Livro da EdUFSC tira da invisibilidade os negros da Ilha de SC
O dever cabe ao Estado e o direito é da sociedade, mas só os pesquisadores e historiadores parecem mostrar-se capazes e à altura de recuperar e resgatar a memória e a história de um povo, de uma cidade e de uma raça. Assim, em 12 artigos, o livro História diversa – Africanos e Afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina, organizado por Beatriz Gallotti Mamigonian e Joseane Zimmermann Vidal, e escrito por 14 autores, devolve a visibilidade negada ou obliterada dos africanos e descendentes dos tempos de Desterro até os dias de hoje de Florianópolis. Apresentando conteúdos jamais ensinados na escola ou na universidade, o livro publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) insere o Estado na história do Atlântico Negro, “uma história partilhada por habitantes da Europa, das Américas e da África que enfatiza o protagonismo dos africanos e de seus descendentes na formação no Novo Mundo”.
Viabilizado através de edital de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), o livro realça que “a história compartilhada do Atlântico Negro aborda as transformações culturais, resistências e lutas das populações de origem africana contra a escravidão, a exploração, o racismo e outras formas de opressão”. Nessa história, acrescentam os organizadores, “os territórios da diáspora africana “encontram-se “conectados”.
Divisor de águas no ensino de História no Brasil e em SC, o livro, além de disponibilizado pela EdUFSC, será distribuído em escolas públicas. A coletânea, sem esquecer dos povos indígenas, arranca da invisibilidade a população negra de Florianópolis. E, simultaneamente, recupera e valoriza a cultura, a história e a memória de Desterro. A pesquisa, de alguma forma, reconquista o espaço que Florianópolis tinha perdido ou negligenciado na História do Brasil. Nos livros didáticos, por exemplo, protagonistas negros são raros. A Ilha é relacionada “quase exclusivamente” aos açorianos e SC aos europeus. História Diversa discorda e escancara a diversidade. Cruz e Sousa aparece como ícone, embora desprezado.
O livro não se garante apenas na história local ou regional. A invisibilidade do negro é recorrente em outras regiões do Brasil e da América Latina. O racismo e o preconceito não pararam na História. As histórias de escravidão, exploração, preconceito, racismo, injustiça, heroísmo, resistência, sobrevivência e loucura povoam e expõem História Diversa. Recuperar a visibilidade é o objetivo pretendido pela EdUFSC.
História Diversa traça um amplo panorama da cultura da população negra. Paralelamente retrata o cenário de sofrimento, perseguições, prisões e exploração. Ao mesmo tempo destaca a revolta, a luta e a resistência. Mostra, por exemplo, a organização social e política através das irmandades, dos clubes e dos quilombos. E não deixa de enfatizar a arte, as festas, o folclore, a dança, o esporte e a música. Enfim, ao recuperar as manifestações culturais, políticas e sociais, reforça a visibilidade dos africanos e afrodescendentes na Ilha e de outras cidades catarinenses e brasileiras.
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Sérgio Medeiros e Fernando Wolff
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Moacir Loth/Jornalista da Agecom/UFSC
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