UFSC lidera projeto inovador para atualização de dados hídricos de Santa Catarina

15/08/2025 13:14

Grupo de pesquisadores que atua no Projeto SIREx-SC, coordenado pela equipe do Laboratório de Hidrologia da UFSC. Foto: Divulgação/LabHidro/UFSC

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está na vanguarda de um projeto que vai qualificar os dados utilizados na gestão dos recursos hídricos do estado: o Projeto SIREx-SC: Sistema Integrado de Regionalização de Vazões e Extremos Hidrológicos de Santa Catarina. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), a iniciativa, que teve início em março de 2025 e deve se estender até o final de 2026, tem como principal objetivo desenvolver um sistema integrado com ferramentas para regionalizar as vazões de referência, estimar extremos hidrológicos e impactos das mudanças climáticas, aprimorar o Índice de Segurança Hídrica e integrar bancos de dados hidroclimáticos e ambientais.

O coordenador do projeto, professor Pedro Luiz Borges Chaffe, do Laboratório de Hidrologia (LabHidro) da UFSC, explica que a regionalização de vazão é fundamental para determinar a quantidade de água disponível em cada trecho de rio do estado. Isso é vital para que o estado possa conceder outorgas de uso da água a usuários como empresas de saneamento e agricultores. O objetivo é assegurar usos múltiplos da água e evitar conflitos, garantindo que o volume concedido não ultrapasse o limite disponível.

Atualmente, o estado enfrenta desafios significativos, como a falta de medições em vários trechos de rio utilizados. Além disso, a regionalização existente é baseada em dados antigos, que já não refletem a disponibilidade hídrica atual. Mudanças na cobertura e no uso do solo também podem ter mudado a disponibilidade de água em alguns trechos, bem como as mudanças climáticas. Nessa perspectiva, o professor Pedro Chaffe explica que o projeto SIREx visa superar esses problemas, pegando os dados de vazão dos pontos onde há medição e utilizando modelos computacionais para transpor esse conhecimento para todos os milhares de trechos de rio em Santa Catarina. A ideia é garantir o uso de forma sustentável, com o conhecimento preciso sobre a quantidade de água disponível.

Dados e tecnologia a serviço da hidrologia

Para o projeto, os pesquisadores têm referência na base de dados nacional Camels BR, desenvolvida pelo LabHidro, que compila informações de vazão principalmente do banco de dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), além de mais de 50 outras fontes mundiais. Uma das entregas do SIREx, nessa perspectiva, será a criação de uma base de dados ainda mais detalhada especificamente para Santa Catarina.

Além da regionalização de vazão para outorgas, o projeto também fará estimativas de vazões máximas e mínimas para eventos extremos, analisando como essas vazões mudaram nas últimas décadas. Outro resultado deverá ser a adaptação do Índice de Segurança Hídrica da ANA para o estado – ferramenta de gestão que considera dimensões humana, ecossistêmica, econômica e climática da disponibilidade de água, identificando áreas mais propensas a problemas de falta ou excesso de água.

Para a regionalização, a equipe da UFSC se baseia em séries de dados de longo prazo fornecidas por órgãos governamentais. O trabalho dos bolsistas e pesquisadores foca no desenvolvimento de ferramentas computacionais para analisar e tratar esses dados, além de aprimorar o entendimento hidrológico para regionalizar melhor cada bacia.

O projeto está desenvolvendo novos métodos, incluindo o uso de ferramentas de Inteligência Artificial (IA), para refazer a regionalização, superando as limitações dos métodos antigos. Um dos primeiros produtos entregues ao estado foi a aplicação da regionalização antiga em uma base cartográfica muito mais detalhada, embora a atualização com dados recentes e novos métodos esteja em andamento.

Impactos das mudanças climáticas e prevenção de desastres

O projeto aborda diretamente os impactos das mudanças climáticas, que têm agravado a questão da estiagem prolongada em algumas regiões. Pesquisas recentes do laboratório da UFSC mostram que, em Santa Catarina, a vazão mínima (secas) está diminuindo na região do Meio-Oeste ao Oeste, enquanto no Meio-Oeste também há um aumento das vazões máximas, um fenômeno chamado de “intensificação do ciclo”. Na região costeira, as vazões máximas e mínimas estão aumentando, elevando o risco de cheias.

Os resultados do projeto fornecerão subsídios importantes para políticas públicas de prevenção a cheias e administração de condições extremas de estiagem. Uma das entregas do projeto será uma análise de como a probabilidade de cheias específicas mudou nas últimas quatro décadas em todo o estado. Isso é crucial para que estruturas como barragens, projetadas com dados antigos, possam ser reavaliadas ou redimensionadas para considerar o risco atual.

Equipe interinstitucional e próximos passos

O Projeto SIREx é um esforço interinstitucional e conta com uma equipe de 16 integrantes, incluindo professores e pós-doutorandos da UFSC e da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), além de servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri-SC).

Ana Paula Lückman | ana.paula.luckman@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC

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