Laudo da UFSC indica que espuma na Lagoa é causada principalmente por poluição
Um laudo assinado por cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) indica que espumas identificadas na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, são causadas principalmente por algas potencialmente nocivas, formadas em ambientes com a presença de poluição. Essas algas são de origem marinha ou de sedimentos ressuspendidos no fundo – areia e lama remexidas e misturadas na água novamente.
Em análise in vivo de seis amostras coletadas entre segunda e quarta-feira, 13 e 15 de outubro, os pesquisadores destacaram o impacto da ação humana e descartaram um efeito natural do ecossistema. O grupo identificou, nas amostras coletadas, as algas Raphidophyceae, que formam as chamadas marés marrons.
Elas representam risco de mortalidade de organismos aquáticos, como peixes e crustáceos, indicam pesquisadores. Isso ocorre devido à liberação de um muco pegajoso que bloqueia as brânquias – sistema de respiração dos animais – e que eventualmente produz também toxinas, conforme os especialistas. Há risco de intoxicação humana se a produção de toxinas for comprovada.
O laudo, assinado pelos pesquisadores Leonardo Rörig, Paulo Horta, José Bonomi, Alessandra Fonseca e Paulo Pagliosa, indica a urgência da remoção emergencial da espuma e adoção de medidas também emergenciais de descontaminação e de remediação da poluição na Lagoa.
“Os fatores causais mais prováveis são o excesso de nutrientes resultante de excesso de esgotos e ressuspensão de matéria orgânica acumulada no fundo, e a ativação de cistos de dormência das algas, também por processos de ressuspensão de sedimentos”, indicam os cientistas, no texto.

No topo uma microalga Rafidofícea e, abaixo, duas células depois de “explodidas”, liberando muco. Foto: Divulgação/UFSC
Além do esgoto, a ressuspensão de sedimentos também é uma das possíveis causas apontadas pela ciência para a proliferação das algas tóxicas. Este fenômeno pode estar associado a intervenções humanas que causam perturbação no fundo da lagoa, como as dragagens.
“Intervenções como dragagens e outras obras que causam ressuspensão de sedimentos, quando não acompanhadas por avaliações prévias (quanto a presença de poluentes e cistos de espécies potencialmente nocivas), são potencializadoras de eventos súbitos de floração, por ressuspenderem e ativarem grandes populações de cistos possivelmente presentes nesses sedimentos”.
Metodologia
- A equipe fez a coleta do material em diferentes pontos da Lagoa da Conceição, em três dias diferentes.
- Eles utilizaram a própria espuma densa, além de água da superfície e subsuperfície.
- Uma rede especial foi utilizada para coletar os microorganismos minúsculos.
- As amostras foram mantidas in vivo, sem conservantes, já que os organismos identificados são sensíveis e podem liberar mucos e toxinas que dificultam sua identificação.
- Os cientistas usaram um microscópio óptico potente (Olympus BX51) para enxergar os organismos em grandes aumentos (100x, 200x e 400x).
- A análise foi feita imediatamente após a coleta, enquanto os microrganismos ainda estavam vivos.
- Os cientistas também tiraram fotos para documentar e usaram um software para medir o tamanho dos organismos (verificações morfométricas).
- A equipe também checou variáveis da água, como p.H e salinidade
Recomendações
- Contenção e Remoção emergencial da espuma.
- Adoção emergencial de medidas de descontaminação do corpo lagunar.
- Implementação de coleta e tratamento terciário de efluentes domésticos das áreas que influenciam as bacias hidrográficas que drenam para a Laguna.
- Interromper o bombeamento de efluentes da ETE das Rendeiras para as Dunas da Joaquina.
- Implementar alternativas com Soluções Baseadas na Natureza para o destino final dos efluentes da ETE das Rendeiras.
- Implementar um sistema de monitoramento de longo prazo sobre a qualidade de água, bioindicadores e presença de cistos de algas nocivas nos sedimentos, com participação consorciada de universidades e instituições de gestão ambiental.
Leia o laudo analítico.