Projeto desenvolvido na UFSC identifica e automatiza tarefas de alta exigência física em frigoríficos
Uma ação a favor da integridade física e mental do trabalhador. Assim pode ser definido o projeto Frigorobô, criado para oferecer uma sistemática integrada de avaliação de postos de trabalhos em frigoríficos. O trabalho é resultado de uma parceria firmada por meio do Edital de Inovação para a Indústria de 2017 entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a empresa Pollux, de inovação em tecnologia, e o Serviço Social da Indústria (Sesi/SC),
Sob a coordenação da professora Lizandra Garcia Lupi Vergara, o projeto contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu). “Como gestora do projeto junto à UFSC, a Fapeu teve papel fundamental para o andamento das ações propostas, que envolveram desde bolsas de pesquisa à aquisição de equipamentos, além de visitas técnicas às empresas parceiras do projeto”, destaca a coordenadora Lizandra Vergara.
Em conjunto com o Sesi/SC e com o Centro de Inovação Sesi em Tecnologia em Saúde, o Grupo Multidisciplinar de Ergonomia do Trabalho e Tecnologias Aplicadas (GMETTA) da UFSC prestou a assessoria técnica e especializada destinada a identificar os postos com maior potencial de automatização com robôs colaborativos visando à substituição de esforço físico e de atividades humanas repetitivas em frigoríficos catarinenses.
“A inserção de robôs colaborativos em tarefas com alta exigência física de trabalhadores apresenta potencial para beneficiar o país como um todo ao possibilitar a redução de custos sociais e assistenciais relacionados a acidentes e afastamentos por lesões, além de contribuir para a modernização de linhas produtivas e do setor industrial”, observa a professora Lizandra.
“Em termos de benefícios sociais tem-se a redução no esforço físico ou repetitivo, que passam a ser realizado por robôs, conduzindo os trabalhadores a assumir atividades mais nobres e de maior qualificação. Nesse mesmo sentido, ao inserir robôs nas linhas produtivas de frigoríficos, há possibilidade de realocar trabalhadores de ambientes insalubres (alta umidade e baixa temperatura) e de risco para ambientes mais saudáveis, que apresentam menores riscos e impacto à sua saúde e segurança no ambiente de trabalho”, explica Lizandra, que também é arquiteta e urbanista e engenheira de segurança do trabalho, com mestrado e doutorado na área de Ergonomia pela Engenharia de Produção da UFSC.
Com sede em Joinville, a Pollux foi a empresa proponente do projeto ao edital de inovação para a indústria e a responsável pelo desenvolvimento do sistema de concepção do robô colaborativo proposto, envolvendo o monitoramento remoto da operação do robô e a aplicação de melhores práticas da indústria 4.0. A execução foi feita por profissionais das áreas de engenharias, gestão e ergonomia do Centro de Inovação em Tecnologias para a Saúde, do Sesi/BH e integrantes do GMETTA – alunos de mestrado, de doutorado e funcionários do Laboratório de Ergonomia (Labergo) do Centro Tecnológico da UFSC.
O trabalho foi aprovado em edital de 2017 e desenvolvido nos anos de 2018 e 2019. Das oito atividades laborais analisadas in loco, quatro atenderam aos critérios pré-estabelecidos como passíveis da inserção do robô colaborativo: desenforme de presunto, pistola de ar para pele de salame, dobra da embalagem de presunto e corte de retirada dos defumados da vara. “A determinação dos postos de trabalho com real potencial de automatização compreendeu a análise minuciosa de critérios formados pela união de aspectos ergonômicos, técnicos e econômicos”, detalha a coordenadora.
Relevância
O setor de frigorífico é atualmente um dos mais relevantes para a economia brasileira. Por outro lado, apresenta condições reconhecidamente precárias com ambientes insalubres, de baixas temperaturas, e operações que envolvem altas taxas de repetição – motivo pelo qual foi elaborada a Norma Regulamentadora (NR) 36 sobre segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados, conhecida como NR dos Frigoríficos. “Este quadro evidencia a necessidade de otimização dos processos de produção, assim como a configuração de novos ambientes de trabalho para os frigoríficos, focados na segurança e bem-estar das pessoas”, destaca a professora Lizandra.
Entre as principais causas de afastados do trabalho no setor estão a LER (lesão por esforços repetitivos), os acidentes devidos à exposição constante a instrumentos perfurocortantes e a doenças no trato respiratório pelas condições de confinamento e baixas temperaturas. “O projeto identifica os postos de trabalho que apresentam maiores riscos à saúde do trabalhador e contribui diretamente para a redução da incidência de acidentes e lesões em frigoríficos, bem como a diminuição de doenças ocupacionais relacionadas a tarefas que exijam esforço físico excessivo e repetitivo”, explica a coordenadora.
*Esta reportagem integra a 12ª edição da Revista da Fapeu, que pode ser acessada na íntegra neste link