Museólogo Peninha anima relançamento de “O fantástico na Ilha de Santa Catarina”
Discípulo e continuador da obra do artista, o museólogo Gelci José Coelho (Peninha) estava radiante ontem, 17, no relançamento, em volume único, do clássico da cultura popular O fantástico da Ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes. Publicado dentro da Coleção Repertório, da EdUFSC, o livro foi apresentado na tradicional feira de livros que a editora organiza todos os anos no Campus da Trindade, em Florianópolis. A feira estimula o hábito da leitura e valoriza a literatura, oferecendo descontos de 50 a 70% do preço de capa. O evento prossegue até o dia 25 de outubro. O ponto alto será no dia 24, quarta-feira, a partir das 16h30min, com o lançamento da primeira edição mundial póstuma de mais título da literatura universal: Pensar em não ver: escritos sobre a arte do visível, do filósofo Jacques Derrida.
Numa homenagem à cultura ilhoa e um presente ao próprio Cascaes que nasceu no dia 16 de outubro de 1908, o relançamento e a nova coleção da EdUFSC resgatam obras consideradas essenciais para os leitores e bibliotecas. Na mesma linha, foi reeditado o clássico caipira sulista Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto.
Peninha, que desencadeou originalmente a recuperação e publicação dos originais de Cascaes, deu entrevistas e conversou animadamente com o público presente.
O universo açoriano, o imaginário ilhéu, o retrato do inconsciente, e o falar açoriano-catarinense são os ingredientes que compõem esse caldeirão bruxólico.
No cardápio aparecem eleições, congressos, balanços e vassouras bruxólicas, bruxas ladras de baleeiras, baile de bruxas dentro de uma tarrafa de pescaria…
Cascaes escreve com a convicção de quem acredita piamente no que ouviu nas comunidades pesqueiras. Os causos chegaram com os antigos colonos açorianos, que trouxeram histórias contadas por gregos, romanos, mouros africanos, árabes e outros povos. “Os gestos culturais são repetidos no litoral catarinense e foram ainda enriquecidos ainda mais com os misteriosos espíritos revelados pelos povos indígenas”, revela o museólogo Gelci José Coelho (Peninha), principal discípulo e continuador da obra de Cascaes.
São 24 narrativas ilustradas com a pena do próprio autor que, segundo observa o pesquisador Oswaldo Antônio Furlan, responsável pelo glossário, reproduzem “traços do inconsciente popular na área da fantasmagoria, relatando casos dramáticos de crenças em boitatás, lobisomens, negrinho do pastoreiro e saci-pererê, mas sobretudo bruxas, a cujos malefícios os grupos sociais incultos de muitas gerações debitaram a agressividade de fenômenos naturais, deficiências na área da saúde e anomalias hereditárias”. As estórias, escritas entre 1946 e 1975, revelam Cascaes como “observador atento da cultura popular” e preocupado com a preservação da memória açoriana.
Franklin Joaquim Cascaes nasceu em São José (SC) em 16 de outubro de 1908 e faleceu em Florianópolis em 15 de março de 1983. Desenhista, escultor, artesão, ceramista, escritor, folclorista e ex-professor da antiga Escola de Aprendizes Artífices, antes de falecer, doou todo o seu acervo, em 1981, ao Museu Universitário da UFSC, onde estão guardados 925 desenhos, 1250 esculturas e acessórios cenográficos, além de 286 cadernos com anotações de campo, de onde saíram, por exemplo, as estórias de O fantástico da Ilha de Santa Catarina, incluído na Coleção Repertório, criada pela editora universitária para a difusão de clássicos da arte e do pensamento.
Quando fez a doação, Cascaes agradeceu a dezenas de pessoas e instituições, mas fez uma deferência toda especial ao museólogo Gelci José Coelho (Peninha).
_ O meu braço direito para a continuação desta obra que levamos a bom termo.
Peninha fez justiça à homenagem do velho bruxo!
Homenagem à Ilha da Magia
O museólogo lembra que Cascaes dizia que as suas anotações “se prestavam para fazer livros, teatro e até filmes” e que sua obra é “o ponto de partida para infinitas pesquisas e trabalhos”.
No final de cada estória, Franklin Cascaes faz uma singela homenagem à Ilha de Santa Catarina.
Em Armadilha para apanhar bruxas, feita com pilão de chumbar café, escrita em 1952, Cascaes declara: “minha querida Ilha do Desterro, o real e o irreal encontram em ti vida fictícia, harmoniosa e criadora”. E em A bruxa mamãe, concebida em 1964, observa que “a bruxaria é um problema muito estranho para os humanos, que adoram vivê-lo fantasiosamente em seus pensamentos irriquietos”. A grande procura pela obra prova que o mitólogo estava coberto de razão.
Em Eleição bruxólica não acrescenta nenhum pensamento. Nem precisava…
Créditos devidos
Além da presença fundamental de Peninha na organização das narrativas, é preciso destacar a participação de Dulce Maria Halfpap e Bebel Orofino Schaefer. Em síntese, nas palavras de Peninha, “é uma obra feita por estudiosos que têm o prazer de aprender no oceano de informações contidas nas fabulosas estórias contadas, de geração para geração, pelo povo de ascendência açoriana que habita a Ilha de ocasos e de casos muito raros”.
Bebel Orofino acrescenta que, “se pensarmos, ainda, que, além do conjunto de escritos, temos as coleções de desenhos e de esculturas feitas por Cascaes, quem ainda tem dúvida de que a sua obra representa o maior trabalho de pesquisa da cultura popular da Ilha de Santa Catarina já realizado”?
Por Moacir Loth – jornalista na Agecom/UFSC
Fotos: Dayane Ros/estagiária de Jornalismo na Agecom
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