Cientistas da UFSC desenvolvem modelo para prever risco de extinção de peixes recifais

19/04/2013 17:30

Endêmico da costa brasileira, o budião-azul (Scarus trispinosus) está ameaçado de extinção devido à pesca predatória de suas populações. Foto: Osmar Luiz Jr.

Um grupo de cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveu um modelo capaz de prever o risco de extinção de peixes dos recifes brasileiros, uma ameaça que atinge cada vez mais peixes recifais e tem como causa os impactos provocados pelo homem, como a pesca predatória, a poluição e a degradação e perda de hábitats marinhos. O modelo está descrito no artigo “Atributos biológicos e ameaças como preditores da vulnerabilidade das espécies: um estudo de caso com peixes recifais brasileiros”, publicado em 16 de abril, pela revista Oryx, de autoria da pesquisadora Mariana Bender e do professor Sergio Floeter.

Os autores avaliaram 559 espécies conhecidas de peixes recifais brasileiros, por meio da combinação de características biológicas das espécies e das principais ameaças sobre esses organismos. Do total, 36 espécies de peixes já são consideradas ameaçadas de extinção. “Muitos estudos mostram que as populações de peixes recifais estão em declínio em todo o mundo e, infelizmente, as espécies brasileiras seguem esta mesma tendência. Não existem dados populacionais ou de estatística pesqueira para todas as nossas espécies, o que dificulta a determinação de seu estado de conservação”, afirma Mariana Bender. “No entanto, dado o crescente impacto humano sobre os ambientes marinhos, é fundamental que se utilizem todas as ferramentas disponíveis para avaliar essas espécies, gerando informações e que possam orientar ações reais de conservação”, completa a pesquisadora.

População vulnerável

Peixes-papagaio comercializados no Brasil: “As atividades pesqueiras já atingiram os níveis mais baixos da cadeia alimentar, ou seja, espécies de peixes herbívoros. Pescadores os chamam de “peixes coloridos“ e identificam que essas não eram alvos importantes no passado” diz Mariana Bender. Foto: João Luiz Gasparini

Tubarões, raias e peixes endêmicos são os mais vulneráveis entre peixes recifais brasileiros. Os pesquisadores descobriram também que o tamanho do corpo e posição na cadeia alimentar são atributos importantes para predizer a vulnerabilidade de peixes à extinção. “Além de ser um importante alvo da pesca, os peixes de grande porte possuem características que contribuem para aumentar a sua vulnerabilidade, como o crescimento lento, maturidade tardia, e até mesmo a desova em agregações, como é o caso de algumas espécies de garoupas”, diz Mariana Bender. Predadores de topo de cadeia alimentar também estão entre as espécies mais vulneráveis: 58% das espécies de peixes recifais ameaçadas no Brasil são carnívoras, como garoupas e badejos, geralmente os principais alvos da pesca.

O modelo desenvolvido neste trabalho revelou a combinação de fatores que podem aumentar a probabilidade de uma espécie ser ameaçada, como peixes com cuidado parental de ninhos (ninhos ou desovas). Outra associação preocupante resulta da combinação de endemismo e grande tamanho corpóreo, que é o caso do budião-azul Scarus trispinosus (ver figura). “Essas combinações perigosas, como podemos chamá-las, podem ser aplicadas para prever quais espécies de peixes apresentam maior risco de extinção antes mesmo de se obter dados populacionais mais refinados ou de estatística pesqueira, o que demanda tempo e recursos financeiros. Além disso, essas categorias podem ser aplicadas também para outras regiões do mundo, como o Caribe e o Oceano Pacífico”, explica o professor Sergio Floeter, coautor do artigo.

Dados para avaliar grau de ameaça

De acordo com os pesquisadores, existe um esforço muito grande para avaliar o estado de conservação da vida marinha. Além da IUCN (Internacional para a Conservação da Natureza; www.iucn.org) ter criado grupos de especialistas para avaliar conjuntos de espécies, como tubarões, por exemplo (IUCN Shark Specialist Group), agências estaduais e nacionais, como o Ministério do Meio Ambiente e o ICMBio, têm reunido com uma frequência cada vez maior pesquisadores para analisar o grau de ameaça à espécies. Mesmo assim, ainda não existem dados populacionais necessários em avaliações deste tipo para a maioria das espécies, incluindo aquelas que vivem nos ambientes recifais. Ao longo da costa brasileira, por exemplo, existem 559 espécies de peixes recifais, das quais 12% são endêmicas, ou seja, ocorrem apenas no Brasil.

“O principal objetivo do nosso trabalho é ser aplicado em futuras avaliações do estado de conservação de peixes recifais, bem como por gestores na elaboração de planos de manejo e recuperação de espécies”, observa Mariana Bender. A publicação contou com a colaboração de Natalia Hanazaki, Carlos Eduardo L. Ferreira, Alfredo Carvalho-Filho, Fernando Mayer, Daniele Vila-Nova e Guilherme Longo.

Mais informações:

Link da publicação: http://dx.doi.org/10.1017/S003060531100144X

E-mail para contato: maribender@yahoo.com.br

Site do grupo: www.lbmm.ufsc.br

Fonte: Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha/Mariana Bender

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