Evento sobre meio ambiente enfatiza a educação e a mudança no modelo de desenvolvimento do país
O público compareceu na manhã e na tarde desta terça-feira, 29 de maio, no auditório da Reitoria da UFSC para aprender e discutir questões relacionadas ao meio-ambiente. O espaço lotado, mesmo com as dificuldades de locomoção provocadas pela crise do abastecimento em todo o país e a suspensão das aulas na Universidade, demonstrou a preocupação e a motivação das pessoas e das instituições em buscar soluções para temas cruciais ao país e ao mundo. O evento foi transmitido ao vivo pelo Facebook da UFSC.
Na programação do período vespertino, a primeira mesa-redonda da Semana do Meio Ambiente UFSC tratou ‘Mudanças climáticas e eventos extremos’, com os pesquisadores Santiago Vianna Cuadra, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Andrea Santos, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Carlos Eduardo Sales de Araújo, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
Os debates foram conduzidos pelo professor de Física da UFSC Reinaldo Hass. Para o mediador, assim como para os palestrantes, não foi possível evitar relacionar o tema ao contexto nacional vividos nos últimos dias. ‘Parece interessante, falar de meio ambiente diante desta situação. No Brasil se discute a questão da diminuição do preço do diesel e, ao mesmo tempo, na Europa já vem se noticiando que as companhias têm restringido a produção de carros a diesel devido aos altos índices de mortalidade da população. Em 50 cidades, somente da Alemanha, apresentaram neste ano presença de óxido nitroso acima do tolerável’, comentou Hass.
Seguindo o lema da semana “Para preservar é preciso conhecer”, Santiago, que é doutor em Meteorologia Agrícola, foi o primeiro a falar e apresentou as causas das mudanças climáticas, impactos e efeitos globais.
O pesquisador da Embrapa, em sua introdução, citou como preocupante as “técnicas associadas à emissão dos gases de efeito estufa, o que gera o aquecimento global. Explicou que dos vários impactos causados por essa situação, os mais evidentes são o degelo do Círculo Polar Ártico e as diversas medidas de temperatura ao longo do último século em escala global, regional e local”. Acrescentou que na temperatura média mundial houve uma elevação nas últimas décadas, e na América Latina já se verifica a ocorrência de dias e noites mais quentes. Dentre as consequências da continuidade dessa realidade, segundo os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), será um aumento bem acentuado de temperatura, acima de 7º até o final do século. Na análise de precipitação, o pesquisador alerta que “há, basicamente, um sinal de redução na região Central e um aumento na região Sul”. A concordância principal dos resultados no que se refere à temperatura, é que haverá o aumento na região central do Brasil, em torno de 6º, o que terá um impacto muito grande na Agricultura. Também esboçou a parte hídrica, excedente e déficit, e disse que “há atualmente em todo o país uma deficiência hídrica”, o que tende a extremos, períodos de secas e de muitas chuvas.
Na sequência a professora Andrea, que também é secretária-executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, iniciou a sua apresentação partindo do olhar geral para um mais regional. Dentre os seus apontamentos com base no relatório especial do Painel sobre impactos da mudança do clima na região costeira afirmou “que continua em ascensão a concentração dos gases de efeito estufa; o carbono é o principal gás em termos de concentração na atmosfera; e que essas emissões são produzidas nas cidades, principalmente pelo consumo de energia no setor de transportes”.
Para a docente, “a atual polêmica de certa forma é positiva, pois leva a reflexão de que tipo de modelo de desenvolvimento nós queremos. Infelizmente, o modelo atual, principalmente o transporte de carga e de passageiros, é muito voltado para a matriz fóssil”. Argumentou que o setor rodoviário precisa, de fato, mais ferrovias, diversificação dos modais de transporte e combustível renovável. Isso tudo tem relação com a crise atual”.
O oceanógrafo e professor Carlos Eduardo fez a última exposição da mesa-redonda e enfatizou o trabalho de extensão da Epagri/Ciram, do qual faz parte. Para ele “educação é a chave de tudo e prepara as pessoas para enfrentar as ameaças das mudanças climáticas”, pois “o clima da terra é um fator muito importante, porque modula a natureza, as paisagens, toda a biodiversidade”.
Em vários momentos, interagiu com o público. Falou das conceituações básicas sobre o que são desastres naturais e por que ocorrem. Disse que os mesmos somente acontecem quando os perigos ou as ameaças (fatores externos) encontram um sistema vulnerável (fator intrínseco). Como a quantidade desses eventos tem aumentado significativamente, é preciso se informar da origem e de que forma cada pessoa contribui, ou seja, em que proporção se dá a interferência humana. Há registro da influência indireta do homem há mais de 4 mil anos, na plantação de arroz na Ásia.
Pediu ao público que refletisse: “Se tivéssemos educação igual para todos, como diz a Constituição, distribuição de renda, será que o desastre natural seria culpa do próprio clima ou ainda do homem”. Para o aumento do aquecimento do clima, os dados apontam para o crescimento da população e apropriação de áreas que não deveriam ser ocupadas. Segundo o pesquisador é “um problema que poderia ser contornado com obras de engenharia, mas é preciso informação, indicadores, dados, e principalmente monitoramento do meio ambiente, o que, infelizmente, o país ainda não dá muita importância”. Carlos também demonstrou os dados dos prejuízos sociais e econômicos para o país que os desastres naturais ocasionam.
No final da mesa, foi aberto o espaço para perguntas do público e sorteio de livros da Editora da UFSC para os participantes. As mesas-redondas seguintes trataram dos temas ‘Inovações tecnológicas verdes’ e ‘Saneamento básico’.
A Semana do Meio Ambiente UFSC 2018, prevista para ser realizada de 28 de maio a 5 de junho, teve a programação alterada devido às consequências do movimento de paralisação dos caminhoneiros. Apenas as mesas-redondas desta terça-feira foram mantidas.
As oficinas, visitas técnicas, minipalestras e feira de adoção serão transferidas em cronograma a ser definido pela Coordenadoria de Gestão Ambiental.
Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC
Fotos: Henrique Almeida/Agecom/UFSC