniz Moreira e Humberto Jorge José, do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos do Centro Tecnológico da UFSC, além da coordenação da engenheira química Vivian Stumpf Madeira, que atuava junto à carbonífera e direcionou sua tese de doutorado à escala industrial.
Passivo ambiental
A linha de trabalho surgiu a partir de um problema na área de mineração de carvão no Estado. Com um passivo ambiental de mais de 200 milhões de toneladas de detritos – produto de mais de 30 anos de atividade de mineração do carvão – a região Sul de Santa Catarina tem sofrido com a poluição hídrica e do solo. É considerada uma das 14 áreas críticas de poluição do país.
Diante desse cenário, pesquisas desenvolvidas junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química e ao Laboratório de Energia e Meio Ambiente foram voltadas a utilizar os resíduos da mineração de carvão como matéria-prima para a produção de óxido de ferro.
Esse composto químico tem aplicações na construção civil, na remoção de poluentes gasosos e tratamento de efluentes industriais ̶ assim como potencial para uso em outros campos, como a medicina.
Nanopartículas de óxido de ferro
Além de comprovar a viabilidade de aproveitamento desse produto, o trabalho permitiu a construção de uma planta industrial para produção de nanopartículas de óxido de ferro.
“Com a planta é possível obter nanopartículas de altíssima qualidade e, em paralelo, tratar mais de mil e duzentos metros cúbicos de drenagem ácida de mina por dia, evitando a contaminação de rios e água de subsolo”, explica a professora Regina.
Com a venda dos produtos e subprodutos, a valores estimados na faixa de R$ 4 mil a R$ 400 mil a tonelada (dependendo da pureza), é possível gerar um faturamento de até R$ 2,8 milhões ano ̶ estima a equipe.
A instalação plena da unidade fabril, que está sendo montada em Criciúma, também tem apelo social. Permitirá a criação de pelo menos 20 postos de trabalho, com geração de renda para as famílias.
Formação de recursos humanos
O trabalho aplica conceitos de produção ecoeficiente, e pode ser levado a outras regiões de mineração de carvão. “Esperamos que esse projeto colabore com uma mudança de comportamento dos empresários do setor de mineração, dando ênfase à preservação ambiental e sustentabilidade ao segmento”, complementa a professora, que destaca também a formação de recursos humanos e o trabalho colaborativo com o setor produtivo como um importante resultado.
“A parceria com a Carbonífera Criciúma S.A foi fundamental para o êxito dos trabalhos, assim como a participação de mestrandos e doutorandos”, salienta. “O prêmio representa o coroamento de uma inciativa dos professores e pesquisadores do Laboratório de Energia e Meio Ambiente, que iniciou há quase uma década, e pretende dar sustentabilidade ao setor de mineração de carvão”, comemora a professora, que conta o suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) no gerenciamento dos projetos de pesquisa.
Saiba Mais
Green Project Awards Brasil
O prêmio incentiva inovação, criatividade e eficácia, assim como o debate sobre sustentabilidade, biodiversidade e inclusão social. É uma iniciativa do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), integrado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI), e da GCI, consultora portuguesa especializada na criação e implementação de estratégias de engajamento de público.
Artigos e Patentes
As pesquisas na UFSC resultaram também na publicação de diversos artigos em periódicos científicos e no depósito de três patentes. Uma delas para proteção intelectual do processo de produção das nanopartículas de óxido de ferro e seu uso como pigmento. Os subprodutos desse processo – gesso e sulfato ferroso – também foram alvo de pedido de proteção de propriedade intelectual.
Mais informações:
– Regina de Fátima Peralta Muniz Moreira / regina@enq.ufsc.br / (48) 3721- 9448, Ramal: 211
– Humberto Jorge José / humberto@enq.ufsc.br / (48) 3721-9448, Ramal: 224
Arley Reis/Assessoria de Comunicação da FAPEU/arleyreis@gmail.com