Professor da UFSC ganha prêmio pela melhor obra científica de Ciências Sociais
“A Sociologia elegeu três autores como seus fundadores: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. No meu ponto de vista, porém, entre os três, este último é o mais atual e o mais válido para entender as condições do mundo de hoje”, afirma Carlos Eduardo Sell, professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sell recebeu o prêmio pela melhor obra científica em Ciências Sociais, com Max Weber e a racionalização da vida, durante o 38º encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), realizado em Caxambu (MG).
O livro foi escrito na Alemanha, entre 2010 e 2011, e publicado em 2013. “Preocupei-me em fazer meus estudos de pós-doutoramento em Heidelberg, a cidade onde Weber morou e lecionou. Tive todas as condições para me dedicar integralmente à pesquisa, usufruindo de uma ampla biblioteca”, ressalta. Na obra, Sell se concentrou em explicar o que é racionalidade e o que Weber entende por processo de racionalização. “Notei que faltava discutir a sua racionalização, e foi isso que eu fiz”.
O autor se formou em Filosofia, na Fundação Educacional de Brusque. “Fiz o curso ainda ligado à Igreja Católica. Foi importante para mim porque a igreja sempre cultivou com muita seriedade os estudos filosóficos. Na época, eu pertencia a uma linha de pensamento que era a Teologia da Libertação, uma versão mais política de teologia. Isso fez com que eu quisesse pesquisar mais na área de Sociologia. Fiz então o mestrado e o doutorado em Sociologia Política aqui na UFSC”, afirma.
Sell acredita que ganhou o prêmio por ter realizado um trabalho de grande solidez. “Tive a preocupação de fazer uma revisão de todos os autores e pesquisadores que tratam da obra de Weber. Fiz um investimento muito grande em ler todas essas obras, para entender como ele é interpretado. Além disso, li os três volumes de sua Sociologia da Religião, obras que não existem em português.Também decidi fazer os estudos na cidade dele, Heidelberg, onde existe um grupo de pesquisadores que cultiva e aprofunda as suas obras”.
O professor tem como especialidade a teoria sociológica e coordena o grupo de teoria sociológica da Sociedade Brasileira de Sociologia e o grupo de teoria social da Anpocs. Sell considera Max Weber um teórico da globalização, o principal autor da geração formadora da Sociologia, que procurou comparar o mundo europeu com outras civilizações, antecipando, assim, as preocupações da Sociologia contemporânea – o que faz os alunos de hoje se interessarem pelo estudioso. “Weber tem uma amplitude de pensamento muito grande. Ele discute vários temas centrais como política, ciência, religião, direito e capitalismo. É um autor muito valorizado e muito bem-recebido; isso só facilita o meu trabalho”, declara.
Max Weber e a racionalização da vida
As 312 páginas da obra premiada procuram, além de explicar a racionalização, esclarecer o conceito de racionalidade. “Weber acredita que existem basicamente três tipos de racionalidade: a ação social da sociedade moderna, a racionalidade material e formal e a racionalidade teórica e prática”, explica Sell. Com essas diferentes racionalidades, Weber tenta entender a sociedade moderna e como ela se distingue das outras civilizações.
“É a partir da religião que ele compara a sociedade moderna e ocidental com outras culturas – a chinesa (confucionismo e taoísmo) e a indiana (hinduísmo e budismo), incluindo o islamismo, até chegar às fontes religiosas do Ocidente (judaísmo e protestantismo). Ele procurou definir a especificidade da cultura ocidental, marcada, segundo ele, por uma forma específica de condução da vida: o racionalismo da dominação do mundo”.
Ana Carolina Fernandes/Estagiária de Jornalismo/DGC/UFSC
ana.fernandes@ufsc.br
Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/Diretoria-Geral de Comunicação/UFSC