Café Philo discute o silêncio em Maurice Blanchot
Literatura se faz com a palavra, mas explora o silêncio da palavra, escreve Eleonora Frenkel sobre o pensamento de Maurice Blanchot. Na próxima edição do Café Philo do dia 19 de setembro, a professora de Literatura da UFSC falará sobre “Maurice Blanchot e o silêncio da palavra”, no auditório da Fundação Cultural Badesc, das 19h às 21h.
A pesquisadora vai abordar o esvaziamento do ser pela sua ausência na palavra a partir da obra de Blanchot A literatura e o direito à morte (1949). No sentido em que a palavra nomeia algo que já não está, literatura é morte. Provocada pelas reflexões do filósofo francês, Eleonora propõe uma discussão sobre a qualidade e a intensidade desse silêncio na literatura moderna, cujo desafio é justamento ocupar-se do esvaziamento da linguagem. “Dirá Maurice Blanchot que a literatura tende para o silêncio, ela se move em direção e para além de seus limites”, diz a pesquisadora.
O Café Philo é um projeto de extensão coordenado pelo professor de Literatura e Linguística Pedro de Souza, do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, em parceria com Secretaria de Cultura da UFSC (SeCult) e Aliança Francesa. São encontros de debates mensais com um café oferecido pela SeCult, sempre quarta-feira, que procuram o diferencial de promover o diálogo informal sobre grandes pensadores franceses com um público mais amplo. A idéia é permitir que os participantes se aproximem da filosofia e conheçam diferentes intelectuais clássicos ou contemporâneos sob o intermédio de um pesquisador brasileiro da atualidade.
O filósofo:
O escritor e ensaísta francês Maurice Blanchot nasceu em 22 de Dezembro de 1907, no interior da França. Era filho de uma rica família católica. Estudou literatura alemã e filosofia. Blanchot era um escritor exigente, que construiu uma obra difícil e sem concessões. Seus livros influenciaram várias gerações de escritores e filósofos, como Michel Foucault e Jacques Derrida. Morto em 20 de Fevereiro de 2003, aos 95 anos. Blanchot, publicou: O livro por vir , 193 (1984); Philippe Lejeune, Le pacte autobiographique, Poétique, 146 (1983) ; Roland Barthes, Roland Barthes, 152 (1977); Bernard-Henri Lévy, Les derniers jours de Baudelaire (1988); Michel Beaujour, Miroirs d’encre (1980); Fernando Pessoa, O livro do desassossego (2002).
Palavra de Eleonora Frenkel:
“Digo: essa mulher” e, ao dizê-lo, revela-se a inquietante maravilha do ato de nomear: “a palavra me dá o que ela significa, mas primeiro o suprime”. É assim que Maurice Blanchot nos apresenta uma concepção de linguagem: ela manifesta a ausência daquilo que nomeia, ela é a materialidade vazia de uma anterioridade inapreensível. Que mulher é essa? Perco-a ao passo que a designo. “Para que eu possa dizer: essa mulher, é preciso que de uma maneira ou de outra eu lhe retire sua realidade de carne e osso, que a torne ausente e a aniquile. A palavra me dá o ser, mas ele me chegará privado de ser. Ela é a ausência desse ser, seu nada, o que resta dele quando perdeu o ser, isto é, o único fato que ele não é”. Essa passagem de A literatura e o direito à morte (1949) nos fala da ausência que toda palavra comporta e se esse vazio é o que a constitui, o silêncio manifesta seu mais alto grau. Que grande desafio se abre para a literatura moderna quando se ocupa justamente do esvaziamento da linguagem, quando se pergunta sobre esse nada inapreensível com o qual se faz. A literatura é linguagem. Uma linguagem que se coloca em questão, que se pergunta sobre suas possibilidades e que faz de suas impossibilidades sua maior busca. Por isso dirá Maurice Blanchot que a literatura tende para o silêncio, ela se move em direção e para além de seus limites. Se faz com a palavra, mas explora o silêncio da palavra. O impossível apaixona a poesia e ao inventar os modos de realizar o irrealizável, ela cria novos possíveis e se refaz num devir constantemente renovável. Esse é o espaço da imaginação e sua dimensão política latente”.
Debat d’idées
46o. Café Philo: “Maurice Blanchot e o silêncio da palavra”
Quando: 19 de setembro,
Horário: das 19h às 21h
Debatedor: Professora Eleanora Frenkel
Onde: Auditório da Fundação Cultural Badesc
Rua Visconde de Ouro Preto, 216 / Esquina com a Rua Artista Bittencourt – Centro -Florianópolis.
Organização: Pedro de Souza
Promoção: Secretaria de Cultura da UFSC e Aliança Francesa
Entrada: Gratuita
Raquel Wandelli/Jornalista da SeCult / UFSC
raquelwandelli@yahoo.com.br
(48) 9911-0524 e 3721-9459
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