Palestrante narra experiência colombiana no uso de tecnologia para combate ao crime

28/06/2012 15:01

A autossustentabilidade e a consequente eliminação da dependência de tecnologia externa é um dos caminhos de curto prazo para solucionar as necessidades do setor de defesa em qualquer país. Esta afirmação foi feita pela advogada Leonor Hidalgo, funcionária do Ministério de Defesa Nacional da Colômbia, durante a programação desta manhã do  I Seminário Internacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Segurança Pública, que vem sendo realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), em Florianópolis, em promoção da UFSC, Polícia Militar/SC, CNPq e Finep. No caso colombiano, o desenvolvimento de pesquisas nesta área é fundamental pela necessidade permanente de combater o terrorismo e o narcotráfico.

“Nosso treinamento é a própria realidade do país”, disse a advogada, destacando que a indústria incipiente da defesa obrigou diferentes governos a importar armamentos e tecnologia para combater a criminalidade, gerando prejuízos para um país que ainda enfrenta muita pobreza e desigualdades sociais. Com o apoio de universidades e centros de pesquisa, foi possível definir diretrizes e estratégias setoriais que permitiram a substituição de importações nesta área. “Com o tempo, surgiram empresas privadas que se especializaram na produção de equipamentos com uso também no setor civil”, conta Leonor Hidalgo.

Na Colômbia, um desafio foi superar as dificuldades de operação em ambientes distintos como a selva, as montanhas, as planícies, os rios e o litoral – locais onde era preciso combater o terror e o tráfico. O desenvolvimento de ferramentas próprias permitiu, por exemplo, que um capacete especial para pilotos de helicópteros que era importado de Israel ao custo de US$ 45 mil por unidade passasse a ser fabricado no país por apenas US$ 5 mil. Os técnicos também conseguiram aperfeiçoar os sistemas de detecção de minas terrestres e, por conta de seus estudos, aprimoraram ferramentas na área das telecomunicações. “Esse trabalho acabou gerando empresas e empregos que não existiam antes no país”, diz a advogada.

Imperativo político – A segunda palestra da manhã foi proferida pelo professor peruano Raul Salazar, que abordou o papel da segurança pública na construção de resiliência nas cidades em função de desastres naturais. Funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU), ele apresentou números preocupantes em relação aos riscos a que se submetem as populações urbanas do planeta. Apenas na América Latina – a segunda região do planeta mais afetada por desastres – há 110 milhões de pessoas morando em áreas sem segurança, ou seja, em condições precárias, e portanto sujeitas a inundações e desmoronamentos. “O impacto econômico anual decorrente desses problemas chega a US$ 2 trilhões em todo o mundo”, informou.

O tema vem gerando crescente interesse porque prevê-se que em 2030 cerca de 80% da população mundial estará morando em cidades – no Brasil, esse índice poderá chegar a 95%. Problemas relacionadas à qualidade dos edifícios, áreas de assentamentos e infraestrutura básica serão cada vez mais citados nos estudos sobre mitigação das vulnerabilidades urbanas. “Pouca gente sabe, por exemplo, que as mulheres são 14 vezes mais afetadas que os homens por fenômenos naturais extremos”, destacou o palestrante. No sudeste da Ásia, as maiores vítimas das monções são as crianças, que não sabem nadar, e por isso uma das medidas adotadas pelas autoridades foi incluir aulas de natação no currículo escolar.

“A redução de riscos é um imperativo político, ético e de justiça social”, afirmou Raul Salazar. “É por isso que 180 países estabeleceram em rede as metas para atacar esse problema até 2015. A primeira providência para povos e governos é conhecer os riscos, para então tomar as providências. O combate aos riscos deve ser uma prioridade nacional de cada nação. É preciso melhorar também a capacidade de reação imediata aos desastres, investir mais e melhor na prevenção e levar em conta que para cada dólar gasto com o cuidado se ganha quatro dólares, o que revela o bom custo-benefício de políticas eficientes neste campo”.

Por Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista na Agecom

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