Pesquisa revela que o tempo entre diagnóstico e terapêutica do câncer de mama pode levar de 2 meses a 4 anos
O movimento mundial conhecido como Outubro Rosa é dedicado a chamar a atenção para a doença que mata milhares de mulheres por ano: o câncer de mama. Criado nos Estados Unidos em 1997, o evento tem como objetivo estimular a participação das pessoas e de entidades na luta contra esse tipo de câncer.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que em Santa Catarina o número é de 49,58 casos a cada 100 mil mulheres. Nas regiões Sul e Sudeste estão registrados os maiores números, chegando a 88,30 no Rio de Janeiro. É também a primeira causa de morte por câncer na população feminina brasileira, na qual cerca de 30 mulheres falecem por dia. O câncer de mama é o câncer mais incidente em mulheres, só neste ano, foram estimados pelo Inca 49.400 novos casos no Brasil. Em 2008 mais de 1,3 milhões de mulheres receberam o diagnóstico de câncer de mama no mundo, conforme publicou a International Agency for Research on Cancer (IARC) no ano de 2010.
A enfermeira Luciana Martins da Rosa, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), defendeu sua tese de doutorado em maio deste ano, orientada pela Professora Vera Radünz, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, com o título “A mulher com câncer de mama do sintoma ao tratamento: implicações para o cuidado de enfermagem”.
Em sua pesquisa, Luciana constatou que a faixa etária dos 40 aos 49 anos foi a mais incidente, diferindo da média nacional e mundial que é acima de 50 anos. Também foram mais incidentes as mulheres com escolaridade até o nível fundamental, profissões relacionadas à atividade doméstica e o estádio II e III da doença (os estádios da doença oscilam entre I até IV).
O tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento em estudos realizados em países desenvolvidos é de aproximadamente 30 dias. No levantamento realizado numa instituição que presta atendimento público em saúde, especializada no tratamento oncológico de Santa Catarina, a enfermeira observou que esse intervalo oscila de 31 a 233 dias e o intervalo do sintoma ao tratamento oscila de 75 a 1.561 dias, com mediana de 245 dias. O diagnóstico realizado precocemente pelo exame de imagem possibilita a cura e aumenta as taxas de sobrevida. No referido estudo, todas as mulheres detectaram a própria doença através do auto-exame. O diagnóstico por imagem apenas confirmou o que as mulheres já desconfiavam.
Estudos que investigam a sobrevida das mulheres com câncer de mama mostram que tempos superiores a três meses são indicativos de redução das taxas de sobrevida. Das treze mulheres encontradas no período do estudo (de agosto a dezembro de 2010), atendidas exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e entrevistadas pela pesquisadora, apenas duas iniciaram o tratamento no período inferior a este intervalo. Nesse estudo, a investigação também incluiu a busca em todos os prontuários referentes às mulheres que iniciaram o tratamento da doença no ano de 2009. No entanto, o intervalo de tempo do sintoma ao exame de imagem não foi possível ser investigado, pois não foram encontrados registros profissionais referentes a esta etapa, o que impediu a aplicação de testes estatísticos de inferência.
O intervalo da cirurgia ao tratamento adjuvante (tratamento complementar) oscilou de 21 a 136 dias, alguns estudos indicam que este tempo deva ser até 45 dias, outros até 82 dias. Neste estudo apenas 12,5% das mulheres iniciaram a adjuvância em até 45 dias e 62,5% em até 82 dias.
Algumas das pacientes investigadas (45%) tiveram tantas dificuldades para marcar exames e cirurgia pelo SUS que decidiram realizar estas etapas via recursos particulares, mesmo sendo de classe socioeconômica mais carente. “Muitas delas tinham dificuldades financeiras e criaram alternativas para agilizar os procedimentos e aumentar a chance de viver, pediram dinheiro emprestado, as famílias cotizaram as despesas, pediram adiantamento das férias aos patrões”, conta Luciana. Muitas vezes a demora acontece também por falta de informação dos pacientes e de seus familiares, por não terem conhecimento da urgência do diagnóstico do câncer.
Outro aspecto analisado foi a forma como o câncer afeta psicologicamente as mulheres. A demora no período diagnóstico-terapêutica faz com que elas sofram pela ansiedade sentida pela demora da iniciar o tratamento, pelo medo da doença avançar e pela retirada da mama antes mesmo de fazer a cirurgia. Algumas mulheres revelam que passam a não se olhar mais no espelho, após a operação. Para a maioria delas, não há perspectiva para a reconstrução da mama pelo SUS.
Além disso, ainda existe o enfrentamento das conseqüências do esvaziamento axilar, realizado no tratamento cirúrgico de todas as mulheres investigadas. Isso dificulta as tarefas diárias e diminui a produtividade dessas mulheres, muitas se aposentam. Dessa forma, o diagnóstico precoce é a melhor saída para uma maior chance de sobrevida e um tratamento mais simples e menos invasivo, sem que necessite passar pela cirurgia mutiladora, e também a melhor maneira de reduzir os custos diretos e indiretos que o país aplica para cuidar das mulheres com câncer de mama.
O movimento Outubro Rosa é assim chamado por causa da cor do laço que simboliza a luta contra o câncer de mama. A marca principal é a iluminação de monumentos históricos e prédios da cidade com a cor rosa. Em Florianópolis, o movimento é promovido pela Associação Brasileira de Portadores de Câncer (Amucc) e a programação inclui diversas atividades relativas à conscientização, prevenção, diagnóstico precoce e importância da mamografia. Neste sábado, dia 29, será realizada a Caminhada Rosa, no Centro da capital, pelas ruas Tenente Silveira, Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra até o Mercado Público Municipal. A concentração será às 10h, em frente à Catedral Metropolitana e a caminhada inicia às 11h.
Mais informações com a enfermeira Luciana Martins da Rosa pelo e-mail luciana.tb@hotmail.com ou com a Amucc pelo endereço www.amucc.com.br e pelo telefone (48) 3025-7185
Por Carolina Lisboa/ Bolsista de Jornalismo na Agecom