Pesquisadores monitoram qualidade do ar no campus de Florianópolis

04/05/2015 09:30

O ar respirado no campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no bairro Trindade, em Florianópolis, é de boa qualidade, segundo a legislação nacional em vigor estabelecida há 25 anos, mas ultrapassa os parâmetros recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS): essa é a conclusão de uma pesquisa pioneira desenvolvida pelo Laboratório de Controle da Qualidade do Ar (LCQAr) do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) da Universidade. O estudo – que será ampliado no início de 2016 – é o primeiro monitoramento de longo prazo da qualidade do ar na cidade de Florianópolis, por meio de amostragens do poluente atmosférico MP10.

A análise inicial resultou no trabalho de conclusão de curso “Avaliação da relação entre parâmetros meteorológicos e concentrações de material particulado inalável (MP10) no campus da UFSC”, do estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental, Lucas Vincent Lopes de Barros.  A orientação coube  ao professor Henrique de Melo Lisboa e ao pesquisador Marlon Brancher.

O MP10, que possui diâmetro aerodinâmico menor que 10 micrômetros (μg), pode ser absorvido pelos alvéolos pulmonares e está associado a um grande número de problemas de saúde. Sua concentração é um indicativo da qualidade do ar numa determinada região.

Filtro do Amostrador de Grande Volume é recolhido. Foto: Tamiris Moraes (Estagiária de Fotografia/Agecom/DGC/UFSC).

Filtro do Amostrador de Grande Volume é recolhido. Foto: Tamiris Moraes (Estagiária de Fotografia/Agecom/DGC/UFSC).

De 11 de agosto de 2011 a 23 de fevereiro de 2014, 134 amostragens foram realizadas. No período, a maior concentração diária registrada para o MP10 foi de 87 micrômetros por metro cúbico (μg/m3), abaixo do padrão nacional diário (150 μg/m3). Se a recomendação da OMS e o padrão europeu (50 μg/m3) forem levados em consideração, o valor está acima do estabelecido. “Este valor foi observado no início do monitoramento, correspondendo à quarta amostragem e a um dos valores extremos da série de concentrações”, explica o coorientador da pesquisa, Marlon Brancher.

A legislação europeia e a OMS permitem que o valor da concentração diária ultrapasse o padrão em até 35 ocasiões durante um ano. Para o campus da UFSC, a concentração de 24 horas de MP10 ultrapassou esse padrão em oito ocasiões durante a pesquisa: uma registrada em 2011; uma, em 2012; e seis, em 2013.

A resolução nº 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu, em 1990, o valor de 50 μg/m3 como média aritmética anual máxima de MP10 em suspensão no ar. Em 2012 e 2013, os dois anos com o levantamento completo, o limite não foi ultrapassado – bem como o padrão europeu, igual a 40 μg/m3.

Entretanto, a média anual superou o valor de referência recomendado pela OMS, 20 μg/m3, em todos os anos do monitoramento, com destaque para 2013, 26,13 μg/m3. “Vale lembrar que o valor da OMS é igual ao padrão final que entrará em vigor no estado de São Paulo”, afirma Brancher. “Ainda assim, as legislações internacionais citadas são permissíveis até certo limite de episódios agudos de poluição do ar. Portanto, pode-se considerar que Florianópolis apresenta qualidade do ar satisfatória, ao menos no que concerne a concentrações de MP10.”

 

Impacto

O pesquisador afirma que a legislação nacional está defasada, e não há monitoramento da qualidade do ar em Santa Catarina. “A responsabilidade é do governo estadual, mas não é realizada por quem deveria. O que acontece são trabalhos pontuais de avaliação de impacto de vizinhança, realizados geralmente por obras de médio e grande porte, que medem a qualidade do ar antes e depois do estabelecimento do empreendimento. Esses estudos, realizados em uma ou duas semanas, servem apenas para aquele trabalho. Monitoramentos de curto prazo são sujeitos a diversas influências meteorológicas e, geralmente, representam a qualidade do ar de um determinado local somente para os dias de realização das amostragens.” Segundo Brancher, “a poluição do ar, especialmente pelas partículas inaláveis (MP10), está fortemente associada a problemas de saúde humana, mais especificamente àqueles vinculados aos sistemas cardiovascular e respiratório, e as pessoas não dão a devida atenção”.

 

Coletas

Um Amostrador de Grande Volume (AGV) com cabeça de separação para partículas menores do que 10 μm (AGV- MP10), instalado no terraço do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS/UFSC), a 15 metros do solo, foi utilizado na coleta do material.

O estudo continua com outro AGV, alocado na Biblioteca Universitária, vencendo uma limitação do estudo: segundo o critério da norma 13.412/1995 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a entrada do amostrador deve ficar de dois sete metros do solo, mas não foi seguida por questões de segurança e disponibilidade de energia elétrica.

Diferencial de pressão é registrada antes e depois da coleta. Foto: Tamiris Moraes (Estagiária de Fotografia/Agecom/DGC/UFSC)

Diferencial de pressão é registrada antes e depois da coleta. Foto: Tamiris Moraes (Estagiária de Fotografia/Agecom/DGC/UFSC)

As amostras serão colhidas nos mesmos dias, e poderão mostrar diferenças devido à localização do equipamento. “É provável que o AGV da Biblioteca, por estar perto da rótula da Trindade com grande circulação de veículos, aponte maior concentração de MP10. Mas só saberemos se os resultados apontam significância estatística após análise dos dados”, afirma Brancher. O novo trabalho incluirá amostragens completas relativas aos anos de 2014 e 2015 e deve ser publicado no início de 2016.

A estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental, Cássia Scapini, que integra a equipe do LCQAr como voluntária, instala e coleta o filtro. “Nós rodamos por 24 horas e pesamos a diferença de massa no Laboratório Integrado de Meio Ambiente.” Além da massa de MP10 retida nos filtros, Cássia colhe os dados de diferencial de pressão antes e após as coletas para para análise posterior. “Os dados meteorológicos necessários para os cálculos das concentrações são gentilmente cedidos pelo Lepten (Laboratórios de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia)”, relata Brancher.

As condições atmosféricas também afetam o resultado das amostragens – as maiores concentrações foram observadas durante períodos frios, especialmente no inverno, quando ocorreram as temperaturas mais baixas e as maiores pressões atmosféricas médias. “Quando o clima está seco, a concentração do MP10 aumenta; no tempo úmido, especialmente com precipitações, as partículas são lavadas da atmosfera por conta do fenômeno de deposição úmida.”

Os pesquisadores esperavam as cinzas expelidas no dia 22 de abril pelo vulcão Calbuco, no Chile, “mas as nuvens estão em elevadas altitudes e não devem tocar o solo”, diz Brancher.

Mais informações pelo telefone (48) 3721-4993 e na página do LCQAr na internet.

 

Caetano Machado/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC
caetano.machado@ufsc.br

Revisão: Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC

Fotos: Tamiris Moraes/Estagiária de Fotografia/Agecom/DGC/UFSC)

Tags: Engenharia Sanitária e AmbientalLaboratório de Controle da Qualidade do ArLCQArMP10UFSC