Pesquisa da UFSC indicará informações estatísticas sobre mudanças climáticas para a Petrobras

20/07/2023 15:00

Plataforma de petróleo, P-67, ancorada na Baía de Guanabara (Foto: Tania Rêgo/Agência Brasil)

Uma pesquisa dos laboratórios de Dinâmica dos Oceanos e de Oceanografia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina vai indicar dados sobre mudanças climáticas que poderão contribuir com as operações da Petrobras. Informações sobre variáveis como as temperaturas da camada superficial do oceano e a intensidade de correntes, obtidas a partir dos modelos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), serão reunidas em um software a ser desenvolvido por uma empresa de Balneário Camboriú. As atividades começaram em maio deste ano e devem durar pelo menos 30 meses. A equipe do estudo é coordenada pelo professor Antonio Fernando Harter Fetter Filho.

As análises serão focadas na Bacia de Santos, Campos e Espírito Santo, uma área estratégica pela existência de pré-sal, rochas de acúmulo de petróleo e gás. “Existe uma necessidade de se incorporar nos processos de decisão informações sobre mudanças climáticas. Em todas as instâncias, cada uma com necessidades específicas, é necessário se apropriar desses dados”, comenta o professor.

Ele exemplifica a importância desses dados usando a variável da intensidade da corrente marítima, que é influenciada pelas mudanças climáticas. Como a empresa opera com equipamentos no fundo do mar, saber como essas correntes podem influenciar é um dado essencial para manter a operação.

“Outra variável que é importante seria a temperatura da camada superficial do Oceano, porque eles utilizam a água do Oceano para resfriar vários equipamentos”, ilustra o professor. “Isso pode significar que, de acordo com os dados, eles percebam que precisam de águas mais profundas. Então tudo isso impacta a operação, por isso a importância das informações climáticas para se preparar para o futuro”.

As informações climáticas também são importantes para as seguradoras e para os órgãos financeiros que realizam financiamentos para a compra de equipamentos. A análise desses dados do IPCC pela equipe da UFSC servirá a diferentes frentes de trabalho. “Temos que entender quais são os clientes, que informações necessitam e de que forma devem ser apresentadas”. As estatísticas serão embaladas em um software. “Vamos ter diferentes maneiras de apresentar essa informação, dependendo da finalidade de uso”. O software será produzido pela empresa Appix.

Modelos fornecerão os dados, UFSC vai analisá-los

O software vai fazer a leitura dos dados lapidados pela equipe da UFSC, a partir dos modelos do IPCC, que fazem projeções científicas sobre as mudanças climáticas. De acordo com o professor, estes modelos servem para aperfeiçoar as previsões, já que há muitos dados disponíveis e isso aumenta a assertividade da ferramenta.

“Nós queremos saber como vai mudar a temperatura do ar, a velocidade do vento, como vai mudar a temperatura da água, velocidade da corrente, altura de onda, etc. O modelo já tem as previsões de todos esses números. Mas quando a gente está falando em clima, a gente está falando em décadas, em séculos”, contextualiza.

A UFSC já vinha debruçada sobre esses dados. A equipe do professor Fetter, por exemplo, fez uma análise de risco climático para o porto de Itapoá e de São Francisco do Sul, analisando como isso poderia afetar as operações portuárias. Os modelos também serviram para um estudo que projetou a análise de perda de habitat costeiro. “Já faz um tempo que a gente formou um grupo de pesquisa e vem atuando nessa área”.

Os modelos estatísticos, entretanto, costumam ter erros, por isso a busca pelo refinamento é importante. Para isso, a equipe atua de modo a aumentar a confiança na estimativa estatística. Além disso, há hipóteses que já são bem claras para a ciência “A gente sabe que a temperatura está aumentando, que as diferenças de temperatura entre a região tropical e Equatorial e as regiões polares também está. Isso vai gerar ventos mais fortes, um sistema mais dinâmico”. explica.

O professor também pontua que o aumento do calor vai acelerar o ciclo hidrológico, outra tendência mapeada pelos modelos climáticos. “O que a gente vai fazer é uma análise regional, com dados mais refinados”. As variáveis de interesse podem ser modificadas no decorrer da pesquisa, mas a temperatura do ar, da água e a velocidade das correntes, do vento, altura e direção de onda devem compor as previsões.

“O que vamos entregar é uma análise estatística, mostrando qual a tendência de mudança dessas variáveis ao longo do tempo. E mais importante do que a tendência de mudança, nesse caso, é a questão dos extremos – tempestades, ciclones que podem chegar na região”, comenta. A pesquisa terá dois anos e meio de duração. Além de impactar nas atividades da Petrobras, vai contribuir também com a formação científica e de recursos humanos na universidade.

Amanda Miranda, jornalista da Agecom/UFSC

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