Dicionário Básico Latino-Português é um dos destaques da Feira do Livro da EdUFSC
Se a jornalista Giovanna Chirri, da agência de notícias italiana Ansa, não compreendesse Latim, não teria dado o maior furo jornalístico das últimas décadas. Ela ouviu, na conversa com os cardeais, a comunicação da renúncia do Papa Bento 16. O novo papa, Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglis, 76 anos, foi anunciado na mesma língua: Habemus Papam! Os episódios mostram a importância e a atualidade do Dicionário Básico Latino-Português, de Raulino Busarello, publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC). Referência na academia e no País, a obra chega, em 2013, à sétima edição, e é um dos destaques da Feira do Livro da EdUFSC, que acontece até 2 de abril, no Centro de Convivência da Universidade.
Revisto e ampliado, o clássico dicionário oferece mais de dez mil palavras, especialmente as de uso comum e mais frequente. Destinado, principalmente, a iniciantes, estudiosos e curiosos, a permanente procura pelo dicionário comprova, além da qualidade da pesquisa do autor, o interesse do leitor pelo léxico latino, assinala, em prefácio, o professor Oswaldo Furlan, pesquisador e ex-professor da UFSC.
A obra é apresentada pelo professor Felício Wessling Margotti, diretor do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC. Ele constata que ainda hoje são escassas as publicações na área de latim. Portanto, ao mesmo tempo em que preenche uma lacuna editorial, proporciona aos estudantes e aos cultores da latinidade informações rápidas e essenciais. “O dicionário é um instrumento valioso e imprescindível, de consulta permanente”, salienta o professor de línguas.
A atual professora de Língua e Literatura Latina da UFSC, Zilma Gesser Nunes, assina o prefácio da sétima edição. “O estudo do latim traz explicações da nossa própria história, do elemento mais importante de uma cultura, que é a própria língua”, pondera. Em defesa do dicionário e do ensino de língua, Zilma argumenta que “o aprofundamento dos estudos de latim possibilita o contato com a literatura de grandes escritores latinos que forma, junto com os gregos, a clássica antiguidade que guardaseus tesouros, nem todos traduzidos e alguns mal traduzidos até hoje”.
A professora Zilma ressalta a função cultural da obra de Busarello ao lembrar que “saber utilizar um dicionário de latim é meio caminho andado para saber traduzir a língua de Horácio”. Oswaldo Furlan propõe a reintrodução do ensino de latim a partir da quinta série.
Raulino Busarello, entre outros títulos, publicou Das letras latinas às luso-brasileiras e Gramática Básica do Latim (em coautoria com Oswaldo Furlan) e Máximas latinas para o seu dia a dia.Natural de Jaraguá do Sul (SC), Raulino Busarello é mestre pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e formado em Humanidades, Filosofia e Teologia. É aposentado pela UFSC, onde décadas lecionou Língua Latina. Nasceu no dia 28 de março de 1922 e foi ordenado padre em 13 de março de 1948. Pertence à Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Ordem dos Dehonianos). Construiu um espaço cultural no sul da Iha, onde mora, e só sai para saber “a quantas anda” o seu dicionário.
Língua viva
O Latim, que foi considerado “morto”, é a terceira língua europeia mais falada no mundo, ficando atrás apenas do inglês e do espanhol. De acordo com Oswaldo Antônio Furlan, colega deBusarello e autor do clássico Latim para o Português – Gramática, Língua e Literatura (EdUFSC, Série Didática), constitui-se em “veículo atual de comunicação para mais de 200 milhões de falantes”. Além disso, sublinhou, “a língua latina e sua literatura é das mais importantes e mais bem estudadas entre as do ramo indo-europeu”. O latim, em resumo, “veiculou, resumiu e produziu a cultura de um dos mais influentes impérios da história ocidental e expressou uma literatura que, sempre cultivada e apreciada, voltou a florescer, atreladaà sua vertente grega, no Classicismo dos séculos XVI e XVIII” Furlan traça um panorama da história e da influência da língua e literatura latina, descreve o sistema gramatical, analisa a globalização e, de quebra, presenteia o leitor com a interpretação de 600 frases famosas, provérbios e princípios jurídicos, bem como mais de 50 textos literários e linguísticos. A obra é uma mão na roda para estudantes de Letras, Direito, Teologia e Filosofia. O pesquisador entende que a ausência do Latim empobreceu o ensino de Português
Máximas
Em edição do autor, o professor Raulino Busarello publicou um livro que, no mínimo incentiva o interesse pelo latim: Máximas Latinas para o seu dia a dia – repertório de citações, provérbios, sentenças e adágiostematizados e traduzidos. Aqui reúne mais de três mil textos subordinados a 130 temas. “São textos engenhosos, de intenção filosófico-moralizante, textos breves, sintéticos, repassados de sentido e ideais humanísticos”, informa o autor de Dicionário Básico Latino-Português.
Revisado por Furlan, Máximas Latinas é prefaciado pelo ex-presidente da Academia Catarinense de Letras (ACL), Lauro Junkes. “Como homem algum é uma ilha, devassando espaço e tempo, Raulino Busarello resgatou, de passado distante, imenso mosaico de pensamentos, reflexões, aforismos e provérbios emanados da experiência existencial e, em grande parte, codificados por eminentes personalidades das letras latinas, pérolas de sabedoria universal, imorredoras e sempre instigantes,comprimidas em formas simples.
A língua latina, que há séculos perdeu sua hegemonia, contudo, nas palavras do prefaciador, é a inerradicável da nossa cultura”. Em artigo, anexado à obra, Silva Bélkior (UFRJ), defendendo a reimplantação de ensino de latim no Brasil, conclui que o conhecimento do latim é condição básica para o aprofundamento do léxico e dos fatos da língua portuguesa, “brotada do idioma de Lácio como a flor do caule”.
Santo Agostinho, traduzido por Busarello em Máximas Latinas, advertiu: “Roma (o Papa) falou (decidiu), a discussão acabou”.
O conclave no Vaticano rapidamente liberou a fumaça branca. “Governarás a muitos, se a razão te governar” (Sêneca).
Em mil anos, Roma elegeu o primeiro Papa não europeu e o primeiro oriundo dos quadros da Companhia de Jesus, que, extinta no passado pelo próprio papado, dá a volta por cima. Adepto de São Francisco, o ex-arcebispo de Buenos Aires renova a esperança de homens e animais. Tu seiPetrus (Tu és Pedro).
Informações: (48) 3721-9408, 3721-9605 ou 3721- 9686 / www.editora.ufsc.br
Moacir Loth/Jornalista da Agecom/UFSC