EdUFSC ajuda a difundir no Brasil ícone da literatura portuguesa
A obra da portuguesa Maria Gabriela Llansol está consagrada na Europa, mas, mesmo estudada na academia, ainda é pouco divulgada e conhecida no Brasil. A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) ajuda a mudar essa realidade com a publicação de Partilha do incomum- Leituras de Maria Gabriela Llansol, organizada pela editora e pesquisadora Maria Carolina Fenati.
São 15 artigos de especialistas que analisam a fascinante literatura produzida, compulsivamente, pela autora de clássicos como O livro das comunidades, A restante vida e a trilogia Geografia de rebeldes. “Lancei-me na dianteira de mim mesma”, antecipou Llansol.
Os críticos, lendo nas entrelinhas, tentam decifrar a rica e diversificada obra a partir dos textos e fragmentos inéditos do espólio da escritora. Em 2011 foram publicados três diários no Brasil: Um falcão no punho, Finita e Inquérito às quatro confidências. E, simultaneamente ao livro da EdUFSC, foi lançado no Rio de Janeiro Um beijo dado mais tarde. “As palavras leva-as o vento”, previu.
A escritura de Llansol, frisa a organizadora Maria Carolina Fenati, compõe um texto fragmentário feito de novo e de desordem. “O pensamento incessante sobre a difícil tarefa de escrever – e de ler – atravessa as páginas pelas quais esse texto se dissemina, e nelas se vislumbra a afirmação frágil do que talvez seja a única responsabilidade de quem escreve: não responder ao que já está constituído, mas ir mais além, ser um inventor de começos”. Llansol receitou que “o começo de um livro é precioso”.
Partilha do incomum está organizado em três partes. Em Leituras são pensadas questões como tradição e memória, poesia e jogo, figura e metamorfose, tempo, biografia, comunidade e desprendimento. A parte Diários, outra vez oferece textos que circularam na época da publicação dos diários. Já a terceira parte é composta por um ensaio de Maria Carolina Fenati e de imagens, fotos e fragmentos inéditos retirados do espólio da escritora (cadernos, manuscritos, folhas avulsas, agendas e blocos preenchidos cotidianamente). “Tu dás-me o ouvido, eu dou-te o murmúrio”, pedia a escritora aos leitores em 1980. “Nos diários de Llansol, a força do inatural repete-se entre leitura e escrita”, assinala a organizadora.
Iniciados em novembro de 1974, os diários continuaram até 2006, somando cerca de 17 mil páginas. Mas, conforme revela Maria Carolina Fenati, Llansol deixou outros 78 cadernos, escritos entre 1970 e 2008, constituindo mais de cinco mil páginas. Escrever para Maria Gabriela Llansol, que faleceu em 2008, era uma obsessão. Seus diários, na avaliação dos críticos, possuem “valor inigualável em experiência de vida”. Em 1979 ela confidenciou: “lavar-se com as palavras que se escreve foi o que ficou como resíduo do corrente dia”. Tanto a escritora quanto seus familiares queriam a publicação dos diários. “Se desejo ser reconhecida como escritora, não é por soberba. É para que outros possam testemunhar que escrever é a fonte do meu prazer”, adiantou no diário de 4 de março de 1972 em O livro das comunidades.
O crítico Eduardo Prado Coelho não deixa dúvidas sobre a importância da obra em pauta. Fazendo coro com os demais autores, afirma que Maria Gabriela Llansol “é hoje um dos nomes centrais da literatura portuguesa contemporânea”. Pensa que seus livros “deveriam ser divulgados, comentados, traduzidos para outras línguas, e que sua experiência de vida, visão e escrita é uma das mais importantes e invulgares de toda cultura portuguesa do nosso tempo”. A EdUFSC entendeu o recado e prestou esse favor aos pesquisadores e aos leitores brasileiros.
Llansol nasceu em Lisboa em 1931 e publicou seu primeiro livro, Os pregos na erva, em 1962. Escreveu 26 livros. Lida em várias partes do mundo, a cada dia ganha mais a atenção da academia, consagrando-se como ícone da literatura portuguesa.
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Moacir Loth /Jornalista da Agecom/UFSC
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