Reitor Ubaldo: ‘A memória do Cau permanece sempre viva em todos nós’

02/10/2018 17:45

Das três músicas que encantaram a abertura do “Ato em Homenagem à Memória do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo”, uma era a sua preferida – Blackbird, de Paul McCartney e John Lennon. O som do Madrigal e Orquestra de Câmara da UFSC, a paz do Templo Ecumênico e o respeito da comunidade se harmonizaram e tornaram este 2 de outubro uma data um pouco menos dolorosa.

O evento na manhã desta terça-feira foi um “reconhecimento da UFSC ao seu saudoso reitor a fim de que sua memória e seu legado permaneçam eternos, como o foi seu compromisso com a instituição”. Unidos neste propósito, amigos, familiares, alunos, professores e técnicos relembraram a biografia de Cancellier, desde os momentos da infância simples em Tubarão (SC), tão bem relatada pelo seu irmão mais velho, até o auge de sua carreira acadêmica, quando eleito reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, tão bem descrita pelos que o conheciam.

Marco Antônio Martins

Para Marco Antônio Martins, representante dos técnicos-administrativos em Educação, foi difícil se expressar neste um ano ou segurar a tristeza quando relembrou as qualidades do Cau amigo, filho, pai, irmão, professor e aluno, e por vê-lo em vida proporcionar o diálogo, a lealdade, a união, a tolerância, esta sua característica mais marcante. E agradeceu ao professor Ubaldo pela coragem em assumir na dificuldade e por ser mais que um sucessor legítimo de Cancellier. “Cada um tem uma história com Cau, mas a vida quis assim e ele quis assim e em um ato de coragem nos deixou”.

Isaac Kofi Medeiros, representante dos estudantes, na sequência falou da dificuldade diante da saudade do amigo, professor e líder. “Nesses tempos de profunda intolerância, de intransigência, que falta faz uma pessoa com o perfil do professor Cancellier, que sabia conversar e unir pessoas e opiniões divergentes. A própria democracia hoje sente falta de pessoas habilidosas como ele, um ser político no sentido pleno da palavra”.

Isaac Kofi Medeiros

Para Isaac, outro sentimento compete com a saudade. Refere-se o de “indignação com um inquérito de 800 páginas, que, um ano após, não foi capaz de comprovar em uma lauda sequer a prática de ato criminoso por parte do professor Cancellier. Indignação pela desproporcionalidade entre os fatos apurados e a decretação de uma prisão injusta. Indignação por acharmos que o absurdo humano e a violência institucional havia atingido seu limite, eles retornaram neste ano e tentaram censurar até nosso luto, através de uma ação policial vergonhosa movida contra os professores Ubaldo e Aureo, a pretexto de salvaguardar a honra de alguém que nunca pensou na honra do reitor Cancellier”.

José Isaac Pilati, diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), discursou em nome dos professores, e em um dos trechos disse que “Cancellier se move além da vida, além do bem e do mal; nosso dileto e inesquecível amigo, que foi chefe de departamento, diretor de centro, aluno, ativista, reitor, anfitrião das minorias, conciliador das maiorias insanas, eterno perdedor das causas impossíveis da humanidade. “E assim hoje lhe dizemos adeus pela última vez e passamos a contemplar do alto a sua luz cidadã. Uma luz serena, imortal e maravilhosa”.

Os irmãos de Cancellier, Júlio e Acioli, recebem placa do reitor Ubaldo

A família de Cancellier recebeu do reitor Ubaldo e de toda a sua equipe de gestão uma placa com palavras ditas pelo próprio Cancellier, em 29 de setembro de 2017: “Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito – na Graduação, no Mestrado e no Doutorado – depois como docente, Chefe do departamento, Diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, como Reitor da UFSC, sempre exerci minha atividade tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância (…) A instituição, tenho certeza, é muito mais forte do que qualquer outro acontecimento.”

A última saudação do ato foi feita pelo reitor Ubaldo Cesar Balthazar, que preferiu lembrar das características do “Cau” e uma que destacou foi “a imensa capacidade de ouvir e de articular”. Ressaltou que o projeto de vida de Cancellier era a Universidade e, quando passou no concurso para professor em primeiro lugar, ficou impressionado com a sua determinação e vontade em logo começar. Falou do orgulho de ser reitor enquanto professor da UFSC, porém sente muito as circunstâncias que o levaram ao cargo, a perda de um grande amigo. “A memória do Cau permanece sempre viva em todos nós”, finalizou.

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Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

Fotos: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

 

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