Livro de pesquisadores da UFSC defende a bicicleta como forma de humanizar espaços públicos

31/10/2025 13:37

Aquarela que ilustra o livro ” Cicloturismo: Experiências e Perspectivas”.

“E se a bicicleta fosse mais do que um meio de transporte? E se ela fosse uma forma de habitar o tempo? De refazer caminhos? De resistir aos mapas impostos pelo turismo de massa e pela lógica acelerada das cidades?” É com esses questionamentos que somos convidados à leitura do livro digital Cicloturismo: Experiências e Perspectivas, um dos resultados das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa BikeTour da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

A obra reúne reflexões, experiências e práticas de 16 autores, integrantes do BikeTour, que atuam como professores e pesquisadores na UFSC, nas universidades federais do Paraná, Rio de Janeiro e Paraíba, e em institutos de pesquisa nacionais e estrangeiros. A publicação foi organizada por Marcos Bosquetti, professor do Departamento de Ciências da Administração (CAD/CSE/UFSC) e líder do grupo, em conjunto com a pesquisadora Mariana Fernanda Mendes, vinculada à Vélo Québec, do Canadá, e a professora Andréa Porto Sales, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 

Compartilhando diversas iniciativas de sucesso no Brasil e no exterior, os textos discorrem sobre o cicloturismo e a ciclomobilidade (mobilidade por bicicleta) como ferramentas de humanização das cidades, ativismo, justiça ambiental, inclusão social e turismo sustentável. São exploradas as múltiplas dimensões do uso da bicicleta, com uma abordagem interdisciplinar, incluindo olhares de diversos campos de conhecimento, tais como geografia, sociologia, biologia, engenharia, turismo, comunicação, economia e gestão.

Imagem que ilustra o livro ” Cicloturismo: Experiências e Perspectivas”.

O Prefácio apresenta, em um texto descontraído, uma “autobiografia” da bicicleta:

“Devo meu nascimento a um período de crise agrícola que ocasionou a escassez de alimentos para animais. É verdade! Naquele cenário, era preciso criar uma alternativa mais eficiente ao cavalo. Então, a primeira vez que apareci no cenário mundial foi em 1817, na Alemanha, quando o barão Karl von Drais me inventou como um veículo que ele chamou de  ‘máquina de correr’. Naquela época, minha aparência era outra. Eu diria que eu era uma espécie de precursora de mim mesma, a bicicleta, sem pedais, onde meu condutor me impulsionava com os pés no chão. O mais engraçado é que hoje são usadas réplicas desse meu tempo para ambientar/acostumar as crianças, desde bem pequenas, a se aproximarem de mim sob o nome de ‘bicicleta de equilíbrio’.”

O conteúdo do livro inclui 11 capítulos que exploram, entre outros temas, políticas de transformação urbana, cicloturismo urbano e em Unidades de Conservação, cicloviagens,, cicloativismo e estudo de casos no Pará, Ceará, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, Colômbia, França, Suécia e Dinamarca. “Do litoral às montanhas, do asfalto às palafitas, da ciclovia às trilhas, este livro pedala por experiências e reflexões que reinventam o turismo e a mobilidade urbana. A sua diagramação e dezenas de fotografias e ilustrações em aquarela proporcionam uma harmoniosa experiência visual que respira junto ao texto”, afirma Marcos Bosquetti.

Para o professor, a obra preenche uma lacuna na literatura brasileira, introduzindo o tema de forma abrangente e rica em iniciativas no Brasil e no exterior que ilustram o potencial da bicicleta: “No cenário internacional, o cicloturismo já se consolidou como uma atividade econômica estratégica, promovida por políticas públicas integradas que articulam mobilidade sustentável, coesão territorial e desenvolvimento turístico. No Brasil, estamos dando as primeiras pedaladas tanto na pesquisa como no desenvolvimento da ciclomobilidade, uma vez que o país tem enorme potencial para esta forma de mobilidade urbana e de turismo sustentável.”

Imagem que ilustra o livro ” Cicloturismo: Experiências e Perspectivas”.

Uma alternativa ao automóvel

Segundo os autores, a bicicleta vem se destacando mundialmente como uma alternativa sustentável ao modelo dominante de mobilidade e de turismo centrado no automóvel e seus impactos negativos na sociedade e no meio ambiente. Em 2018, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 3 de junho como o Dia Mundial da Bicicleta, reconhecendo a sua versatilidade e potencial contribuição para o alcance de 11 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda Global 2030. No Brasil também é comemorado, em 19 de Agosto, o Dia Nacional do Ciclista, para celebrar o movimento cicloativista no país.

“No cicloturismo, o ritmo contemplativo da bicicleta proporciona ao turista a oportunidade de apreciar tanto a jornada quanto o destino, promovendo maior conexão com o território e a comunidade local. O cicloturismo é praticado em contextos urbanos, rurais e junto à natureza. Ele está alinhado com dois movimentos globais: o slow city, que visa desacelerar o estilo de vida corrido nas cidades e humanizar os espaços públicos; e o slow tourism, um esforço para reduzir o ritmo frenético do turismo de massa, um tipo de antídoto ao turismo rápido, ostensivo e predatório”, explica Marcos.

Alguns dos artigos contam experiências de viagens com bicicleta.

Para os pesquisadores, a bicicleta começa a ser reconhecida como um componente estratégico para o desenvolvimento de cidades sustentáveis e inteligentes por proporcionar mobilidade urbana saudável e de baixo carbono. “A crise da Covid-19 e o colapso do modelo tradicional de mobilidade centrado no automóvel impulsionaram significativamente a ciclomobilidade, resultando na rápida expansão da infraestrutura cicloviária e no aumento expressivo do uso da bicicleta em metrópoles ao redor do mundo. Além disso, a popularização das bicicletas elétricas com pedal assistido (e-bike) e a crescente disponibilidade dos sistemas de compartilhamento de bicicletas tem democratizado o seu uso, tornando esta forma de mobilidade ativa acessível para pessoas de diferentes idades, condições físicas e níveis de experiência. Nesse sentido, a bicicleta também é uma catalisadora na transição para cidades mais humanas e inclusivas”, defendem os autores.

O livro é disponibilizado gratuitamente na página do grupo Biketour. Acesse aqui.

Mais informações pelo e-mail marcos.bosquetti@ufsc.br

Daniela Caniçali | daniela.canicali@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC

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