Premiação internacional consagra carreira de pesquisador da UFSC

04/11/2014 18:47

“Este negócio de matemática é muito como música: você vê que o Michel Teló conseguiu um sucesso internacional, e a carreira dele toda ficou em evidência”, compara o pesquisador da UFSC, Clovis Caesar Gonzaga. E a Ai se Eu te Pego do artista foi a solução, em 1987, de um problema matemático que estava aberto e chamava a atenção da comunidade científica. Era um algoritmo para programação linear, com complexidade ainda mais baixa que o resultado criado pelo matemático indiano, Narendra Karmakar, dois anos antes, e patenteado pela gigante de telecomunicações AT&T. Foi o equivalente a quebrar um recorde mundial – e o resultado obtido por Gonzaga segue sem ser superado até hoje.

O mais recente reconhecimento veio em setembro, com o prêmio Khachiyan, entregue pelo Institute for Operations Research and Management Sciences (Informs), a maior sociedade do mundo em pesquisa operacional e otimização. A distinção é relativa ao trabalho de toda a carreira de Gonzaga; neste ano, a honraria foi concedida também ao professor Dimitri Bertsekas, do Instituto de Tecnologia de Massachussets. Além disso, Gonzaga também é detentor da Grande Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, membro da Academia Brasileira de Ciência, da World Academy of Sciences e reconhecido desde 2009 como Fellow da Sociedade de Matemática Industrial e Aplicada (Siam, localizada na Filadélfia, Pensilvânia).

Gonzaga atribui seu sucesso a trabalho, sorte e talento. “É parecido com esporte: uma questão de escolher a modalidade em que você melhor consegue explorar suas habilidades. E descobri cedo que tenho boa intuição geométrica e trabalho bem com problemas que envolvem geometria”, diz. Nascido em Lages em 1944, cresceu em Joinville e lembra que desde criança sonhava em ser cientista. No colégio, venceu um concurso da Fundição Tupy, que premiava o aluno com o melhor aproveitamento em Matemática, Fisica e Química durante todo o período do “científico”, equivalente ao ensino médio atual: sua média foi de 9,9. Assim, entrou direto no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para estudar Engenharia.

Depois, estudou e lecionou na UFRJ, e, já nos anos 1980, atuou como substituto na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ao longo da carreira, aproximou-se da área da otimização – o desenvolvimento de sistemas que permitem aproveitar recursos com maior eficiência e economia. Foi durante esse período que resolveu o algoritmo que lhe rendeu reconhecimento mundial. “Trabalhei como louco, dia e noite, por seis meses, sem parar; mas aí foi também uma questão de estar no lugar certo e na hora certa: se eu esperasse mais seis meses, outra pessoa teria resolvido antes”, avalia.

Em 1992, escreveu outro artigo, sobre Pontos Interiores, que também foi premiado e apontado como o artigo mais citado nos anos 1990 entre os escritos sobre Matemática por brasileiros; o trabalho tornou-se leitura fundamental para teóricos e praticantes da área. Voltou a Santa Catarina em 1995 e veio atuar na UFSC. Hoje aposentado, não leciona mais, mas segue dedicado à pesquisa. “Nunca parei. Continuo produzindo matemática o tempo todo”, diz. Boa parte dessa dedicação está nos trabalhos que orienta: já foram mais de 30 dissertações de mestrado e 15 teses de doutorado.

Hoje, vê na UFSC possibilidades muito maiores do que quando começou. “A Matemática brasileira é de alta qualidade, e faz-se Matemática de primeira linha na UFSC, pura e aplicada”, garante. Mas considera que, ainda assim, o jovem que quer ingressar neste campo deve estar pronto a superar dificuldades: “O normal é trabalhar como professor, que, infelizmente, ganha muito pouco; embora existam posições bem remuneradas para matemáticos aplicados. E o jovem que quer mesmo ser cientista não tem medo de profissão que paga pouco”, conclui .

Fábio Bianchini/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC
fabio.bianchini@ufsc.br

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