Autora do best-seller “Água, pacto azul” participa de congresso em Florianópolis
Entre os dias 9 e 10 de novembro, a ativista canadense Maude Barlow participa do I Congresso Internacional “O Futuro da Água no Mercosul”. O encontro será realizado em Florianópolis, no auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
Maude é uma influente defensora do direito humano à água. Esteve em outras ocasiões no Brasil, inclusive em Santa Catarina, quando em 2009 divulgou seu livro “Água, pacto azul”. Nesta viagem a canadense alertou os brasileiros sobre a importância de não superestimar a água doce do país, que corresponde a 13,7% da reserva mundial. “Mas não é infinita e é mal gerenciada”, alertou. “O Brasil é abençoado, mas tem uma grande responsabilidade nessa questão”, disse em entrevistas no país.
Nobel Alternativo do Meio Ambiente
Maude Barlow Victoria nasceu em 24 de maio de 1947 e é chefe do Council of Canadians, ou Conselho dos Canadenses, a maior organização canadense de militância pública. É também fundadora do Blue Planet Projetc, que trabalha internacionalmente a favor do direito humano à água. Entre 2008 e 2009 atuou como consultora-sênior em água do presidente da 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). É autora e co-autora de 16 livros, incluindo os best-sellers “Água: Pacto Azul” e “Água, o Ouro Azul”.
Maude preside o conselho de Washington baseado no Food & Water Watch, e é membro-fundadora do Fórum de São Francisco Internacional sobre Globalização, além de conselheira do Conselho Futuro Mundial, com sede em Hamburgo. A ativista já recebeu 11 títulos de honoris causa, além de gratificações como o Livelihood Award Rights 2005 (conhecido como o “Nobel Alternativo do Meio Ambiente”).
O congresso
O I Congresso Internacional “O futuro da água no Mercosul” é uma iniciativa do grupo de estudos “A geopolítica da água e os bens comuns”, ligado ao projeto Rede Guarani/Serra Geral, e tem apoio da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, dos programas de pós-graduação em Direito e em Geografia da UFSC; do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Caxias do Sul e da Universidade Regional de Blumenau (FURB).
O evento tem ênfase na discussão do princípio da água como um direito humano, promovendo também o debate sobre a necessidade de gestão integrada das águas superficiais e subterrâneas no âmbito da Bacia do Prata, região em que se localiza uma das maiores reservas de água subterrânea do mundo: o Aquifero Guarani.
As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no site www.rgsg.org.br
Mais informações sobre o evento com o professor Luiz Fernando Scheibe pelo e-mail scheibe2@gmail.com, fone (48) 3721-8813
Por Gabriele Duarte / Bolsista de Jornalismo na Agecom
Assessoria de Comunicação:
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– Agência de Comunicação da UFSC: (48) 3721-9601 / agecom@agecom.ufsc.br
Saiba Mais:
– Maude Barlow no 5º Fórum Mundial da Água, em 2009: http://www.youtube.com/watch?v=ShwJHknY9IU
– Trechos de entrevista com Maude Barlow concedida ao Planeta Sustentável, em 2009:
Um alerta aos brasileiros:
O Brasil e o Canadá tendem a pensar que o abastecimento de água está garantido porque temos água em abundância. Isso não é verdade! Não podemos enxergar a água como uma oportunidade econômica, mas, sim, como parte da natureza e ela está muito comprometida, contaminada, desperdiçada.
Modelo exportação: água virtual
Minha maior crítica ao Brasil é o modelo criado para exportação, no qual se usa muita água para produzir cana-de-açúcar, por exemplo, mais água para fazê-la crescer e produzir etanol. Depois, isso é exportado para outro país. Chamamos isso de “água virtual”. Austrália, Estados Unidos e Canadá fazem a mesma coisa, mas o Brasil nem parou para questionar se isso está errado. Aumentar as exportações, como quer o governo, só vai piorar o quadro. Para produzir e fazer chegar soja na China, gastamos cerca de 2/3 do consumo doméstico mundial de água de um ano inteiro. E estamos falando só de soja e só da China.
Poluição por agrotóxicos
Além da “água virtual” e da falta de conscientização, existe a grande poluição dos agrotóxicos, cujo veneno vai para a água, contamina o lençol freático. E o país precisa estar atento quanto aos “caçadores de água” também. Grandes companhias vêem o Brasil como uma máquina de dinheiro.
O país não pode permitir que essas empresas se instalem aqui dessa forma. Hoje, boa parte do mundo já não permite isso, enquanto o Brasil se posiciona de maneira amigável. No ano passado, foram produzidas mais de 2 bilhões de unidades de água engarrafadas das quais apenas 5% eram recicláveis. Outros países, como Arábia Saudita e Japão, que têm pouca água também estão de olho em lugares abundantes em água, comprando terras.
Um planejamento necessário:
O Brasil precisa se programar em três eixos: ter legislação para manter a água pública e proteger o solo, criar o direito à água universal e produzir comida com uso sustentável de água. Eu sei que isso é difícil e faltam recursos, mas não importa. É hora de fazer uma legislação para as empresas e proteger a água, não de ser amigável. Quem quiser usar água para fins comerciais terá de pagar, de rastrear e de utilizá-la de uma forma consciente. Na Alemanha, a água tem que ser limpa a ponto de um bebê poder bebê-la direto da torneira. Lá, se você poluir, eles te pegam.
Não teremos água para sempre:
Estamos acabando com a água fresca do mundo e colocando o planeta em risco. Todos os anos, despejamos 700 trilhões de litros de água vindas das cidades no oceano. Isso foi removido dos aquíferos, dos rios e dos lagos e deveria ser devolvido à bacia hidrográfica, é uma perda. Quando alguém tira a água do chão de qualquer maneira, faz um deserto, o que piora o aquecimento global. Sim, o aquecimento global faz desertos! Mas o caminho inverso também é verdadeiro. O Brasil é abençoado, mas tem uma grande responsabilidade nessa questão.