Professores e alunos da Licenciatura Indígena no Brasil relatam conquistas e desafios

Segunda etapa dos relatos dos representantes da Licenciatura Intercultural Indígena das universidades federais brasileiras. Foto: Jair Quint/Agecom/UFSC
O “Seminário sobre licenciaturas interculturais indígenas em universidades federais brasileiras: contextos e perspectivas” iniciou, nesta terça-feira (28/5), no Auditório da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a segunda etapa dos relatos dos representantes do curso das universidades do Mato Grosso do Sul (UFMS), da Grande Dourados (UFGD), de Minas Gerais (UFMG), de Santa Catarina (UFSC) e do Rio de Janeiro (UFRJ), esta representada pelo Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (Laced).
Estudantes indígenas e coordenadores expuseram suas experiências na consolidação da Licenciatura Intercultural Indígena (LII), conquistas e desafios. A professora da UFMS Onilda Sanches Nilcao e o aluno Célio Francelino Fialho foram os primeiros a apresentar a LII Povos do Pantanal, Campus Aquidauana I, que iniciou em dezembro de 2010 e atualmente possui 120 alunos. O curso se desenvolve em três etapas: Presencial (campus), Intermediária (polos) e Comunidade (aldeias). Ressaltou que por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) estão sendo elaborados textos e materiais didáticos na língua indígena.
Onilda explicou que os recursos financeiros da LII provêm do Programa de Inclusão Indígena (Proind), e não pela UFMS, o que dificulta a tramitação da verba. Há também a difícil locomoção até as aldeias.

O aluno e líder indígena Célio Francelino Fialho falou sobre a LII Povos do Pantanal. Foto:Jair Quint/Agecom/UFSC
Fialho, líder da aldeia Bananal, citou Reginaldo Miguel, pastor e também líder indigenista, para que os índios se sintam motivados a, segundo ele, “enfrentar os desafios, lutar pelos direitos e unir forças”. O líder ressaltou a importância do Proind para as comunidades e da criação do laboratório de extensão aproximando universidade e aldeia. Quanto aos problemas, falou da falta de organização dos professores, da distância e do pouco tempo de aula. Mesmo com os contratempos, Fialho disse estar encorajado e fortalecido diante das conquistas relatadas pelas outras regiões.
Os currículos das Licenciaturas se assemelham com algumas particularidades contemplando Linguagens e Educação Intercultural, Matemática, Ciências Sociais e Ciências da Natureza.
Na sequência, o professor Andérbio Márcio Silva Martins e a estudante Dirce Veron apresentaram uma síntese da situação na UFGD. Martins citou que o curso na Grande Dourados existe desde 2006 e que foi criada há um ano a Faculdade Intercultural Indígena, uma grande conquista que “proporcionou autonomia ao curso de criar espaços e tomar decisões”, enfatizou o professor. Os 11 professores são efetivos. Uma das áreas Ciências Sociais mudou a nomenclatura para Ciências Humanas. Mesmo diante de uma situação favorável, a LII passa por um processo de reestruturação: avaliação do programa, qualidade do corpo docente, financiamento, entre outros tópicos.
Dirce disse ao público que “Dourados está quase dentro da Aldeia, por isso a licenciatura está sendo construída em conjunto com os professores”. Falou das políticas públicas do governo, as quais são implementadas sem diálogo com o povo indígena que fica à margem das decisões. Citou o preconceito como um dos graves problemas existentes no Estado. Para a estudante é preciso “compreender o modo de vida dos índios e valorizar seus saberes”.

Representando a UFMG, (dir.) Célia Nunes Côrrea destacou a importância do curso na formação de lideranças. Foto: Jair Quint/Agecom/UFSC
A professora da UFMG, Vanessa Sena Tomaz, afirmou que no início ingressaram alunos não indígenas na LII, e após discussões, o curso passou a ser exclusivo para indígenas. Um grande impacto sofrido pelo curso, segundo Vanessa, foi a extinção das bolsas Reuni/Capes e também a perda de forma trágica de um dos membros da equipe, porém os próprios estudantes ajudaram os professores a superar a tristeza e a continuar o projeto. A estudante Célia Nunes Côrrea enfocou sua apresentação na importância do curso na formação de lideranças e na preservação da identidade.
Integrar, regularizar e discutir são algumas das ações planejadas pelo Seminário, conduzido pelo coordenador do curso na UFSC, Lucas de Melo Reis Bueno. O professor esclareceu que este evento e o debate “A Política Indigenista sob Comando do Agronegócio: e agora, Brasil?”, que ocorreu no dia 27 de maio, estão relacionados e objetivam unir os estudantes indígenas da UFSC com os de outros estados e com a própria Universidade, incentivar o debate entre as instituições superiores e dar visibilidade às questões da área.
Outro ponto importante destacado por Bueno é a regularização do curso. Na UFSC, a primeira turma da LII do Sul da Mata Atlântica teve início em fevereiro de 2011, com conclusão prevista para março de 2014. São três turmas – Guarani, Kaingang e Xokleng/Laklãnõ -, com alunos de comunidades localizadas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O curso tem como eixo norteador a temática “Territórios Indígenas: Questão Fundiária e Ambiental no Bioma Mata Atlântica”.
O evento é uma das atividades acadêmico-científico-culturais (AACC) do curso e ocorrerá durante a décima etapa intensiva, a contar com a efetiva presença de discentes, docentes, lideranças indígenas, instituições parceiras, entre outros atores que compartilhem experiências afins.As mesas de debate propostas visam ampliar a análise da conjuntura das LII no Brasil, os currículos e suas especificidades étnicas, bem como a articulação político-pedagógica da área.
O Seminário continua nesta quarta-feira, 29 de maio, com a seguinte programação:
8h30 – Mesa 3 – A diversidade de atuações dos egressos das Licenciaturas Interculturais Indígenas:
Escolas, Comunidades, Programas de Pós-Graduação
1. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
2. Universidade Federal do Amazonas (UFAM) – alunos de programas de Pós-Graduação
3.Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
10h30 – Mesa 4 – Experiências de universidades federais no processo de institucionalização
das Licenciaturas Interculturais Indígenas: a regularização e consolidação dos cursos
1.Universidade Federal de Roraima (UFRR)
2.Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
3.Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG)
14h – Mesa 5 – A articulação político-pedagógica e interinstitucional das Licenciaturas Interculturais
Indígenas no Brasil
1. MEC – SECADI- CGEEI
2. Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
3. Ministério Público Federal (MPF)
4. Secretaria de Estado da Educação/SC
5. Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
6. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Prograd e LII
7. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
8. Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Mais informações: (48) 3721-4879 e 3721-2600
Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC
rosiani.bion@ufsc.br
Fotos: Jair Quint/Agecom/UFSC