Reitora e vice-reitora falam sobre as prioridades para a gestão
A sala da direção do Centro Tecnológico ficou lotada, na quinta-feira, dia 1º de dezembro, para a entrevista coletiva concedida pelas professoras Roselane Neckel (currículo lattes) e Lúcia Helena Martins-Pacheco (currículo lattes), reitora e vice-reitora eleitas no segundo turno da consulta à comunidade universitária realizado 30 de novembro. A entrevista concedida e a chapa eleita tiveram ampla repercussão na mídia local, tendo destaque como reportagem especial, espaço nas TVs, além dos veículos do curso de Jornalismo como o Jornal Zero e o site cotidiano. Elas falaram sobre os planos da gestão que assume, em maio de 2012, uma universidade com uma comunidade acadêmica de quase 40 mil pessoas e com um orçamento anual que ultrapassa um bilhão de reais, e, também, sobre a primeira chapa só de mulheres a se candidatar e vencer uma eleição para a reitoria da UFSC. Nas universidades federais brasileiras as reitoras ainda não representam 20% do total.
A visibilidade das mulheres
À pergunta da Agecom sobre como se sentiam trazendo a novidade da primeira reitora eleita da UFSC, da primeira chapa só de mulheres e tendo a futura reitora uma trajetória de estudos sobre questões de sexualidade e de gênero, Roselane respondeu que a chapa não era uma candidatura de gênero, mas de duas professoras que sempre trabalharam e, como outras, alcançaram visibilidade nos espaços públicos, fruto de suas carreiras.
Citou a professora Maria Odila Leite da Silva Dias, orientadora de seu doutorado realizado na PUC/SP, que estudava os excluídos da história. As mulheres têm sido parte dos excluídos: as mães, as donas dos fogões, mulheres sem companheiros que sustentam seus filhos. Estudos de gênero mostram a oportunidade de quebrar preconceitos em relação ao ser homem e ser mulher. Quando as mulheres estão no poder recebem sempre uma alcunha como Margaret Thatcher – a “dama de ferro”. Os sujeitos se constituem a partir das experiências. É importante para a geração de meninas e mulheres saberem que são iguais aos homens e que não é porque somos mães que não podemos ocupar espaços. As mulheres modernas têm sido definidas à exaustão, mas o que são os homens modernos? É necessário destacar que há espaço para os homens e para as mulheres.
Há ainda muitos espaços predominantemente ocupados por homens. Roselane contou que integrou uma mesa de autoridade no campus de Joinville em que ela era a única mulher. Ainda é difícil as mulheres ocuparem cargos de gestão e, portanto, terem visibilidade. Lúcia contou que, vinda de um Centro predominantemente masculino (Centro Tecnológico) tinha a experiência que às vezes a presença feminina servia como uma boa mediadora, ainda mais que além de engenheira ela tem graduação em Psicologia. Mas quando foi convidada para integrar a chapa perguntou “Não vai ficar estranho uma candidatura só de duas mulheres?” Ao que o professor Edison da Rosa, um dos coordenadores da campanha, respondeu : ” Mas se fossem dois homens ninguém iria estranhar, não é?” Em 50 anos de universidade não houve nenhuma candidatura de duas mulheres. A chapa vencedora é de duas profissionais que estão na instituição e ocupam seus espaços.
Prioridades da gestão
A prioridade zero, para as professoras, é a reorganização administrativa e a melhoria de infraestrutura visando a dar conta das demandas do aumento de vagas criado pelos novos cursos e pela interiorização. A avaliação do MEC, feita em 2009, apontou as atividades meio como uma das fragilidades da instituição. Muitos diagnósticos referentes à infraestrutura física foram feitos, mas há necessidade de definir estratégias para a gestão e execução de obras, visando a que possam ser efetivadas com mais rapidez e agilidade.
Roselane destacou o esforço das equipes atuais que têm se desdobrado, mas, que são insuficientes em número de pessoas para garantir a execução dos projetos e as grandes obras e manutenção. Os campi, especialmente, têm muitas necessidades: no de Joinville os professores estão com uma sobrecarga muito grande, o de Araranguá tem demandas de estrutura física com a criação de novos cursos e em Curitibanos é preciso criar a fazenda experimental em decorrência do perfil dos cursos. A permanência estudantil depende de um Restaurante Universitário funcionando adequadamente, dos equipamentos de pesquisa e ensino.
Outro ponto é uma postura firme junto ao governo em relação às vagas de professores e técnico-administrativos. A UFSC recebeu as vagas prometidas pelo REUNI, mas os servidores aposentados não foram repostos. Em relação à gestão de pessoas: professores e técnico-administrativos deve-se ter metas a curto, médio e longo prazo. Para isto será feito um planejamento de gestão com critérios para aplicação e gestão dos recursos em construção com os colegiados e com os campi para as tomadas de decisão.
O que as professoras eleitas propõem é a desconstrução da perspectiva personalista de gestão, sendo a sintonia entre reitora e vice fundamental, já que a vice-reitora com certeza, afirma Roselane, vai partilhar e construir as tarefas e trabalhos conjuntos como toda a equipe a ser constituída consultando órgãos colegiados e pessoas em relação a competências e habilidades de quem vai assumir as funções. A proposta é de uma profissionalização da gestão garantindo a valorização das pessoas o que representa a construção de lideranças institucionais e a divisão de tarefas para que a equipe caminhe junto.
Um terceiro ponto é a necessidade de redimensionamento do setor de compras e patrimônio, já que o grupo de pessoas trabalha muito, mas é pequeno em relação às demandas. Quanto à relação campus x comunidade é importante o apoio institucional para as atividades individuais de professores que já desenvolvem estágios interdisciplinares, às empresas júniores e ao que é realizado não só com a comunidade do entorno dos campi, mas em toda Santa Catarina, já que a universidade não pode só gerar conhecimento, mas sim, conhecimento com aplicabilidade. Para isto haverá uma Secretaria de Relações Institucionais que se quer com uma relação mais estreita e mais proativa com a prefeitura municipal de Florianópolis para uma colaboração mais estreita em questões como a da segurança pública, Plano Diretor, sustentabilidade, que possa debater questões de grande porte como a da ampliação da rua Antonio Edu Vieira, outras questões amplas em relação ao transporte na cidade como a ciclovia, a questão dos parques, entre outras.
Na entrevista também foi abordada a necessidade de se pensar uma economia limpa para a universidade. É necessário reestruturar o setor de gestão ambiental. Há boas iniciativas de compostagem, mas falta o tratamento dos efluentes e uma política institucional de reciclagem de lixo. A professora Lucia falou sobre a necessidade de o Hospital Universitário ser potencializado e vitalizado em muitas áreas como os laboratórios de ensino e os de pesquisa que legitimam o HU comunitário e público. Essas questões já apareceram em diagnóstico feito pela gestão atual, mas ainda não foram efetivados a bom termo.
Outra questão colocada em pauta foi a das empresas que iniciam obras e se retiram antes do término. Roselane contou que, como diretora do CFH nos últimos anos, aprendeu a fazer os processos de licitação e que é necessário estabelecer critérios de qualidade, como se fez na ampliação do bloco D do Centro para atender, com rapidez, às necessidades do Serviço de Atenção Psicológica da UFSC (SAPSI) que atende a cerca de 900 pacientes ao ano. Com um contrato bem construído, se a empresa não tem condições nem equipe, não pode se candidatar à licitação. É necessário também ser mais rígido em termos de punição, quanto às cláusulas para os casos de atraso e rompimento de contrato.
Jornada de trabalho e ponto eletrônico
Uma das perguntas à Roselane foi sobre as políticas em relação à carga horária, questão que gerou polêmica na atual gestão. A reitora eleita contou que há um trabalho de Psicologia Organizacional, feito em 2005 pelo Departamento de Psicologia da UFSC, sobre a motivação e desmotivação de trabalhar na universidade. Entre as conclusões é de que há um preconceito que o servidor público não trabalha, que há setores fazendo atividades semelhantes, que é necessário uma política de gestão de pessoas que dê condições de uma avaliação adequada, também que não há garantia de continuidade se houver algum tensionamento entre o servidor permanente e o professor substituto. Os resultados servem como uma das bases para um trabalho de dimensionamento sobre onde estão lotadas as pessoas, o que fazem em cada setor, qual a demanda de pessoal de cada setor, laboratório, entre outros. Com um diagnóstico preciso se pode então ir ao governo federal mostrando o que necessitamos.
Outra proposta é a oferta de cursos de capacitação que desenvolvam responsabilidade cidadã, porque, afirmou Roselane, ponto eletrônico não é igual a responsabilidade institucional, mais oprime que ajuda. Porque se você não se sente comprometido, quando não há valorização das pessoas, elas podem ficar no setor sem trabalhar. Mas este problema não ocorre só no setor público.
Continuando sobre o tema do turno de trabalho para os técnico-administrativos de seis ou oito horas diárias, a reitora eleita falou que o tema é histórico e tem sido presente em processos eleitorais, como já aparece no Livro UFSC 50 anos: Trajetórias e Desafios, do qual é uma das organizadoras. Para ela é importante que uma comissão faça um estudo cuidadoso e um mapeamento dos setores, já que na UFSC se trabalha manhã, tarde e noite. Há especificidades e diversidades na universidade e os indicadores de realidade é que mostrarão se com seis horas daremos conta da missão ou se realmente são necessárias oito horas. Se for apontado que com seis horas damos conta, disse Roselane, iremos a Brasília, com a assessoria jurídica, para propor as seis horas, que é uma defesa e faz parte do plano de luta dos sindicatos em nível nacional.
Transição
As professoras relataram que nas próximas semanas haverá reuniões com vários setores para iniciar os trabalhos de transição que não podem iniciar só em maio de 2012. Há muitas questões para serem encaminhadas consultando setores, visitando departamentos e a partir de várias contribuições um grupo técnico constituído construirá um planejamento sabendo que há questões a serem resolvidas com urgência.
Por Alita Diana/jornalista da Agecom
Fotos: Paulo Noronha/Agecom