Inédito em SC, UFSC recebe congresso internacional em saúde e bioética da Unesco; inscrições estão abertas
O geneticista Víctor Penchaszadeh, que ajudou a identificar crianças roubadas durante a ditadura da Argentina e se tornou referência por seu trabalho, é um dos convidados do X Congresso Internacional da Redbioética Unesco, que ocorre entre 4 e 7 de novembro na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diversos especialistas nacionais e internacionais em saúde e bioética estarão no evento, organizado pela Cátedra Unesco de Bioética e Saúde Coletiva, coordenada pelo professor Fernando Hellmann, e pela Redbioética Unesco, com apoio do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFSC.
A atividade, que ocorre pela primeira vez em Santa Catarina, será um espaço de encontro para a pluralidade de saberes, tendo como eixo central os 20 anos da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (DUBDH), destacando a relevância e os desafios contemporâneos para sua efetiva implementação.
Sediado de forma híbrida no Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, na UFSC, em Florianópolis, o congresso tem inscrições gratuitas, disponíveis no site do evento enquanto houver vagas. As atividades do congresso ocorrem das 8h30 às 19h30. Participantes presenciais e remotos inscritos terão direito a certificado de 25 horas.
A programação do evento contará com mesas e conferências com a presença de palestrantes internacionalmente reconhecidos, como a pesquisadora Cida Bento, apontada pela revista The Economist como uma das maiores referências globais na luta contra desigualdades raciais e de gênero; e Dafna Feinholz, diretora da Seção de Bioética da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e referência mundial em ética da ciência e tecnologia, inteligência artificial e robótica.
Segundo os organizadores, ao ser realizado presencialmente na UFSC, com acesso gratuito e transmissão on-line, o congresso reafirma o compromisso da Redbioética Unesco em democratizar o conhecimento. “Entendemos que a bioética não deve se restringir a espaços acadêmicos ou institucionais; ao contrário, deve envolver toda a sociedade, estimulando o aprendizado mútuo e a construção coletiva de alternativas éticas para um futuro mais justo, inclusivo e solidário”, afirma a comissão organizadora no site do X Congresso Internacional da Redbioética Unesco.
Confira alguns dos palestrantes convidados
Ana Stela Haddad
Ana Estela Haddad é cirurgiã-dentista, professora e gestora pública brasileira. Em 1988, concluiu sua Graduação na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP), onde também realizou mestrado (1997) e doutorado (2001) em Ciências Odontológicas, além de obter o título de livre-docente (2011). Em 2003, passou a integrar o corpo docente da FO/USP, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo de professora titular do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria.
Atuou como assessora (2003–2005) no Ministério da Educação (MEC), participando da criação do Programa Universidade para Todos (Prouni) e da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS). No Ministério da Saúde, esteve vinculada à Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, como Diretora de Gestão da Educação na Saúde (2005–2010).
Em 2021, seu nome figurou na lista dos 10.000 cientistas mais relevantes da América Latina (Latin America Top 10.000 Scientists), segundo a classificação do AD Scientific Index. Desde janeiro de 2023, comanda a Secretaria de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde.
Cida Bento
Doutora em Psicologia pela USP, Cida Bento é conselheira e uma das fundadoras do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert). Foi professora visitante na Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Atua no campo da diversidade em recursos humanos há quase 30 anos, tendo escrito livros sobre o tema na década de 90 e, desde então, desenvolve trabalhos em empresas no Brasil.
Em 2015, foi considerada uma das 50 profissionais de diversidade mais influentes no mundo pela revista The Economist.
Dafna Feinholz (França)
Referência mundial em bioética e tecnologia, Dafna Feinholz possui um doutorado em Psicologia da Pesquisa pela Universidad Iberoamericana do México e mestrado em Bioética pela Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Foi chefe do Departamento de Epidemiologia Reprodutiva no Instituto Nacional de Perinatologia e diretora de Pesquisa e Planejamento do Programa Mulheres e Saúde, no Ministério da Saúde do México. Ainda no país, ocupou os cargos de Coordenadora Acadêmica da Comissão Nacional do Genoma Humano no Ministério da Saúde e Diretora Executiva da Comissão Nacional de Bioética.
Desde setembro de 2009, é a chefe da Seção de Bioética e Ética da Ciência, dentro do Setor de Ciências Sociais e Humanas da Unesco. É a fundadora do Fórum Latino-Americano de Comitês de Ética em Pesquisa em Saúde (Flaceis), onde ocupou o cargo de presidente entre 2000 e 2006. Foi representante do México nas reuniões do Comitê Intergovernamental de Bioética para discutir a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da Unesco.
Víctor Penchaszadeh (Argentina)
Víctor Penchaszadeh é médico geneticista, bioeticista e sanitarista. Foi ex-presidente da Redbioética Unesco no período de 2010 a 2016. É diretor da Carreira de Especialização em Genética, Direitos Humanos e Sociedade na Universidade Nacional de Tres de Febrero (UNTREF) e Membro do Conselho Consultivo do Banco Nacional de Dados Genéticos, na Argentina.
A sua trajetória de vida é marcada pela dedicação aos direitos humanos e, sobretudo, ao tema da justiça em saúde. Durante a década de 1970, o médico foi obrigado a se exilar na Venezuela por conta da perseguição sofrida pela ditadura argentina implantada pelo tenente-general Jorge Rafael Videla. Penchaszadeh foi ativista político e teve um papel de destaque na luta contra o regime de exceção.
Unindo atuação política e seus conhecimentos em genética, Penchaszadeh contribuiu no desenvolvimento de metodologia voltada à identificação de crianças sequestradas pelo regime militar argentino, e dadas à adoção ilegal aos “amigos” do sistema, o Índice de abuelidad. A prática foi denunciada internacionalmente pelas “abuelas” das crianças, organização conhecida como Avós da Praça de Maio.