Alunos de Arquivologia ajudam a conservar documentos da Biblioteca Universitária
Um memorando enviado ao governo da província por representantes da Colônia Blumenau, em abril de 1876, solicitando informações sobre o projeto da construção de pontes e estradas no Vale do Itajaí, é um dos muitos documentos guardados da Biblioteca Universitária da UFSC que vêm sendo objeto de estudo e tratamento por alunos do curso de Arquivologia da instituição. Esse trabalho se tornou possível graças a uma parceria entre o setor de Obras Raras da BU e a coordenação do referido curso, através das professoras Eliana Maria dos Santos Bahia e Ursula Blattmann, permitindo que os estudantes comecem, dentro da própria Universidade, a lidar com acervos semelhantes aos que vão manipular na futura atividade profissional.
No primeiro momento, o do diagnóstico, cerca de 35 alunos da disciplina Política de Preservação de Documentos realizam a análise do acervo, começando pela caracterização do ambiente em que se encontra o material. A avaliação inclui ainda os tipos de móveis usados para a armazenagem dessa documentação, as condições de iluminação, temperatura e umidade relativa do ar e os materiais utilizados no acondicionamento. A composição do papel e da tinta, o tipo de escrita e os danos provocados pela acidez sobre os papéis são outros aspectos verificados pelos alunos.
Depois disso vem o tratamento do documento, que passa pelo processo de higienização, conservação, preservação e, se for necessário, restauração. No caso de uma intervenção que implique em restauro, os estudantes contam com a orientação da professora da disciplina e fazem uso de papel de arroz japonês e da cola Carboxi Metil Celulose, que tem PH neutro.
Outra fase importante é o tratamento da informação contida no documento, ou seja, a identificação do conteúdo, seguida da transcrição paleográfica. No final, eles confeccionam caixas com papel/fibras revestidas em tecido de algodão. Só então é que os documentos são digitalizados e disponibilizados para a comunidade por meio do Repositório Institucional da UFSC (www.repositorio.ufsc.br).
Uma etapa indispensável é a eliminação da acidez dos materiais. “A acidez torna o papel quebradiço, cheio de manchas de bolor, e precisa ser removida”, destaca Claudiane Weber, que atua na Divisão de Automação e Informática e coordena o repositório institucional da UFSC, que oferece o material pronto para download a todos os interessados.
Agentes químicos (luz, acidez), físicos (mobiliário) e biológicos (fungos e bactérias) interferem na vida útil dos documentos. Com o tratamento, o PH do papel, antes ressecado, volta a ser neutro. Com condições ideais de climatização, desumificadores de ar e arquivos deslizantes que facilitam a guarda, é possível garantir 100% de segurança na conservação do material.
“Identificamos pelo menos quatro disciplinas da Arquivologia que podem trabalhar em cima desses conteúdos”, afirma a bibliotecária Joana Carla Felício, que chefia o Setor de Coleções Especiais da BU e acredita que outros cursos também podem se beneficiar da manipulação desses acervos. Em qualquer caso, o trabalho pedagógico ajuda os alunos a tomarem consciência da importância de preservação do patrimônio histórico, do aprendizado da escrita e da história de uma determinada época.
Registros da imigração
O setor de Obras Raras reúne, entre outros materiais, manuscritos do século XIX vindos das colônias Blumenau, Luiz Alves (foz do Vale do Itajaí), Dona Francisca (norte do Estado) e Santa Isabel (pertencente ao atual município de Águas Mornas). Há cartas endereçadas ao presidente da província de Santa Catarina na década de 1860, livros raros, fotografias e periódicos antigos, além de publicações (teses, dissertações), documentos e audiovisuais da UFSC. Sobre a região de Blumenau, destacam-se fotos da Casa dos Atiradores, ponte do Garcia, Igreja Evangélica e vistas parciais da cidade. Muitas imagens, incluindo as enviadas por famílias da Grande Florianópolis, não trazem identificação, o que dificulta a catalogação.
Chama a atenção também o acervo doado pelo comerciante Henrique Berenhauser, criador do Parque Florestal do Rio Vermelho, na Ilha de Santa Catarina, e outras fotos que mostram o cotidiano da cidade em décadas passadas. “Todo esse material precisa ser trabalhado, identificado e higienizado, sendo depois oferecido à consulta dos interessados”, reforça Joana Felício.
Coordenadora do projeto, Claudiane Weber define este espaço da BU como um laboratório de aprendizagem e qualifica a parceria com o curso de Arquivologia como “uma experiência integradora de competências” nas áreas arquivística e biblioteconômica. A meta do setor é sensibilizar as famílias e comunidades a doarem fotos e documentos, que seriam selecionados para comporem o acervo da biblioteca. “Muita gente não sabe que temos esta estrutura e que seus acervos particulares podem ser conservados”, diz Claudiane.
Mais informações no Setor de Coleções Especiais da Biblioteca Universitária, pelos fones (48) 3721-9305 e 3721-2256.
Por Paulo Clóvis Schmitz/jornalista na Agecom
Fotos: Wagner Behr/Agecom