Professores da UFSC abordam gestão universitária em colóquio internacional
O 19º Colóquio Internacional de Gestão Universitária (CIGU) recebeu nos dias 25, 26 e 27 de novembro de 2019, no campus Florianópolis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pesquisadores, professores, gestores, alunos de pós-graduação e interessados, do Brasil e do exterior, para discutir temas relacionados à administração da educação superior.
O Centro de Cultura e Eventos concentrou a maior parte das exposições, em formato de painel, e dessas três professores e dirigentes da UFSC compartilharam suas experiências e projetos futuros para os quatro eixos de atuação da Universidade: ensino, pesquisa, extensão e gestão.
O secretário de Inovação, Alexandre Moraes Ramos, discorreu sobre “Sistemas de Informação e Inovações na Gestão Universitária” e afirmou que “Florianópolis é a segunda cidade com maior densidade tecnológica do Brasil, perdendo apenas para São Paulo, e isto já diz muito da nossa cultura e do nosso dia a dia”. Explicou a atuação da Secretaria e que a UFSC interage com várias empresas ao redor do mundo. “Dessas parceiras, públicas e privadas, a Universidade detém um vasto portfólio de patentes, ou melhor, ativos econômicos”. Esses negócios interligam a história da instituição com o desenvolvimento social e econômico do estado.
Lincoln Fernandes, à frente da Secretaria de Relações Internacionais (Sinter), mostrou de forma resumida o ciclo de Internacionalização na UFSC, outro tema em destaque no Colóquio e na gestão universitária moderna. Esse processo, já existente há bastante tempo, vem sendo adotado atualmente com uma visão mais estratégica, e o gestor acrescentou que o mesmo exige uma mudança de comportamento em toda a instituição. Para conceituá-lo, empregou o termo “abrangente” ou “transversal” – já que a internacionalização se encontra em toda a estrutura da Universidade. Prefere utilizar a palavra transversal, que foi incluída no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI 2015-2019). Elucidou como se constrói cada etapa deste ciclo, que são o compromisso institucional, a liderança administrativa (estrutura e pessoas), os resultados (aprendizagem e currículo), as práticas e políticas dos professores, a mobilidade (de alunos e de servidores) e as parcerias.
A pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas, Carla Cristina Dutra Búrigo, participou no último dia do painel “Novos Modelos e Tendências na Gestão Universitária”. Seu discurso se baseou na perspectiva do Governo Federal em instituir um modelo de universidade pública e como essas tendências podem impactar diretamente na gestão universitária. Enfatizou, que de forma geral, “não se faz gestão sem a interação com o sujeito. Esse eixo perpassa por dois campos de materialidade concreta, as diretrizes do que é a política pública e de como devemos conceber a universidade”.
Qual o papel da universidade? Para esta indagação, o entendimento da gestora é de que “a universidade é um espaço eminentemente formativo”. E esse processo, disse, passa pela preocupação com o sujeito que vai interagir com a sociedade. “Algumas prerrogativas que precisamos constituir: a curiosidade; a liberdade de expressão; e de ir além do instituído; e entender que a universidade atua como uma instituição social”.
O governo brasileiro, neste momento, prepara uma reforma administrativa que irá impactar diretamente na concepção de universidade e nesse processo será preciso compreender que o ensino, a pesquisa, a extensão e a gestão deverão ser mantidos no interior das instituições de ensino superior públicas, ressaltou a pró-reitora.
As universidades públicas, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), “são o berço da produção da ciência e tecnologia do nosso país, são essenciais à soberania nacional, ao desenvolvimento econômico e a formação das nossas futuras gerações, são, enfim, um verdadeiro patrimônio do povo brasileiro que precisa ser valorizado, cuidado e incentivado”. A essência dessa conceituação nos diz que “a universidade é uma instituição social e tem que deve estar alicerçada no processo de desenvolvimento da sociedade, como um espaço de produção de cultura e de conhecimento”, acrescentou Carla.
Observou que por ser caracterizada como uma instituição social, “a universidade reflete na estrutura e no funcionamento desta sociedade”; deve ser um espaço de conflito, de diálogo, “onde as diretrizes de uma política pública trazem as ações para o seu desenvolvimento, mas não pode ser algo atordoante no seu processo de gestão universitária”.
Em julho de 2019, o MEC lançou o “Future-se”, como uma concepção de empreendimento e de organização produtivista para a Educação. Para Carla, algumas diretrizes desta proposta inibem a universidade de ser uma instituição social, deixando também de ser uma autarquia e de adotar o Regime Jurídico Único (RJU).
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Na abertura do evento, a mesa estava composta essencialmente por gestores de instituições de ensino da América Latina. Do Brasil, o reitor da UFSC, Ubaldo Cesar Balthazar, os diretores do CSE, Irineu Manoel de Souza, e do Instituto de Pesquisas e Estudos em Administração Universitária (Inpeau), Pedro Antonio de Melo, e o reitor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Marcus Tomasi. Da Argentina, Paraguai, Peru e Equador, o vice-reitor da Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMdP), Daniel Antenucci, o membro da Asociación de Especialistas en Gestión de la Educación Superior (Aeges), Marcelo Héctor Efrón, o diretor da Universidad Tecnológica Nacional (UTN), Hugo René Gorgone, a coordenadora de Pós-Graduação da Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), María del Carmen Parrino, o reitor da Universidad Nacional de Caaguazú (UNCA), Angel Rodriguez, o reitor da Universidad Tecnológica Intercontinental (UTIC), Hugo Ferreira González, o vice-reitor de Pesquisa da Universidad Nacional de San Agustín de Arequipa (UNSA), Horacio Barreda Tamayo, o reitor da Universidad Técnica Particular de Loja (UTPL), Santiago Acosta.
Os 12 representantes tiveram a oportunidade de relatar um pouco de suas experiências e os desafios que permeiam a educação superior. Na ocasião, o professor e coordenador no Brasil do CIGU, Pedro Melo, agradeceu a todos e a todas que vieram de tão longe para, em conjunto, poder distribuir conhecimentos, evoluir nos processos de gestão e contribuir no desenvolvimento das instituições e na interligação entre pessoas e países envolvidos no Colóquio. O reitor Ubaldo também saudou os participantes e enfatizou que as discussões propostas pelo Colóquio não poderiam ser mais atuais. “Nos faz refletir sobre problemas que estamos vivenciando hoje nas universidades brasileiras, em especial, as públicas. O desenvolvimento sustentável, o desempenho acadêmico são alguns dos desafios que estão sendo colocados a todo momento e que são nossa razão de ser e de existir”.
O Colóquio tem contribuído para o despertar de uma nova visão sobre a universidade, com temáticas relacionadas à análise da realidade regional e do processo de mudanças estruturais contínuas ocorridas na última década na Educação superior em todo o mundo, e, especialmente, nas Américas. Realizado anualmente, as próximas edições do Colóquio ocorrerão na Argentina e no Paraguai.
Mais informações no site cigu2019.ufsc.br
Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC
Fotos: Karina Ferreira/Estagiária de Jornalismo/Agecom/UFSC